"Do nosso ponto de vista, esta decisão é extremamente prejudicial e injusta e nós realmente esperamos que seja reconsiderada", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, aos jornalistas, referindo que espera que a "candidata russa possa participar" da Eurovisão.

O serviço de informação ucraniano (SBU) proibiu, na quarta-feira, a entrada de Julia Samoilova na Ucrânia por três anos, acusando-a de ter realizado um concerto em junho de 2015 na Crimeia, cerca de um ano após a anexação da península ucraniana pela Rússia.

Dmitri Peskov também referiu que Kiev “está a diminuir o prestígio da competição" ao privar um grande país como a Rússia de participar na Eurovisão.

“De maneira geral, não estou enervada (….). Devo continuar. Penso que de alguma forma tudo vai mudar", disse na quarta-feira à noite Samoilova ao canal público Perviy Kanal, que deverá transmitir a competição musical para a Rússia.

A cantora de 27 anos, que possui uma deficiência e usa uma cadeira de rodas, não compreende como o Governo ucraniano pode considerá-la uma ameaça.

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, declarou que a responsabilidade desta decisão ficará “na consciência dos organizadores” na Ucrânia, segunda a agência de notícias Interfax.

Hoje, os meios de comunicação russos levantaram a possibilidade de um boicote da emissão na Rússia.

Julia Samoilova conquistou os jurados do concurso local, organizado pela estação russa de televisão Pervy Kanal, com o tema "Flame is Burning", garantindo assim um lugar no Festival da Eurovisão deste ano.

Esta não é a primeira vez que existe tensão entre os dois países na Eurovisão. No ano passado, a  concorrente ucraniana, Jamala, apresentou "1994" no festival, canção sobre a história dos seus avós, que foram deportados da Crimeia para a Sibéria na era de Estaline. A cantora acabou por vencer a edição de 2016 com o tema dedicado aos milhares de muçulmanos que não conseguiram sobreviver à travessia até à Ásia Central.

A Rússia, que anexou a Crimeia em março de 2014, viu na vitória ucraniana “subentendidos políticos” e protestou contra a participação do país no festival.

O Festival Eurovisão da Canção é regularmente abalado por tensões políticas. A Rússia e a Ucrânia estão em conflito desde a anexação da Crimeia, em 2014, seguido por um conflito armado no leste da Ucrânia entre Kiev e as forças separatistas pró-russas que já deixou mais de 10.000 mortos.