A nova série norte-americana “For Life”, que se estreia no canal AXN na próxima semana, tem uma “ideia universal” de que todos os seres humanos anseiam por ser tratados com justiça, disse o produtor Hank Steinberg.

Uma nova série vinda dos Estados Unidos, baseada numa história real, “For Life” (“Para a vida”, em tradução livre) retrata a luta de Isaac Wright Jr., sentenciado a prisão perpétua por um crime de tráfico de droga que não cometeu, o que na visão do produtor Hank Steinberg vai ao encontro da “ideia universal” e do “sentimento elementar dentro de todos os seres humanos, que anseiam por justiça e desejam ser tratados com igualdade”.

A série estreia-se em Portugal no canal AXN, no dia 27 de fevereiro, às 2h:55.

Para Hank Steinberg, responsável pela escrita da série de 13 episódios, coproduzida com o cantor e ator Curtis Jackson, conhecido como 50 Cent, e com Doug Robinson, a série coincide com a “agitação e raiva pelos sistemas atuais em vigor na Europa e em todo o mundo”, e toca no “pavor” de uma acusação e punição injusta e sem motivos.

27 de fevereiro: For Life (estreia da T1)
27 de fevereiro: For Life (estreia da T1)

Em declarações à Lusa, Isaac Wright Jr., produtor executivo da série que conta a sua própria história, considerou que agora é o “momento perfeito” para dar a conhecer o que lhe aconteceu na última década do século XX.

Isaac Wright Jr., retratado na série como Aaron Wallace, era um empreendedor de 29 anos, casado e pai de uma criança, que foi falsamente acusado de ser o “cérebro” de uma das maiores redes de tráfico de droga em Nova Iorque e Nova Jérsia em 1991.

As falsas acusações resultaram numa sentença de prisão perpétua e um acréscimo de 72 anos de prisão, por diversos crimes de narcotráfico.

Depois de ter estudado o sistema judicial dentro da cela de prisão e ter defendido em tribunal 20 casos de prisioneiros como advogado, Isaac Wright Jr. fez a sua própria defesa em tribunal e ganhou a liberdade em 1996, com a confissão de um dos detetives responsáveis pela falsa acusação.

Para o advogado, esta série mostra todas as semanas “uma nova fase dessa luta” e significa que “a cada semana vai haver pelo menos uma pessoa que se vai inspirar de maneira diferente”.

Referindo-se à “onda atual” de reformas no sistema penal nos Estados Unidos, Isaac Wright Jr. considerou que um dos aspetos essenciais da produção é ser baseada em factos reais, “que as pessoas podem pesquisar e com que se podem aprender algumas tragédias do sistema”.

Doug Robinson, coprodutor executivo, considerou que a diferença de tratamentos a um inocente e um verdadeiro narcotráfico “diz tudo sobre o sistema penal”, comparando com a sentença ao famoso narcotraficante El Chapo, condenado em julho de 2019 a prisão perpétua e um acréscimo de 30 anos, menos 40 do que Isaac Wright Jr.

Da estreia de
Da estreia de

Hank Steinberg completou, dizendo que se trata de um “oprimido, uma personagem heróica que teve o pior que podia acontecer e levanta-se contra esse sistema mastodonte”, finalizando que este tipo de problemas “está mais presente na consciência pública”, sendo agora a “altura certa” para esta série.

Antigo recluso passou por “processo terapêutico” ao produzir série “For Life”

O antigo recluso Isaac Wright Jr., condenado a prisão perpétua por um crime que não cometeu, disse à Lusa que passou por um “processo terapêutico” ao contar a história real na série.

“Pela primeira vez estava por trás da câmara a ver o meu sofrimento. Houve períodos emocionais e foi muito terapêutico. Fiz uma descarga da bagagem”, considerou Isaac Wright Jr. numa apresentação da série, em Nova Iorque.

Isaac Wright Jr., retratado como Aaron Wallace na série, era um empreendedor de 29 anos, casado e pai de uma criança, que foi falsamente acusado de ser o “cérebro” de uma das maiores redes de tráfico de droga em Nova Iorque e Nova Jérsia em 1991.

Passados quase 30 anos depois de ser condenado, Isaac Wright Jr. quis contar a história numa produção televisiva e as filmagens do episódio piloto numa cela de prisão, com o ator Nicolas Pinnock a representar a personagem, foram “um processo terapêutico”.

“Pela primeira vez pude ver-me a mim próprio como uma terceira pessoa e ver-me a passar por esse sofrimento. Nunca tinha conseguido ver-me assim, estive sempre ocupado a tentar libertar-me, proteger outras pessoas do sistema e a tentar voltar à minha família”, disse o advogado, que ganhou a licença para exercer em 2007 e só foi admitido à Ordem de Advogados da Nova Jérsia, nos Estados Unidos, em 2017, depois de nove anos a ser investigado por uma comissão da Ordem.

Isaac Wright Jr. contou que as filmagens na prisão, que começaram em 2019, marcaram o seu primeiro regresso a uma cela desde que foi libertado em 1996.

“Entrei na cela e foi engraçado quando as portas fecharam. Há um barulho distinto do metal quando se tranca e quase perdi o controlo, tive de sair e ver só de fora”, contou Isaac Wright Jr..

O coprodutor da série Doug Robinson também recordou o momento em que o antigo recluso abriu os braços dentro da cela para medir o espaço.

A cela usada nas filmagens da série é maior do que Isaac Wright Jr. teve direito, que antigamente não tinha espaço para abrir os braços e nem tinha uma sanita, mas “só um buraco na parede”.