Estreada em abril do ano passado, no âmbito da iniciativa “Abril em Lisboa”, a peça resgatava memórias de mulheres durante a ditadura e a sua queda, de quotidianos de resistência e da revolução, percorrendo um itinerário que começava na avenida da Liberdade e terminava na antiga “Sala da Censura” do Cinema S. Jorge.

“Elas também estiveram lá” é "uma reflexão sobre a condição feminina nas últimas décadas” que “falava de histórias de que ninguém fala”, como o definiu, na altura da estreia, a diretora artística do Teatro do Vestido, Joana Craveiro.

E porque o espetáculo foi concebido, de propósito, para aquele percurso entre a avenida da Liberdade e a antiga “Sala da Censura” do S. Jorge, o Teatro do Vestido está a tentar, junto da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, empresa municipal que gere o S. Jorge, repô-lo no mesmo local, no próximo ano, indicou.

“Elas também estiveram lá – Quotidianos de resistência e de revolução de mulheres” foi uma das peças nomeadas pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) para os Prémios Autores 2019, na categoria de Melhor Texto Português Representado.

Questionada pela Lusa sobre o facto de os espetáculos da companhia que dirige terem quase sempre sessões esgotadas e, muitas vezes, serem de difícil acesso a um público mais alargado, Joana Craveiro atribuiu responsabilidades "à programação das salas e não à lotação das mesmas, nem às companhias".

"A responsabilidade não é das companhias nem da lotação das salas", referiu, sustentando tratar-se de um problema "decorrente da programação das salas, que deviam projetar temporadas maiores”.

“Desde a nossa génese como companhia [2001], sempre trabalhámos com limitações de público”, disse, frisado, porém, que o Teatro do Vestido “sempre procurou uma relação privilegiada com o público”, razão pela qual não gosta de plateias com lotação superior a 100 pessoas.

A questão da limitação de lugares “não está na nossa opção artística". "O problema é que os criadores estão à mercê de uma prática que reduz bastante o tempo em que os espetáculos podem estar em cena”, o que “acaba por ser frustrante” para quem desenvolve “trabalho durante meses a fio e depois leva espetáculos à cena entre duas e nove vezes”, observou.

“Quando comecei a fazer teatro ficávamos, no mínimo, um mês em cena, e não estou a falar de um tempo assim tão distante", disse Joana Craveiro à Lusa, admitindo, contudo, que continua a defender a existência de "um público participativo e esforçado para ir aos espetáculos e para arranjar bilhetes”.

“Mas para o ano vamos repor muita coisa. Será o ano das reposições, espero”, concluiu.