"Um piano nas barricadas" apresenta temas compostos para os filmes "Bibliografia", de Miguel Manso e João Manso, e "Canal", de Rita Nunes, um dueto com o guitarrista Tó Trips, que tinha feito parte de uma compilação da Bodyspace, e revisitações de alguns temas antigos, com novos arranjos.

"Contrariamente ao que tenho feito, com álbuns profundamente conceptuais, este não tem uma base conceptual, é uma coleção de trabalhos que foram feitos com motivações exteriores a mim", explicou.

Já o título permite várias leituras, mas relaciona-se com "uma ética do fazer, com o que significa fazer música e como interpretá-la para os outros", disse.

Tiago Sousa, pianista, 32 anos, que em tempos fundou a editora Merzbau e está ligado à produção musical do Barreiro, tem um percurso muito particular na música contemporânea, influenciado pelo naturalismo romântico, pela simplicidade. "É um exercício estético, uma procura de chaves para problemas que me coloco", descreveu.

"Um piano nas barricadas", que saiu no final de fevereiro pela editora britânica Discrepant, surge dez anos depois da estreia discográfica a solo de Tiago Sousa, em 2006, com "Crepúsculo".

Depois disso editou, por exemplo, "Nuit" (2007), "The Walden Pond's Monk" (2011), composto em torno da vida e da obra do escritor americano Henry David Thoreau, autor de "Desobediência civil", e "Samsara" (2013), inspirado no Hinduísmo.

"Sinto-me mais como um colecionador de ideias do que alguém que emana uma força criativa. Fico bastante satisfeito com essa busca constante de consequências para as minhas ideias", afirmou.

Sobre a publicação de um disco dez anos depois da estreia, Tiago Sousa diz que foi uma mera coincidência, porque pensa pouco sobre o passado. "Tem sido uma viagem extraordinária, mas a única parte em que podemos fazer alguma coisa é no presente".

Há dez anos não escreveria em pauta, mas hoje diz que já tenta perceber a linguagem dos que o influenciaram. A vontade de estudar e compor leva-o a ponderar fazer um hiato nas apresentações ao vivo.

É certo o concerto no dia 24, na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, mas Tiago Sousa está já com o pensamento em composições novas, à medida que aprofunda leituras sobre o existencialismo, com Sartre e Camus.