"HaHaHaHa". Este é o som que, geralmente, ouvimos quando alguém acaba de ver um vídeo da Porta dos Fundos. Do Brasil para o mundo, o grupo de comediantes aborda em cada sketch temas universais e que conquistam os fãs. Mas neste regresso a Portugal, Gregório Duvivier, Luis Lobianco, Andres Giraldo e Gustavo Miranda vão deixar de lado os guiões e o tempo limite dos vídeos. Vão deixar os temas da atualidade para depois e fazer um espetáculo centrado na história de vida de uma pessoa do público - sim, qualquer um de nós pode ser o protagonista de "Portátil".

Sem rede, os atores brasileiros e o português César Mourão vão construir em palco uma peça sobre a vida de alguém. Poderá ser uma comédia, um drama ou um (quase) musical. Tudo pode acontecer, garantem os atores - o público pode chorar, rir ou chorar a rir.

Mas o melhor é Gregório Duvivier, Luis Lobianco, Andres Giraldo e Gustavo Miranda explicarem a essência do espetáculo "Portátil". Veja a entrevista ao SAPO Mag no vídeo:

"Portátil" é apenas um dos projetos da Porta dos Fundos. O grupo de atores, que está habituado a fazer rir milhares de pessoas em palco ou nos pequenos ecrãs, acredita que o humor pode ter um papel importante na vida de cada um de nós. Mas será que é mesmo assim?

SAPO Mag: O espetáculo 'Portátil' parte de histórias reais, de alguém da plateia. O humor faz-nos pensar nas nossas próprias histórias de forma diferente? Olhar para algo mau e rir pela primeira vez?

Gregório Duvivier: Toda a gente é protagonista de uma história interessante. Todo o mundo que vemos na rua a passar, por mais comum que seja, é protagonista de uma luta pessoal, que é a sua vida. O espetáculo faz pensar na história da qual é protagonista, a luta que protagoniza. Como seria eu em cima do palco? E rever um pouco as opções que faz, rever a infância e o futuro. O que espera do futuro. Então, acho que a peça também tem esse efeito, de imaginarmos a nossa vida como uma história da qual somos protagonistas.

Luis Lobianco: Exactamente, exactamente. Em mim, o 'Portátil' abriu uma dimensão humana e dramática que não consigo mais largar. Nunca gostei muito mas, para mim, não faz sentido fazer mais piadas que se encerram nelas mesmas. A piada e o humor, mais que a piada, precisa de ter uma dimensão que é essa, da reflexão, da percepção, do conhecimento. Acho que o humor é humanidade. Então, a partir do 'Portátil', só consigo trabalhar ou entrar em projetos em que o humor tem uma dimensão humana. 'Portátil" é isso. A gente ri, chora e chora rindo.

No espetáculo, com o humor, podemos olhar para a nossa vida de forma diferente... e tudo pode ficar mais simples.

Gregório Duvivier: Sim, acho que o humor é uma ferramenta de autocrítica e de diminuirmos os nossos problemas, quando nos rimos dos problemas, acabamos por os diminuir.

O tipo de humor, a preparação, deste espetáculo é diferente do humor do "Porta dos Fundos". Nos vídeos, abordam temas da atualidade; no palco, histórias de vida. Acham que nos dois casos o humor tem poder para fazer pensar e mudar efetivamente?

Gregório Duvivier: Acho que sim. Uma das características do humor é que ele faz as pessoas refletirem e se olharem para a vida de modo diferente, claro. O 'Porta' talvez tenha um pouco esse efeito, que as pessoas olham para a sociedade de forma diferente. Nesta peça, as pessoas olham para si mesmo, olham para a própria história e pensam nelas, espero.

Luis Lobianco: O humor tem essa importância, tem essa grandeza. O humor é tão abrangente que pode inclusive fazer apenas rir. No 'Porta', os vídeos são curtos e imediatos. Precisámos de dar uma recado sobre uma situação política, sobre uma coisa que está a acontecer no congresso em Brasília, em dois minutos. E aí, sim, fazer uma reflexão com esse riso rápido e imediato. No 'Portátil', temos mais de uma hora de espetáculo e podemos aprofundar e humanizar mais as coisas.

Andres Giraldo: As pessoas, a plateia, reconhece-se na história. As pessoas riem-se porque se identificam.

Gustavo Miranda: Porém, como espectador do 'Porta', se fores ver, os vídeos falam de temas universais, mesmo que sejam temas brasileiros. Mas são sempre a partir de momentos muito quotidianos, do particular para o universal, tal como em qualquer produto artístico. Acho que assim bate forte nas pessoas que assistem. Ao mesmo tempo que faz rir, mexe noutro lugar.

Falando agora na atualidade, Donald  Trump foi atacado pelos melhores humoristas do mundo e mesmo assim ganhou. Acham que o humor faz pensar, mas não muda ações?

Gregório Duvivier: O humor realmente vive uma crise com a vitória do Trump, uma crise com a vitória do Crivella, no Rio, - um fundamentalista também... Então, vive uma crise porque os humoristas eram contra o Trump, contra o Crivella e mesmo assim eles ganharam. Dá impressão que o humor não muda nada. Realmente, pelo jeito, muda muito pouco mas, acho, quero acreditar, que talvez tivesse ganhado por uma margem maior se não houvesse mobilização da sociedade... ou não. Talvez, realmente o humor não sirva para nada. Não sei. Fica a dúvida no ar.

Gustavo Miranda: Acho que o humor tem um poder mais humano do que político, um poder menos prático. Porém, no fundo, isso tudo fez alguma coisa, fez pensar. Infelizmente, para muitos de nós, o resultado não foi o que esperávamos, mas teria sido pior se esses comediantes todos e as pessoas que se manifestaram não o tivessem feito.

Luis Lobianco:  O humor não deve ter essa responsabilidade, de uma decisão política. Mas tenho a certeza que o Trump vai ser um dos presidentes que vai render mais piadas e material. E, se pensarmos dessa forma, sim, o humor é muito poderoso e é muito grande. Não acho certo subestimar o papel do humor, acho que ele está aí e estamos a trabalhar por ele e por ele.

Na conferência de imprensa de apresentação ao espetáculo "Portátil", os Porta dos Fundos contaram algumas histórias pessoais. Veja no vídeo:

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