"Eles não me deixam falar nada. Eles não anunciaram ainda oficialmente, mas há grandes chances. Estamos conversando, mas eu não posso falar nada, eles não me deixam falar." É desta forma que começa a conversa com Rodrigo Santoro.

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O seu papel mais recente e que lhe tem dado maior notoriedade nos últimos tempos é o de Hector nas duas primeiras temporadas de "Westworld", a série de ficção científica da HBO sobre a revolta de máquinas conscientes num parque temático futurista. Sobre a terceira temporada ainda nada pode dizer, mas deixa antever que a sua personagem deverá voltar.

"As filmagens começam no próximo mês e estamos a conversar neste momento.", diz o ator brasileiro, em Portugal para a apresentação do serviço de streaming da HBO, que esta segunda-feira se estreou no nosso país.

Rodrigo Santoro dispensa apresentações: conhecemo-lo dos anos mais jovens nas novelas da Globo - e de alguns regressos ocasionais ao sítio onde a sua carreira nasceu - , do cinema brasileiro, em filmes como "Carandiru" e da sua carreira nas produções norte-americanas, em "O Amor Acontece", "300", "Lost" ou "Os 33", entre outras.

Mas aqui, num hotel em Belém, sentado à mesa com meia dúzia de jornalistas, está para conversar sobre "Westworld", a série que tem ocupado a maior parte do seu tempo desde 2016.

"A primeira temporada demorou um ano porque filmámos seis episódios, parou por dois meses e meio e depois voltou. Normalmente são seis meses para fazer 10 episódios. É outro tipo de compromisso. Estava fazendo só filmes, que eram um mês e meio, dois meses. Este é um trabalho longo de desenvolvimento, de jornada, a personagem passa por muitas coisas, é bem legal. Novela é mais diluída, aqui em Portugal são 300 capítulos por novela, não é? O máximo que eu já fiz foi cento e poucos capítulos lá na TV Globo quando era bem mais jovem.", explica.

Mas "Westworld" não é nenhuma novela: "é feita em película, a maioria das produções hoje em dia são feitas em digital. É por causa do Jonathan Nolan, que é o criador, os dois irmãos (Jonathan e Christopher Nolan, de 'O Cavaleiro das Trevas', ou 'Dunkirk') têm essa história. As pessoas falam 'que filtro é esse, o que é você coloca?' É película. Cada episódio é um filme de 50 minutos".

Hector Escaton em «Westworld»

"Uma outra característa do Jonathan Nolan é que quase nada tem efeitos especiais. Tudo é 'set', tudo tem cenário, tudo é montado. Inclusivamente aquele boneco branco de braços abertos da abertura. Tudo é montado, não tem nada de efeito especial ali. A grande maioria, 80%, está tudo ali. E é filmado.", acrescenta o ator.

Sobre o trabalho que fez para personagem que interpreta na série de ficção científica da HBO, um "host" num parque temático que recorre a máquinas com inteligência artificial e as coloca ao dispor dos visitantes humanos, diz que o que o mais interessou foi trabalhar "coisas subtis, nuances". "Nós não somos robôs (os 'hosts'), somos humanos com inteligência artificial. Apesar de não terem consciência, eles também têm sensações, eles sangram, eles se emocionam. A segunda temporada especialmente para mim foi muito interessante, muito rica em detalhes. Há uma jornada na personagem em que ela é quase uma inteligência artificial numa crise existencial.", descreve.

Thandie Newton, que interpreta Maeve em "Westworld", é provavelmente a atriz com quem mais Santoro contracena. "A Thandie é uma atriz muito talentosa, muito irreverente, querendo experimentar coisas, já madura. Foi uma amiga com quem eu me diverti e pude trabalhar muito a composição. Ela queria escutar o que eu tinha para dizer. Também é um par romântico completamente diferente de todos os que eu já vivi. Especialmente na segunda temporada, a coisa começa a vir à flor da pele. Ela foi um presente para mim, adoro trabalhar com ela", diz.

Os "hosts" de "Westworld" e a inteligência artificial

O facto de trabalhar numa série sobre inteligência artificial, fez o ator interessar-se sobre o tema. "O ponto mais interessante para mim é onde está a linha que divide a máquina e o humano, até que ponto os algoritmos estão dando as cartas. E a partir disso, até que ponto as máquinas têm direitos. São questionamentos muito contemporâneos. Costuma dizer-se que é uma série baseada num futuro próximo, para mim é o presente, não é um futuro próximo. Isso já está acontecendo. Estamos vivendo isso diariamente com as extensões das nossas mãos, que são esses aparelhos", diz,  enquanto pega num smartphone à sua frente em cima da mesa.

"Eu acho que a minha relação com a tecnologia está num lugar que eu tento conservar saudável. Eu procuro encontrar espaços e dilatar esses espaços para eu ter contacto com o mundo real, que inclusive me interessa muito como artista. Mas claro que isto é uma ferramenta, eu não estou negando, eu simplesmente trabalho a minha relação com o mundo de possibilidades que vivem aqui. Há até uma aplicação que diz o tempo de tela que você usa: eu estou bem, não me considero doente", sublinha.

A HBO Portugal, a par da Netflix e da Amazon Prime, é mais um serviço de streaming a chegar ao mercado português. Rodrigo Santoro também vê séries e filmes e já usa televisão linear muito raramente: "consumo mais streaming, não me sobra muito tempo mas quando eu paro para ver é muito mais streaming. Ainda vejo documentários, adoro documentários. Não deixei de ver filmes para ver só séries, que eu acho que também é uma tendência, eu continuo vendo e vou muito ao cinema. Eu gosto de ficar quietinho, botar um copo de vinho, ficar no conforto, mas, para mim, a experiência de ir ao cinema ainda é insubstituível".

Rodrigo Santoro divide o tempo entre a Califórnia e o Brasil, "um dia de cada vez". No ano passado voltou e fez uma participação de 15 episódios numa novela brasileira porque estava com "muita saudade" de "se reconectar com as pessoas". Mas sobre a forma como gere a sua carreira e os papéis que escolhe, diz que prefere não racionalizar muito: "as minhas decisões são muito baseadas no material, numa personagem, onde eu vou trabalhar com quem eu vou trabalhar. Eu trabalho sempre na direção contrária à extrema racionalização, senão você começa a planejar e eu não acho que as coisas sejam tão matemáticas. A própria vida te mostra isso".

As duas primeiras temporadas de "Westworld" estão disponíveis na HBO Portugal. A terceira temporada ainda não tem data de estreia marcada.