Beatriz Batarda tinha encenado em 2011 “Uma Bizarra Salada”, peça a partir de textos de Karl Valentin (1882-1948) e inspirada no espetáculo “E não se pode exterminá-lo”, que o Teatro da Cornucópia levara a cena nos anos 1970, com encenação de Jorge Silva Melo (1948-2022).

Agora regressa com “Outra Bizarra Salada”, uma “revisitação” a pedido da diretora do Teatro São Luiz, que decidiu revisitar “espetáculos que considerou marcantes do tempo em que esteve à frente” daquele equipamento cultural, contou Beatriz Batarda à agência Lusa.

“Aceitámos revisitar porque é um privilégio e uma sorte voltar a trabalhar com a Orquestra Metropolitana de Lisboa e com o [maestro] Cesário Costa, e voltar a juntar o Bruno Nogueira aos textos do Karl Valentin. Desta vez não pudemos contar com a Luísa Cruz, ficámos com muita pena, mas em compensação temos a Rita Cabaço, que traz o seu olhar às personagens do Karl Valentin”, partilhou.

Mais de uma década depois da estreia de “Uma Bizarra Salada”, todos os que nela estiveram envolvidos estão “muito diferentes”.

“Não lhe quisemos chamar ‘Uma Bizarra Salada’, porque o espetáculo também está muito diferente. Retirei um texto, porque desta vez queria integrar uma peça musical de uma compositora portuguesa contemporânea, Anne Victorino d’Almeida. [Então], por uma questão de gestão, equilíbrio e ritmo abdiquei de um dos textos”, explicou.

Além disso, houve também “troca de interpretação: textos que a Luísa [Cruz] fazia desta vez faz o Bruno [Nogueira], e textos que fazia o Bruno desta vez faz a Rita [Cabaço]”. “Está tudo um bocadinho mais ‘assaladado’ desta vez”, disse.

Por outro lado, a ideia de começar o espetáculo “com um tema que integra os músicos [da orquestra] enquanto atores, o número da ‘Fanfarra’, introduz uma ideia mais de orquestra do século XIX”, manteve-se.

Beatriz Batarda contou que houve alterações na escrita da “Fanfarra” de Karl Valentin.

“Tentando ser fiéis à escrita do seu autor, com muita humildade ousámos mexer na ‘Fanfarra’, pela simples razão de que no original é um confronto entre um maestro, que é um homem envelhecido, instalado, agarrado ao poder, e uma orquestra jovem que não se identifica com aquele tipo de direção”, explicou.

Assim, “sendo fiel ao principio do Karl Valentin, que será fazer uma crítica social à sua contemporaneidade”, foi feita “uma adaptação mais reconhecível e identificável para o público de hoje e o maestro não é um maestro, é uma maestrina, assumindo a sua posição como líder mulher, e o confronto é mais sexista, numa luta de poder entre uma figura mais machista e desagradável, que será o Karl Valentin, e a dificuldade que é para esta maestrina conseguir levar o ensaio até ao fim, sistematicamente boicotado, numa marcação cerrada ao facto de se tratar de uma direção feminina”.

Beatriz Batarda encontra “muitos paralelismos com o que estava a acontecer na contemporaneidade do Karl Valentin” e com o que se passa hoje em dia e que tornou “absolutamente pertinente revisitar” “Uma Bizarra Salada”.

Beatriz Batarda recorda o alemão Karl Valentin como “um cómico que escreve e que faz uma crítica política e social bastante afilada à sua contemporaneidade, numa altura em que se tinha vivido uma grande crise económica, a Grande Depressão, uma pandemia, com a gripe espanhola, seguido de uma primeira Guerra Mundial”.

“Ele nasce nessas circunstâncias, numa altura em que se começam a sentir algumas movimentações pré-ascensão do nazismo. Há doze anos estávamos na ‘troika’, e o espetáculo de 2011 foi pensado nesse contexto. E agora, 12 anos depois, encontramo-nos num sítio cada vez mais parecido com o contexto do Karl Valentin, depois de uma pandemia global, numa recessão, a maior que já se conheceu desde a Grande Depressão, com a guerra no território europeu, e, mais silencioso ou não, estes movimentos mais nebulosos políticos e sociais também começam a fluir, anunciando uma transformação que esperamos que não seja tão trágica como aconteceu com a segunda Guerra Mundial”, afirmou.

“Outra Bizarra Salada” estará em cena no Teatro São Luiz entre hoje e 25 de fevereiro, com apresentações de quarta a sábado às 20h00 e aos domingos às 17h30.

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