Nas últimas duas décadas, um pouco por todo o mundo, os reality shows conquistaram espaços de destaque nas grelhas de programação dos canais. Do (clássico) "Big Brother" a "The Bachelor", passando por "Secret Story" ou "Jersey Shore", o formato foi sofrendo várias mudanças, mas a base manteve-se sempre a mesma: vários concorrentes que têm de viver juntos.
Já nos últimos anos, os dating shows têm ganhado terreno nas televisões. "The Bi Life", que estreia esta sexta-feira, dia 4 de janeiro, às 21h00, no E! Entertainment, pode ser considerado um meio termo entre reality shows e dating shows. Antes do arranque do programa, o SAPO Mag viajou até Londres para conhecer o formato e conversar com os participantes e a apresentadora.
Shane Jenek é o anfitrião do programa. Mas apresenta-se e é conhecido como "a Courtney Act", drag queen que participou em "RuPaul's Drag Race" e que, em 2018, venceu a 21ª edição do "Celebrity Big Brother" (Reino Unido), com quase 50% dos votos. Depois de estar dentro da casa mais vigiada do mundo, a estrela australiana tem uma nova missão em "The Bi Life".
"A minha descrição favorita para o reality show é: é um grupo de jovens britânicos e solteiros, que vão a dates [encontros]. Não estão a competir por dinheiro ou por alguma surpresa. Todos são bissexuais e têm encontros com pessoas de diferentes géneros. É algo muito fresco, enquanto reality show - não há drama, agressões e ninguém desconfia de ninguém. É como uma história de amor dos tempos do secundário, como se estas pessoas fossem de férias de verão... e tivessem encontros", conta Courtney Act.
Matt Brindley, Michael Gunning, Mariella Amodeo, Daisie Thilwind, Ryan Cleary, Leonnie Cavill, Kyle McGovern, Carmen Clarke e Irene Ellis são os jovens que aceitaram o desafio de ir para Barcelona. As exigências para entrarem no programa eram apenas duas: serem bissexuais e jovens britânicos.
"É mesmo um reality show diferente, a começar pelos participantes: são todos bissexuais. Estiveram uns tempos em Barcelona, foram a encontros com outras pessoas - eles não têm encontros românticos entre eles, apenas com outras pessoas que não estão a viver na casa. Quando estás a ver, não se parece um reality show porque é mais cinematográfico. Acho que o elenco é muito diferente dos elencos dos reality shows normais. É a primeira vez deles, são muitos queridos e apoiam-se todos uns aos outros. Não há nenhum tipo de competição entre eles, mesmo... o que é muito bom", frisa a apresentadora.
Agora no papel de apresentadora, Courtney Act já esteve do outro lado - a drag queen foi a vencedora da edição de 2018 do "Celebrity Big Brother", no Reino Unido. "O Big Brother foi uma experiência muito divertida. Não sabes o que vai acontecer quando estás dentro da casa. As únicas pessoas que vês são aquelas que estão dentro da casa, é como só existisse um micro-cosmos", recorda, frisando que depois de sair da "casa" teve oportunidade de falar sobre a sua experiência e da comunidade LGBTQI.
"Para mim, o maior desafio enquanto apresentadora... foi não ir a nenhum encontro! (risos)", brinca Courtney Act, acrescentando que ajudava os concorrentes a marcar os encontros.
"O primeiro reality show com pessoas bissexuais no Reino Unido"
Matt Brindley tem 27 anos e é agente de estrelas das redes sociais. Ao SAPO Mag, o concorrente de "The Bi Life" confessa que gosta de ir direto ao assunto e brinca dizendo que tem o sorriso mais bonito do grupo. "É um reality show muito colorido. Não é uma competição, não há vencedores no final", frisa.
"Todos os meus amigos são heterossexuais - ou têm namoradas ou namorados. Nunca tive amigos da comunidade LGBT. Quando surgiu a oportunidade, quando vi no Instagram, achei que era o momento ideal para mim. Queria mesmo conhecer pessoas", recorda, acrescentando que foi uma uma boa experiência.
Já Leonnie Cavill, de 27 anos, revela que decidiu participar para "mexer" com a sua vida. "O maior desafio foi saber que as outras pessoas estavam a acompanhar os encontros e que depois tinha de voltar a casa", confessa.
Para Kyle McGovern, jovem de 23 anos, "The Bi Life" é "um reality show muito representativo". "Decidi participar no reality show por várias razões. Uma delas era porque não sabia bem se era bissexual e esta foi uma oportunidade de explorar a minha sexualidade com rapazes. Venho de uma cidade pequena e onde não há muitas pessoas a assumirem-se como bissexuais... e achei que ao participar poderia ajudar mais pessoas. Ajudar a perceberem melhor e a ganharem confiança sobrem quem são", sublinha.
Michael Gunning, nadador olímpico, lembra ainda que este é "o primeiro reality show com pessoas bissexuais no Reino Unido": "É um passo importante. E é bom que não seja uma competição e todos nós tivemos momentos bons".
"É importante falar de pessoas Bi e das suas vidas na televisão, porque não estão representadas. E esta é uma plataforma incrível, especialmente para os mais jovens perceberem que está tudo bem se forem bissexuais", acrescenta Mariella Amodeo, frisando que o maior desafio foi partilhar uma casa: "Vivermos todos na mesma casa foi um desafio porque somos todos muito diferentes. Tivemos de aprender a viver juntos".
Para Courtney Act, o reality show também poderá ter um papel importante na vida de muitos jovens. "É importante ter um reality show assim na televisão, não temos programas sobre bissexualidade. Não sei como é a televisão em Portugal, mas na Austrália, nos Estados Unidos ou no Reino Unido há pouca visibilidade para a comunidade Queer. Mas especificamente sobre a bissexualidade... há a Lady Gaga em 'American Horror Story' ou Jamal Lyon em 'Empire'", lembra a apresentadora, acrescentando que as séries mostram uma realidade ficcionada. "Quando virem o programa, as pessoas vão perceber rapidamente que não há muitas diferenças e que têm muito em comum - no fundo, são só pessoas a terem encontros", sublinha.
"Se cresceres sem veres ninguém como tu, tu naturalmente assumes que algo está errado contigo", frisa.
A reação das famílias
Para os concorrentes foi fácil contar à família e aos amigos que iriam embarcar numa nova aventura no pequeno ecrã. Ao SAPO Mag, Daisie Thilwind conta que não está dentro "das medidas padrão" do tipo de concorrentes que normalmente participam em reality shows. "É um desafio participar neste programa, talvez o maior desafio da minha vida", sublinha.
"A minha mãe ficou muito entusiasmada quando lhe disse que ia entrar no programa. Perguntava: 'Posso contar a toda a gente?'. E eu dizia que não. A minha família apoiou-me muito... menos o meu irmão. Mas ele não é uma pessoa afável. Foi difícil. Mas é só uma pessoa, o resto da família esteve comigo", revela Daisie.
"A minha mãe apoia-me sempre muito em tudo o que faço e tenho sorte por ser assim. Ela ficou muito feliz por mim", confessa Ryan Cleary, londrino de 27 anos e instrutor de fitness. Já Carmen Clarke conta que contou à "família e aos amigos que era bissexual há mais ou menos um ano": "A minha família apoiou-me e apoiou-me quando disse que ia participar no programa".
O primeiro encontro... na vida real
Ao SAPO Mag, a jovem fotógrafa Irene Ellis confessa que o programa a mudou. "Antes do programa, era calma, introvertida... agora, sou mais confiante", conta, recordado o seu primeiro encontro na vida real: "O meu primeiro date... estava tão nervosa e nem sabia que era um date. Estava na dúvida se era ou não".
"O meu primeiro date deve ter sido na escola, quando estive com alguém e nem sabia que era um date", graceja Mariella. Já Kyle McGovern recorda-se perfeitamente do seu primeiro encontro: "Na vida real, o meu primeiro encontro foi com uma rapariga, fomos ao cinema. Como deve acontecer com todos, fomos aproximando as mãos até uma tocar na outra".
Mas no caso do atleta olímpico Michael Gunning, o primeiro encontro foi durante as gravações de "The Bi Life". "Sou nadador internacional, viajo pelo mundo todo... nunca tinha tido um encontro antes deste programa, nunca tinha estado numa relação. Foi tudo novo para mim. E conheci-me um pouco melhor graças ao programa", conta ao SAPO Mag.
Conselhos para os espectadores
Em conversa com o SAPO Mag, os concorrentes deixaram ainda algumas dicas para os espectadores. "Num date, sejam vocês mesmos. Divertiam-se. Podem ficar nervosos, mas isso faz parte da experiência", frisa Kyle McGovern.
"Sejam mentes abertas, não julguem as pessoas. Sigam o vosso coração", acrescenta Carmen Clarke. Já Michael Gunning prefere lembrar que podem surgir grande amizades depois de um encontro: "Muita gente vai a dates com a esperança de encontrar o amor, mas podem fazer grandes amigos. Sejam vocês mesmo".
"The Bi Life" estreia esta sexta-feira, dia 4 de janeiro, às 21h00, no E! Entertainment.
*O SAPO Mag viajou até Londres a convite do E! Entertainment Portugal.
Comentários