Começaram pujantes, com o disparo de "Thought Contagion". Reforçaram o arsenal de riffs com "Psycho", e o público agradeceu. Mas à terceira é que foi de vez, com a batida vincada e as guitarras endiabradas de "Hysteria" a propor um regresso dos Muse a "Absolution" (2003), um dos seus primeiros álbuns. E quando o tema seguinte é "Plug In Baby", clássico do disco anterior, "Origin of Symmetry" (2001), parece claro que o concerto já está ganho, caso não estivesse já à partida.
Os Muse não são novatos nem em Portugal nem no Rock in Rio Lisboa e esse à vontade sentiu-se num concerto mais uma vez bem oleado, que durante cerca de hora e meia explicou o motivo de a banda britânica ser cabeça de cartaz deste sábado no Parque da Bela Vista.
Tão teatral e expansivo como se esperava dele, Matt Bellamy não terá desiludido nos malabarismos vocais que acompanham instrumentos igualmente desregrados, mas que nunca comprometem o perfeccionismo de um nome certeiro para grande palcos - ou pelo menos grandes arenas rock.
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De uma especial "Dig Down" à marcha dançável de "Supermassive Black Hole", passando pela emoção de coração aberto de "Starlight" (devidamente entoada a plenos pulmões por uns bons milhares de fãs), passando pelo controlo de "Madness" ou pelo desvario de "Take a Bow", a atuação foi um seguro desfilar de êxitos defendidos por um trio com a coesão instrumental habitual e energia ampliada pela paleta cromática igualmente variada que iluminou o palco.
"Knights of Cydonia", a fechar o encore e a noite, foi a cereja no cimo de um concentrado de energia que voltou a confirmar os Muse como aposta confiável para um Rock in Rio. E o festival fez jus ao nome: neste primeiro dia, as guitarras só não falaram mais alto porque a voz de Bellamy deu luta.
Um palco tomado pelos Bastille
"Eu sei que estão num festival pela música e não pela política, mas esta canção é para o Donald Trump se ir f****". Foi desta forma, já perto do final do concerto, que Dan Smith vincou o momento mais punk de uma atuação centrada num pop-rock sem grandes ousadias, de perfil radiofónico e com contornos eletrónicos (e por vezes ligeiras contaminações dub).
Atuando para um recinto já repleto, os Bastille até podem ter sido para muitos o obrigatório compasso de espera para os cabeças de cartaz da noite, mas nem por isso deixaram de ir mantendo boa parte do público interessado.
O mérito foi de um vocalista afável, que instigou os espectadores em várias ocasiões - com destaque para uma "The Currents", o tal tema dedicado ao presidente norte-americano - e de um punhado de êxitos que tiveram o momento apoteótico na canção de despedida - e talvez a mais esperada. Recebida com as luzes de telemóveis espalhados pelo recinto (e um ou outro isqueiro), "Pompeii" encerrou um desfile de canções do qual se destacaram "Icarus" ou "Bad Blood" e sobretudo "Of the Night", revisão de hinos eurodance dos anos 1990.
A novidade ficou por conta de "Quarter Past Midnight". "Provavelmente nunca a ouviram", assinalou o vocalista, embora o espectadores a tenham recebido de braços abertos, até porque a nova canção do grupo é tão direta como as dos seus dois álbuns. E deixou a impressão de esta não foi a última vez que o público nacional a ouviu ao vivo...
Haim, da Califórnia para uma Lisboa soalheira
Começaram as três em modo percussivo e terminaram da mesma forma. Mas pelo meio, as Haim mostraram aos espectadores do Palco Mundo a sua versatilidade não só instrumental como vocal, já que tanto Alana como as irmãs Danielle e Este se ocuparam, alternadamente, da bateria, baixo, guitarra e teclados e deram voz às canções dos seus dois álbuns (e um EP).
Revelado no muito elogiado "Days Are Gone", de 2013, o trio californiano serviu a banda sonora de final de tarde com temas soalheiros, naquele que foi, como salientou, o último concerto da sua digressão atual. Mas as Haim também confidenciaram ao público do Rock in Rio que traziam o seu "girl power" a Lisboa ("tinha de ser") e apesar de não terem dispensado dois músicos em palco (nas teclas e bacteria) deixaram uma prova de confiança - aliada a uma simpatia evidente e sonante.
Canções como "Falling", "Don't Save Me" ou "Right Now" foram contagiando o público que ia chegando ao recinto e que não recusou acompanhar com palmas o crescendo do final de "Forever" ou do grande parte de "The Wire".
"Tudo bem?" (assim mesmo, em português), perguntou uma das irmãs, que disse aproveitar a ocasião para se familiarizar com o idioma de grande parte do público (ainda que tenha acabado por só disparar mais um tímido "Amo-te"). Mas as canções que a banda ofereceu ao público falaram por ela...
Diogo Piçarra entre colaborações e recordações
Casais abraçados, outros entretidos com selfies, um recinto já bem composto: foi este o cenário que acolheu o primeiro concerto do Palco Mundo deste sábado - e desta edição do Rock in Rio Lisboa. A abertura ficou a cargo de Diogo Piçarra, que mostrou ter grande parte do público na mão enquanto alternou momentos tranquilos com outros mais elétricos.
Além da banda e de cerca de uma dezena de bailarinos, o cantautor foi acompanhado pelas AnaVitória e Marco Rodrigues em dois dos momentos mais aplaudidos. Com as brasileiras, cantou "Trevo (Tu)", dueto que despertou uma comunhão visível entre o artista e os milhares de espectadores.
Ainda assim, Piçarra continuou a tentar fazer a festa entre a multidão. "Aproveitem como se fosse o último dia porque a vida anda a 200", disse ao apresentar "200", um dos temas mais frenéticos do alinhamento. Mas o apelo também poderia ter servido para introduzir "Homem do Leme", clássico dos Xutos & Pontapés, numa homenagem a Zé Pedro (recordado também na grande imagem que ocupava o fundo do palco).
À comoção do tributo seguiu-se a explosão do final, com direito a chuva de confetti e parte do público em delírio depois de o cantor tirar a t-shirt, antes de uma corrida pelo corredor à frente do palco para cumprimentar os fãs das primeiras filas - e entre os espectadores das últimas, Piçarra terá conquistado mais alguns.
O Rock in Rio Lisboa prossegue este domingo com Agir, Anitta, Demi Lovato e Bruno Mars no Palco Mundo e depois nos dias 29 e 30 de junho.
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