Rushdie foi atacado por um homem armado com uma faca, quando iniciava uma palestra num encontro em Chautauqua, no estado de Nova Iorque, a 12 de agosto de 2022.
Atingido no pescoço e no abdómen, o ataque obrigou-o a um internamento de seis semanas, deixou-o sem visão de um olho e sem sensibilidade em alguns dedos. O livro de memórias "Knife: Meditations After an Attempted Murder" ("Faca: Meditações após uma tentativa de assassínio", em tradução livre) relata a sua experiência.
“Este foi um livro que tive de escrever, foi uma forma de assumir o controlo do que aconteceu e de responder à violência com arte”, afirmou Salman Rushdie, citado pelo comunicado da editora, divulgado na quarta-feira em Nova Iorque.
Segundo o diretor executivo da Penguin Random House, Nihar Malaviya, "Knife" é “um livro marcante e uma afirmação do poder das palavras para dar sentido ao impensável. [Por isso] estamos honrados em publicá-lo e impressionados com a determinação de Salman em contar a sua história e regressar ao trabalho que ama”.
Malaviya, citado no comunicado, afirma que Rushdie relata os factos “com pormenores marcantes”, garantindo que “'Knife' é uma reflexão poderosa, profundamente pessoal e, em última análise, estimulante, sobre a vida, a perda, o amor, o poder da arte, indo ao encontro da força para prosseguir e permanecer firme."
Rushdie revelara em junho passado, numa mensagem filmada enviada ao Festival Hay, no País de Gales, que estava a escrever um livro de “algumas centenas de páginas” sobre o ataque.
“Não é o livro mais fácil de escrever", afirmou então Rushdie, como hoje recorda o jornal britânico The Times. "É algo que preciso de fazer para superar [o incidente] e poder avançar para outras coisas. Não posso realmente começar a escrever um romance que não tenha nada a ver com estes factos. Portanto, tenho de lidar com eles."
O ataque ocorreu mais de 30 anos depois de Rushdie ter sido alvo de uma 'fatwa' (sentença de morte), decretada pelo antigo líder religioso iraniano ayatollah Khomeini, em 1989, na sequência da publicação do seu quarto romance, "Os Versículos Satânicos", uma ficção inspirada na vida do profeta Maomé que lhe valeu o Prémio Whitbread e um lugar entre os finalistas do Prémio Booker desse ano.
Rushdie viveu a década seguinte sob proteção, escondido, experiência que também levou para o livro de memórias "Joseph Anton", de 2012.
Salman Rushdie é autor de "Os Filhos da Meia-Noite", romance que lhe deu o Prémio Booker em 1981, o Booker dos Bookers, em 1993 e, em 2008, a distinção de Melhor do Booker.
"Vergonha", "Harum e o Mar de Histórias", "O Último Suspiro do Mouro", "O Chão que Ela Pisa", "Oriente, Ocidente", "Fúria", "Pisar o Risco", “Shalimar, o Palhaço”, “A Feiticeira de Florença”, “Dois Anos, Oito Meses e Vinte e Oito Noites” e "Grimus", com que se estreou nas letras, em 1975, são outros títulos do escritor.
O seu romance mais recente, "Cidade da Vitória", concluído um mês antes do ataque, chegou às livrarias portuguesas em setembro, cinco meses depois do livro de ensaios “Linguagens da Verdade”, ambos com a chancela da Dom Quixote, que publica o autor em Portugal.
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