“Uma espécie de super banda”, descreve a apresentação, com seis músicos de bandas diferentes a juntarem-se ao ‘designer’ e artista visual Serafim Mendes, encontrou-se, não se encontrando, a partir de março de 2020.
O tradicional processo criativo tinha como entraves, à partida, não só a pandemia de covid-19 como também a própria dispersão geográfica dos artistas, convidados a trabalhar em coletivo à distância pela editora Lovers & Lollypops, após desafio do Musicbox, de Lisboa.
“A premissa era construir e trabalhar um disco à distância. A escolha também envolveu gente que tinha condições para gravar em casa. Depois de todos aceitarem, fez-se o clássico grupo de WhatsApp e começámos a trabalhar”, conta à Lusa Rafael Ferreira, dos Glockenwise.
Ao lado do guitarrista estão Ariana Casellas (Sereias), Violeta Azevedo (Savage Ohms), Mr. Gallini (Stone Dead), Rodrigo Carvalho (Solar Corona) e Zézé Cordeiro (Equations), um grupo que começou por “esquematizar o método de trabalho” antes de começar a criar.
“[Depois] criou-se uma pasta na Drive, e essa pasta era quase uma sala de ensaios. Deixávamos lá coisas” e o grupo ia discutindo e criando, conta.
Este tipo de trabalho, explica, era alienígena a todos os artistas, e o facto de serem tantos, todos eles a criar e a trazer a opinião para a música de cada um, “podia dificultar, mas na prática não foi problema nenhum”.
O processo criativo decorreu “de forma bastante natural, foi fixe”, e incluiu o trabalho de Serafim Mendes, que ia trabalhando a par com o lado musical.
“Mesmo a capa do disco acabou por ser mudada à medida que o disco ia ser apresentado. No ‘single’, desenvolveu uma ideia, e à medida que o disco se foi desenrolando, foi-se apercebendo de nuances. Começou com uma tónica mais escura e acabou por ficar bastante mais colorido”, revela o guitarrista.
“Soa muito a cada um, mas no total soa a algo completamente diferente do que já tínhamos feito. [...] Cada um dá um bocadinho de si. O disco reflete o estado de espírito do grupo, tivemos sorte em nos calharmos uns aos outros”, comenta ‘Rafa’.
O músico lembra que a forma como foram colocando criações ou apontamentos na pasta, para depois ser “interpretado de forma completamente diferente” noutra casa, levou a um disco “muito feito de camadas” onde há “uma surpresa constante”.
“A ouvir o disco, se não soubesse os nomes das pessoas que estão no grupo, dificilmente chegaria aos projetos de cada um. Isso é fixe, conseguimos todos distanciar-nos muito do que fazemos normalmente. É um objetivo cumprido, saímos da zona de conforto”, afirma.
Para a frente, o que gostavam mesmo de conseguir era apresentá-lo ao vivo, algo que “toda esta incerteza” devido à pandemia de covid-19 tem impedido de preparar, até porque o grupo teria sempre dificuldades, pela dispersão, em juntar-se para tocar ‘online’.
No ano passado, o Musicbox, em Lisboa, desafiou seis editoras de música portuguesas independentes para criarem projetos originais, no âmbito do projeto Coletivo, apoiado pelo Fundo de Emergência Social – Cultura, da Câmara Municipal de Lisboa, que serão apresentados ao vivo naquele espaço, quando este puder reabrir.
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