A exposição, que é inaugurada na sexta-feira, às 22:00, intitula-se "Esboço de Técnicas Interiores", tem curadoria de Romain Bigé e de João Fiadeiro, dois balarinos que conheceram e estudaram com Steve Paxton ainda jovens, e que hoje apresentaram o projeto aos jornalistas.
"Conheci-o quando tinha 23 anos, nos anos 1980, e foi muito importante, uma experiência que me mudou como ser humano e como bailarino", comentou João Fiadeiro no início da exposição, que usa sobretudo o vídeo como suporte para mostrar imagens de trabalhos individuais e coletivos de Paxton.
Steve Paxton, nascido em 1939, iniciou a sua carreira nos anos 1950, dançou com José Limon e Merce Cunningham, foi um dos fundadores do Judson Dance Theatre, fonte de criações coletivas que lançaram as raízes da dança pós-moderna e membro fundador do coletivo de improvisação nova-iorquino Grand Union.
Na exposição, o visitante poderá ver dança ao vivo - pois foram convidados bailarinos de escolas e companhias de dança para atuarem numa das salas preparada para o efeito - e até será desafiado a dançar, uma ideia dos curadores para que o público participe e tenha uma experiência de movimento imerso no universo de Paxton.
Delfim Sardo, programador da Culturgest na área das artes plásticas, sublinhou que a exposição é uma parte deste ciclo sobre o trabalho, a obra e a vida de Steve Paxton, "que fazem uma unidade indissociável".
"O que temos vindo a fazer na Culturgest é tentar perceber o que é o mundo de hoje olhando para trás, buscando referências no passado recente", contextualizou.
Sardo descreveu Steve Paxton como "um artista da dança que reequacionou o seu contexto num eixo global das artes", já que as técnicas que criou – "Contact Improvisation" ("Contacto Improvisação") e "Material for the Spine" ("Material para a Coluna") –, tornaram-se também marcantes para o universo das artes visuais.
O coreógrafo, de 80 anos, que esteve presente por alguns momentos durante a visita de imprensa, disse: "Eu só vivi a minha vida e não estava na posição de a representar".
"Quando vemos os bailarinos a dançar podemos tomar também essa experiência da dança. É algo muito estimulante, não é nada passivo", observou, sobre a exposição dedicada à sua obra.
Em entrevista à Lusa, no início da semana, por correio eletrónico, Paxton mostrou-se surpreendido com esta iniciativa: "Em teoria, é divertido e, para mim, um ensinamento de como o meu trabalho é percebido".
Hoje, na apresentação da mostra, João Fiadeiro sublinhou, ao longo do percurso expositivo, algumas das ideias que Paxton introduziu, nos anos 1970, que viriam a ser revolucionárias, nomeadamente a visão da dança como uma constante troca de "preliminares" entre os bailarinos - em vez da tradicional tensão crescente que levava a um clímax, ou a promoção da igualdade do papel dos bailarinos, homens e mulheres, com o mesmo destaque em palco.
Na entrevista à Lusa, o coreógrafo disse acreditar que o seu trabalho "ainda representa a investigação" nesta área.
"Se for assim, espero que represente não apenas as minhas descobertas, mas também a ideia de explorar o movimento do corpo humano com novas descobertas em vista. A dança é um dos poucos instrumentos que temos para conseguir concretizar isso", sustentou.
A exposição ficará patente até 14 de julho, e haverá a apresentação de algumas performances históricas em palco (no sábado e nos dias 20 a 23 de março), uma série de cinco conferências, a primeira das quais com o próprio Paxton (no domingo, 21 de março, e nos dias 30 de maio, 06 de junho e 25 de junho).
No contexto do ciclo Steve Paxton, a Culturgest apresenta três peças históricas de Paxton, reinterpretadas pelo coreógrafo e bailarino esloveno Jurij Konjar, nomeadamente "Flat" (1964), "Satisfyin Lover" (1967).
Tendo passado muitos anos em digressão, improvisando em solo, dueto ou em grupo, Paxton vive desde a década de 1970 numa comunidade artística no norte de Vermont, nos Estados Unidos.
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