Esta semana, o Ministério da Cultura português anunciou um festival de música para apoiar o setor. O TV Fest arrancou esta quinta-feira, 8 de abril, às 22h00, e os concertos poderão ser vistos na RTP Play ou no canal 444 (disponível em todos os operadores de televisão por cabo). "Todos os dias, à noite, haverá quatro novos artistas. O festival começa na quinta-feira e convidamos o Júlio Isidro para ser aquele que inaugura o festival", contou Graça Fonseca, ministra da Cultura, à RTP1.

Ricardo Ribeiro, Fernando Tordo, Mariza Liz e Rita Guerra são os primeiros artistas a atuar no TV Fest. O festival deverá decorrer durante um mês e a programação será escolhida pelos artistas que atuarem. Para a iniciativa, o ministério da Cultura disponibilizou um milhão de euros para pagar aos artistas e técnicos que vão participar na iniciativa.

O projeto do Ministério da Cultura não está a agradar a todos e as críticas têm-se multiplicado. Esta quarta-feira foi criada uma petição online onde é pedido o cancelamento do TV Fest - ao início da madrugada desta quinta-feira, a petição somava mais de seis mil assinaturas.

"A realização do TV Fest, no presente estado de emergência, constitui uma ameaça ao ecossistema cultural português que elimina curadores, diretores artísticos, músicos, técnicos e os demais, operando através de um jogo em corrente exclusivo, e de círculo fechado, aos seus participantes artísticos, que desclassifica a participação, representatividade e diversidade de um sector, constituindo uma medida antidemocrática e não inclusiva", frisa a nota que acompanha a petição "Pelo cancelamento imediato do festival TV Fest".

Os subscritores pedem "o cancelamento imediato do TV Fest e de qualquer medida que fomente disparidades, competição e desigualdade no acesso": "A classe artística necessita de um reforço claro e objetivo à linha de apoio a artistas e entidades, de um mecanismo que reforce a sua proteção social perante o estado e legisle a sua contribuição à sociedade através do reconhecimento do seu estatuto de intermitência".

O manifeste pede ainda "imparcialidade, justiça e transparência absoluta sobre todos os critérios de atribuição e distribuição de oportunidades e fundos públicos, assim como a "inclusão, atenção e cuidado e a procura de uma resposta comprometida com a realidade dos agentes culturais do país que trabalham diariamente pela cultura portuguesa".

Nas redes sociais, vários músicos também se mostraram contra o TV Fest. Luís Severo, Salvador Sobral, André Tentugal (We Trust) e Ana Miró (Sequin) foram alguns dos artistas que assinaram a petição.

"Embora apareça a minha fronha chapada nesta notícia, não tenho nada que ver com esta iniciativa", frisou Salvador Sobral.

No Facebook, Paulo Furtado (Legendary Tigerman) criticou a iniciativa. "A mim o que me preocupa são os artistas, técnicos e equipas que não têm como pagar a próxima refeição ou a próxima renda, e devia ser nesses que quem gere a cultura em Portugal devia pensar neste momento. E preocupa-me também que não haja um critério maior, nenhum, a não ser o da escolha pessoal de cada artista que é convidado a participar, na forma como se irá distribuir um milhão de euros por 120 estruturas num sector tão afectado quanto o da música. Não seria melhor distribuir esta verba por 500 estruturas ou mais? E ter a certeza que os mais fragilizados eram incluídos?", escreveu.

"Nem me vou cansar a explicar o ridículo de tudo isto! Já fiz a minha parte, assinado", sublinhou Surma.

"Que pena os músicos entrarem nesta farsa com o argumento de que não podem recusar trabalho... classe mais egoísta e desunida que há", escreveu Né Ladeiras.

Já Alex Cortez, dos Rádio Macau, defendeu que "se isto fosse uma iniciativa da EDP, da NOS ou do Continente, tirava-lhes o chapéu". "Não tenho nada contra os artistas que venham a participar, mas saúdo aqueles que já se mostraram indisponíveis para participar nesta palhaçada", frisou.

"Há um ano Graça Fonseca tentou impor Fernando Tordo na programação do Teatro Nacional de São Carlos. Depois de mudar a administração conseguiu o feito. (...) Agora distribui 1 milhão diretamente a dedo a troco de lhe agradecerem o dinheiro que não é dela. Colocar artistas a agradecer dinheiro é humilhante", escreveu nas redes sociais Samuel Rego, ex-Diretor Geral das Artes.