Henry Chinaski, um jovem marginal, considerado inapto para o serviço militar, solitário e bêbedo, vagueia pela América dos tempos da Segunda Guerra Mundial, saltando de cidade em cidade, de emprego em emprego, cada um mais degradante do que o anterior, apenas para ter dinheiro suficiente para pagar quartos em pensões e álcool.

Enquanto se afunda numa espiral de decadência e alcoolismo, vai alimentando, mas sempre adiando, a sua grande paixão pela escrita e o sonho de ser escritor.

Pelo meio, dedica um período longo a apostar em corridas de cavalos, a única altura em que consegue ganhar mais dinheiro, fazendo menos.

“Factotum” evoca uma vivência em ritmo lento, de pouca urbanidade e de alcoolismo, em que a personagem principal se move indiferente de um biscate para outro, sempre a precisar de dinheiro, mas nunca mal o suficiente para manter um emprego, e a sua existência quotidiana transforma-se numa rotina de prostitutas, quartos sórdidos, relações tristes e brigas.

“Aventuroso e obsceno, divertido e desesperado, desbocado e ao mesmo tempo lírico, 'Factotum' é o segundo romance de Charles Bukowski, nunca antes publicado em Portugal. Uma espécie de retrato do artista enquanto jovem, este é, decididamente, um dos melhores e mais marcantes escritos do autor americano”, afirma a Alfaguara.

Numa das passagens do livro, Henry Chinaski faz uma afirmação que reflete o que é a sua vivência: “Sinceramente, horroriza-me a vida, aquilo que um tipo tem de fazer só para poder comer, dormir e andar vestido. De maneira que fiquei na cama a beber. Quando bebemos, o mundo continua lá fora, mas por instantes deixa de nos sufocar”.

Esta é uma situação constante na história, a de estar na cama a beber, e a necessidade de trabalhar é algo com que a personagem se confronta, apenas porque o pai o “pôs fora de casa”, obrigando-o a encontrar forma de subsistência.

Apesar da recorrente procura por mulheres, até nesse capítulo Henry Chinaski é mal sucedido, pois à parte de alguns relacionamentos passageiros ou com prostitutas, a relação mais duradoura que consegue manter é com Jan, uma mulher mais velha, mãe de dois filhos, alcoólica, mas também essa acaba por trocá-lo por um homem rico.

A maioria dos empregos, perde-os por causa das bebedeiras ou ressacas, e a sua única preocupação é que lhe paguem o cheque à saída, para poder gastar em mais álcool, enquanto dedica algum tempo à escrita.

Contudo, nem a escrever tem sucesso: a única vez que submete cinco contos para publicação, quatro foram devolvidos e apenas um foi aproveitado, intitulado “A Minha Alma Ébria de Cerveja é mais Triste do que Todas as Árvores de Natal Mortas do Mundo”.

Segundo a editora, Henry Chinaski representa “o alter-ego do próprio Bukowski, é a perfeita encarnação de um factótum, um moço de recados ou pau-para-toda-a-obra, tão inconstante e volúvel quanto é eterno o seu criador”.

Charles Bukowski nasceu na Alemanha, em 1920, mas cresceu em Los Angeles, onde viveu durante 50 anos. Publicou o primeiro conto em 1944, com 24 anos, e iniciou-se na poesia 10 anos depois.

O escritor morreu com 73 anos, tendo deixado publicados mais de 45 livros de prosa e poesia, sete dos quais editados pela Alfaguara.