O festival de música TV Fest, uma iniciativa do Ministério da Cultura que deveria ter início esta quinta-feira, dia 9 de abril, foi suspenso, na sequência das dúvidas e críticas que surgiram no setor, e será repensado, disse à Lusa a ministra Graça Fonseca.

Na sua conta no Facebook, Rita Redshoes revelou que tinha sido convidada para participar na iniciativa. "Eu fui uma das pessoas convidadas que aceitou participar no TV FEST. Podem crucificar-me já ou ler o meu texto até ao fim e crucificar-me na mesma", escreveu.

"O que assisti desde ontem nas redes sociais é quase poético, não fosse triste, dada a altura do ano em que estamos, a Páscoa e toda a sua simbologia. Quando me ligaram da organização do festival foi-me dito o seguinte: queremos chegar ao úmero máximo de pessoas possível, partindo dos artistas/bandas, a ideia é que o valor chegue também aos técnicos ou músicos que façam parte da equipa com quem costumam trabalhar. Queremos o mesmo número de mulheres e homens artistas, que todos ou quase todos os estilos musicais possam ser abrangidos e que geograficamente se diversifique. A ideia é criar uma rede em que sejam os próprios músicos os curadores do festival. O nomeado, escolhe o artista seguinte e decide com quem quer/deve partilhar o valor do cachet atribuído", explicou, confessando que se sentiu "esperançada e feliz".

No texto, a artista explica que mandou "de imediato um e-mail" à sua habitual equipa de estrada. "Eu já sabia que tinha pessoas maravilhosas a trabalhar comigo, as respostas foram apenas mais uma constatação; todos responderam que preferiam que eu dividisse o valor por quem na equipa estivesse mais aflito, nomeadamente pessoas com filhos. E assim fiz as contas", contou.

"Antes de adormecer, no último passeio pelas redes sociais, dou conta das inúmeras publicações acusatórias e de revolta escritas por colegas músicos, programadores e agentes (...) Não, não há só 120 músicos em Portugal e sim, o dinheiro não chegaria a todos, como nunca irá chegar. Mas agora pergunto-me; seria solução dividir o tal milhão por todas as pessoas do sector? Daria o quê? 3 euros a cada um, com sorte...", acrescentou.

"Sei inclusivamente de artistas que iriam distribuir o valor total, sem ficarem com 1 euro. Outros que aceitaram, e fizeram muito bem, porque não têm na conta dinheiro que chegue para pagar a próxima renda de casa e no mês anterior também já não tinham. E sei que agora nem 1 euro, nem 1 milhão. Para ninguém", frisou Rita Redshoes.

"O que retiro deste episódio é que não somos uma classe que possa unir-se para defender os nossos direitos e provavelmente nunca seremos. Somos trabalhadores precários mas também almas precárias. Somos o caranguejo da história do vendedor de caranguejos que, em vez de ajudar o primeiro que se aventura a sair do balde empurrando-o para cima na esperança de todos poderem um dia vir igualmente a sair do balde, escolhe ser o que puxa o caranguejo aventureiro para baixo, não vá esse sobreviver e eu não. Vi tanta hipocrisia e moralidade escrita por aí", sublinhou.

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