Já tem no curriculum meia dúzia de telenovelas, mas é no teatro que se sente como peixe na água. A trabalhar pela primeira vez o registo de comédia, Rui Neto, 32 anos, está a divertir-se a valer com a sua nova experiência. No entanto, voltar ao cinema num papel mais consistente é o seu sonho.

Para já, podemos vê-lo na novela «Sedução» da TVI, e na peça «Toda a Gente Sabe que Toda a Gente Sabe» no papel de Luís Ernesto, um jovem corrector de bolsa, que vive a sua sexualidade escondida... mas pouco!

Vem da Escola Superior de Teatro e Cinema e começou a sua carreira a fazer teatro, mas tem experimentado um pouco de tudo...
Tenho duas fases profissionais: antes da formação superior e depois da formação superior. Estreei-me no teatro com uma ópera infantil, depois fiz duas novelas para a TVI, «O Último Beijo» e «Queridas Feras», e só depois é que entrei no Conservatório. Mais ao menos em simultâneo com o meu período escolar, trabalhei na Companhia de Teatro de Almada e fiz um espectáculo com o João Mota, quando estava a terminar o Conservatório.

Daí ter feito parte dos espectáculos da Comuna.
É verdade. Fiquei lá a trabalhar dois anos com encenações do João Mota e do Álvaro Correia. Ao mesmo tempo fiz a «Vingança», «Resistirei», «Floribela» e agora estou na TVI a fazer a telenovela «Sedução».

Nas outras profissões as pessoas estão sempre a falar nas férias, os actores nem querem ouvir falar, porque isso significa falta de trabalho.
Nem consigo ficar muito tempo de férias. Posso ficar desde que esteja num processo criativo, caso contrário, praia sem ter nada para fazer, aguento dois dias!

Na peça «Toda a Gente Sabe que Toda a Gente Sabe» está a fazer uma comédia. Já tinha experimentado este registo?
Ainda não. E curiosamente, agora, estou numa fase de comédia, porque para além do teatro, o meu personagem na telenovela «Sedução» também é cómico.

É muito difícil fazer rir?
Muito mais do que eu imaginava. Tem de se trabalhar com uma determinada leveza, sem ser leviano e sem ser desleixado, e isso é um compromisso difícil: ser leve mas manter tudo dinâmico. É de facto um desafio grande, por isso está a ser tão divertido.

Vive sozinho?
Moro com o meu cão, um Leão da Rodésia cruzado com um Labrador, um gigante que pesa 50 quilos. É quase mais do que eu. E é uma grande companhia! Fui buscá-lo a um canil a Évora há dois anos e tinha cinco meses quando o trouxe para casa. Foi o meu presente de férias eterno.

Que tipo de coisas lhe dão prazer?
Gosto de ler e de ver televisão, não no sentido dos programas de televisão, mas a televisão das séries, dos DVD's e dos filmes. Também navego na Internet, gosto muito de desenhar e já fiz uma exposição de fotografia sob o tema «A Fotografia na Representação», num espaço da Câmara Municipal de Lisboa, no Bairro Alto. Como sou licenciado em Publicidade e Marketing, agrada-me a manipulação da imagem.

Sai com os amigos?
Cada vez menos. Para a maioria das pessoas sair é ir para o Bairro Alto, beber copos e perder noites e eu já não tenho essa disposição. Prefiro jantar em casa com amigos.

Cozinha para os seus amigos?
O básico com um bocadinho de requinte, mas nada de especial. Aprendi sozinho e fui experimentando. Tive a influência da minha mãe que cozinha muito bem, do meu avô que teve um restaurante em Évora, e de um amigo com quem dividi casa antes de morar sozinho. Éramos quatro actores, dois rapazes e duas raparigas, e o outro rapaz cozinhava maravilhosamente. Através dessa observação diária fui aprendendo alguns truques.

Um sonho?
Quando me faz essa pergunta a primeira coisa em que penso instintivamente é no sentido profissional, porque não consigo ter um sonho muito pessoal e íntimo. Por isso o que me ocorre é fazer cinema. Até agora só fiz «Mistérios de Lisboa», do Raul Ruiz, e depois da montagem do filme que são quatro horas, a minha parte só apareceu na série que engloba as seis horas, por isso fiquei com aquele bichinho do cinema e com uma enorme vontade de experimentar mais.

Ri-se com facilidade. É bem-disposto?
Sou. Às vezes tenho mau feitio, mas de uma forma geral sinto-me bem com a vida.

O que o diverte?
O sorriso e a alegria dos outros contagiam-me facilmente.

Está preocupado com as convulsões no mundo?
Estou atento, mas tenho uma sensação de impotência total. Estamos a viver uma fase em que sinto que não podemos fazer grande coisa. O mundo parece um baralho de cartas a desmoronar-se! Não sei bem o que fazer nem o que temer.

Daí também a importância do seu trabalho.
Mas olhe que questiono muitas vezes essa importância no momento que estamos a viver. Às vezes fico a pensar para que serve todo o tempo da minha vida que dedico a isto e se não seria melhor deixar os teatros e ir fazer voluntariado...

Fazer rir é uma causa nobre num momento em que as pessoas estão tão deprimidas!
Mesmo que não as faça rir, basta que as faça pensar ou sonhar...

(Texto: Palmira Correia / Fotos: Bruno Raposo)