Há quase sete anos, em janeiro de 2012, Adès esteve nesta mesma sala, a trabalhar obras suas com a Orquestra Gulbenkian - as peças orquestrais “Asyla” e “Polaris”, e o Concerto para violino. Ao grande auditório da Culturgest, na mesma altura, levou o concerto para piano “In Seven Days”, do qual também foi solista.
De regresso, hoje, Adès oferece pequenas peças de Janacek: as 15 que compõem os dois volumes do ciclo "Sobre um Caminho Verdejante", paisagens sonoras alusivas à origem checa do compositor, "Reminiscência" e diversos "Esboços Íntimos" ("Palácio de Malá Strana", "In memoriam", "Cristo, o Senhor nasceu"), miniaturas tardias e descritivas com pouco mais de um minuto de duração, além da Sonata, entre o "Pressentimento" e "A Morte na Rua", testemunho "das desigualdades e abalos de uma sociedade vergada aos interesses hegemónicos do Império Austro-Húngaro", como escreve Rui Cabral Lopes, no programa de sala.
A Sonata toma por título o primeiro dia de outubro de 1905 ("01.X.05"), data em que o carpinteiro morávio Frantisek Pavlik foi morto pelas forças de Viena, "quando participava numa manifestação nacionalista a favor da fundação da universidade de Brno".
O recital termina com "Nas Brumas", obra de 1912 de inspiração impressionista, inspirada nas raízes históricas e culturais do povo checo, escrita sobre uma complexa estrutura modal.
Este mesmo programa foi interpretado por Thomas Adès, no sábado passado, no Wigmore Hall, em Londres, com a crítica britânica a sublinhar "a empatia" do pianista com o seu repertório.
"À primeira vista, a estética complexa e sofisticada [de Adès, compositor] pode não parecer ter uma relação óbvia com o romantismo tardio de Janacek", escreveu o Evening Standard. "Mas se se ouvir atentamente (...) encontrar-se-ão as obsessões incómodas e a estranheza que também caraterizam Thomas Adés", prosseguiu o jornal, na sua edição online.
Quanto ao The Times, afirma: "No recital dedicado a Janacek, era difícil saber de quem era o pensamento", se do compositor, se do pianista. "A empatia era evidente".
Nascido em Londres, em 1971, Thomas Adès, compositor e regente, "um dos mais destacados" da atualidade - segundo a Gulbenkian -, tem-se sobreposto a Thomas Adès pianista. E, no entanto, a sua carreira é longa, em disco ou ao vivo, indo da interpretação das suas próprias obras, a Tchaikovsky, Gershwin ou Schubert, sem esquecer Janacek, de quem também já gravou as "Moravian Folksongs".
Como compositor, desde a década de 1990, Adès soma mais de meia centena de obras, como as óperas "The Exterminating Angel", "Powder Her Face" e "The Tempest" - que compôs sobre Shakespeare, e com a qual venceu um Grammy - à música de câmara de "Quatro Quartetos" e "Cardiac Arrest", à música para orquestra, como "Lieux Retrouvés" ou "Totentanz", ou para piano solo, como "Blanca Variations".
Adés foi um dos compositores interpretados no Porto, em particular em 2017, no Ano do Reino Unido da Casa da Música.
Na presente temporada, Adès é artista associado da Sinfónica de Boston.
O programa dedicado a Leos Janacek, que apresenta na Gulbenkian, será gravado em disco e editado pela Signum, no próximo ano, segundo os agentes do compositor e pianista.
O recital de hoje tem início às 20:00.
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