Com apenas 18 anos de idade, Teresinha Landeiro é uma das novas caras do fado. Em 2014 esgotou o Centro Cultural de Belém e a Casa da Música e agora prepara-se para fazer o mesmo no Cine Teatro Louletano em Loulé, dia 11 de abril. Uma artista cheia de garra e sonhos que vai, certamente, levar o nosso fado a todos os cantos do mundo. O SAPO On The Hop ficou curioso e foi conhecer a cantora:
A música surgiu bastante cedo na tua vida. No entanto, foi a partir dos 11 anos, ao receberes um álbum de fado, que a tua vida realmente mudou. Lembras-te de qual foi a primeira reação ao ouvir aquele disco?
Teresinha: Gostei logo de início. Desde esse dia passei a ouvir fados todos os dias.
O que é que leva uma menina de 11/12 anos a seguir o caminho do fado? Para além do álbum que ouviste, tinhas alguém na tua família ligada a esse estilo?
Teresinha: Na verdade sempre gostei de cantar, desde muito pequenina. Tinha o hábito de fazer espetáculos para os meus avós e para os amigos que os acompanhassem. Mais tarde, percebi que o que gostava realmente era de cantar em português. Comecei por cantar as músicas do festival da canção e mais tarde descobri o fado. Tinha precisamente 11 anos. No dia em que fiz 12 anos a minha mãe levou-me ao Bacalhau de Molho para ouvir a Ana Moura ao vivo. Foi nesse dia que tudo começou. O mais estranho é que na minha família não há ninguém que cante, e lá em casa, fado nunca foi um estilo de música muito ouvido.
Como foi a experiência de cantares pela primeira vez aos 12 anos à frente de um público?
Teresinha: Foi algo que me fez muita confusão porque, na verdade, nunca tinha cantado com músicos, mal sabia o que eram tons e estava cheia de medo que a minha voz não tivesse a capacidade de encher a sala. Hoje olho para trás e vejo que aquilo que fiz foi uma enorme inconsciência. (ahaha) No entanto, hoje faria tudo da mesma forma. Valeu muito a pena correr aquele risco sem saber que o corria.
Nessa noite conheceste a fadista Raquel Tavares, recordas-te de alguma palavra que ela te tenha dito? Entretanto, já tiveste oportunidade de trabalhar com ela?
Teresinha: Antes de ir cantar ela chamou-me e pôs-me o xaile nos ombros, pois a ver dela eu não podia ir cantar sem xaile. Quando acabei, ela explicou-me a importância que tem uma fadista pôr o xaile a outra e desde esse dia passou a ser minha madrinha de fado. Hoje em dia, para além de a admirar como fadista, vejo-a como uma grande amiga. Já cantei com ela no mesmo palco, mas sempre por acaso. Nunca foi algo planeado.
O que sentiste ao dares o teu primeiro concerto em 2012? Foi um sonho realizado?
Teresinha: Foi um passo muito importante. No entanto, considero que o início de tudo será o concerto que dei o ano passado no CCB. Penso que foi o momento em que consegui mostrar ao público o fado em que acredito. Foi algo muito pensado e muito meu.
Hoje em dia fazes parte do elenco da “Mesa de Frades” em Alfama, como é que as pessoas te recebem quando vais lá cantar?
Teresinha: Recebem sempre da melhor forma. Aquela é a minha segunda casa. Não troco o meu cantinho por coisa nenhuma. É lá que tenho os meus músicos, já para não falar dos restantes fadistas que lá cantam. Admiro-os muito. Tenho um gosto enorme em integrar o elenco da Mesa de Frades. É uma casa fantástica.
Como foi trabalhar com Diogo Clemente no projeto “Urbanas”? Foi um desafio novo para ti?
Teresinha: Foi um prazer. É um projeto do qual gosto muito. As fadistas que fazem parte dele são fantásticas e músicos também, é claro. Vejo este projeto como algo muito enriquecedor e desafiante. Todos os concertos que foram feitos foram, a meu ver, grandes momentos de fado. Na verdade, penso que este CD retrata o fado na sua essência.
“Momento Zero” é o nome do espetáculo que vais apresentar no próximo dia 11 de abril. Explica-nos a origem do seu nome.
Teresinha: Este concerto representa o início de algo mais sólido, mais ponderado. Durante os meus primeiros seis anos de vivência no fado contactei com muitos músicos, muitos fadistas, e todos esses contactos foram importantes para definir o meu caminho. Não é que este caminho esteja totalmente definido, a meu ver está muito no início, mas sinto que começa a ganhar um rumo, algo que até então não tinha. A partir de agora as coisas passaram a ter uma razão. Ainda tenho muito para aprender e para aperfeiçoar, no entanto, o “Momento Zero” representa a comunhão entre a aprendizagem que fiz ao longo do tempo e a minha forma de olhar o fado após esta breve aprendizagem.
Enquanto isso, estás a trabalhar no teu primeiro álbum. Como achas que o público em geral vai reagir a ele? O que sentes quanto a isso?
Teresinha: Não tenho noção nenhuma de qual será o impacto de um primeiro álbum. Como todos os artistas, desejava que fosse aceite da melhor forma. Há muita gente que pergunta quando estou a pensar gravar, o que demonstra algum interesse por parte das pessoas, o que me deixa entusiasmada. Mas confesso que tenho muita vontade de mostrar ao grande público aquela que é a minha forma de ver este estilo musical.
Quais os teus objetivos para o futuro?
Teresinha: Ainda não sei ao certo. Adoro cantar, e disso não tenho dúvida nenhuma. No entanto, também estou na faculdade. Para agora, o meu objectivo será conciliar as duas coisas da melhor forma. A música é muito importante para o meu equilíbrio, não poderia deixar de cantar.
Numa única palavra, como te definirias como fadista?
Teresinha: Genuína.
O que dirias se tivesses de definir esta nova etapa da tua vida numa só frase?
Teresinha: Esta nova etapa da minha vida está a ser fantástica! O que podia querer mais?
Fotos: José Sarmento Matos
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