Quase 30 anos depois do primeiro registo do abuso de um menor, o artista de 54 anos pode ser condenado a prisão perpétua depois de um júri de Nova Iorque o ter condenado por chefiar uma rede criminosa que recrutou adolescentes e mulheres das quais abusou sexual, emocional e fisicamente.

Vencedor de três Grammys, o cantor cujo nome de registo é Robert Sylvester Kelly vendeu mais de 75 milhões de discos no mundo, tornando-se um dos músicos de R&B de maior sucesso comercial, com êxitos como "I Believe I Can Fly".

Mas o seu percurso foi assombrado por boatos de atividade sexual ilegal e acordos para pôr fim a acusações de abuso fora dos tribunais.

Nas suas alegações finais, a promotora Elizabeth Geddes disse que o "universo" que o cantor criou permitiu que os seus funcionários apoiassem o seu comportamento criminoso.

A defesa, por sua vez, disse no encerramento da sua apresentação que Kelly era um "símbolo sexual", que levou uma "vida de playboy" à qual as celebridades estão acostumadas.

Mas o júri, formado por cinco mulheres e sete homens, considerou-o culpado de todas as acusações.

R. Kelly

Absolvição por pornografia infantil

Nascido a 8 de janeiro de 1967, Kelly foi criado pela mãe com outros três irmãos.

Nas suas memórias, em 2012, descreveu experiências sexuais desde os oito anos de idade, dizendo que às vezes observava casais maduros a fazer sexo e que o mandavam fotografá-los.

O artista também contou que uma mulher mais velha o violou quando tinha oito anos e que um homem mais velho da vizinhança abusou sexualmente dele quando era quase pré-adolescente.

Há boatos de que Kelly seja analfabeto, apesar de ter editado 14 álbuns. O seu ex-advogado disse que ele escreve em notas fonéticas e não em inglês padrão.

A Jive Records contratou-o em 1991, depois de um executivo da editora o ter ouvido cantar num churrasco em Chicago.

O seu primeiro álbum a solo, "12 Play", foi lançado em 1993, com temas de conteúdo sexual, como "Bump N' Grind", que esteve no top de R&B durante nove semanas.

Apesar da sua turbulenta vida pessoal, incluindo o seu casamento [finalmente anulado] com a sua protegida Aaliyah, então com 15 anos, que despertou suspeitas, a fama do artista estourou.

R. Kelly

Mas no início do milénio, o repórter de Chicago Jim DeRogatis recebeu de forma anónima duas cassetes que pareciam mostrar Kelly a ter relações sexuais com duas menores de idade. Um destes vídeos impulsionou a acusação de pornografia infantil contra o artista.

Depois de anos de demora, durante os quais continuou a gravar e a atuar, Kelly foi absolvido destas acusações.

"Silenciar R. Kelly"

As acusações tiveram pouco impacto na sua popularidade.

Entre 2005 e 2012, R. Kelly escreveu, produziu, dirigiu e atuou na ópera hip-hop intitulada "Trapped in the Closet" (Preso no armário), uma história absurda de sexo e mentiras que desconcertou e impressionou a crítica.

"R. Kelly é uma piada ou um génio?", questionou um crítico de Pitchfork quando o melodrama estreou. "Espera mesmo que esqueçamos a sua recente situação desagradável ou não se importa com o que pensamos?"

Em julho de 2017, o BuzzFeed publicou uma longa reportagem investigativa de DeRogatis, na qual dizia que Kelly chefiava uma "seita sexual" e mantinha seis mulheres sequestradas entre Chicago e Atlanta.

Ao mesmo tempo, duas mulheres de Atlanta, Kenyette Barnes e Oronike Odeleye, fundaram o movimento "Silenciar R. Kelly", que incentivava ao boicote das suas canções.

Em julgamento

Em janeiro de 2019, uma série documental do Lifetime voltou a pôr o foco nestes temas, entrevistando mulheres que acusaram Kelly de manipulador, violento e obcecado por adolescentes, às quais alegadamente exigiria que o chamassem de "papá".

Desta vez, o novo escrutínio pareceu provocar uma mudança radical: artistas como Lady Gaga desculparam-se pelas suas colaborações passadas com Kelly e a sua editora abandonou-o.

Os promotores de Chicago apresentaram 10 acusações de abuso sexual com agravantes contra ele e o cantor foi acusado por promotores federais tanto de Illinois como de Nova Iorque.

Desprestigiado e supostamente na ruína, Kelly, que foi preso sem direito a fiança, foi condenado por um tribunal do Brooklyn e saberá qual será a sua sentença a 4 de maio de 2022.

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