A sátira social "The White Lotus" está de volta à HBO Max esta segunda-feira, 31 de outubro, para uma segunda temporada.

Na primeira temporada, passada num resort do Havai, o privilégio da classe alta e as diferenças sociais são o alvo do argumento do criador Mike White (argumentista de "School of Rock" e criador da série "Enlightened") e um elenco que incluía Jake Lacy, Alexandra Daddario, Jennifer Coolidge ou Connie Britton, entre outros, encarna personagens tão insuportáveis quanto carismáticas. A história tinha uma conclusão e fazia parecer que "The White Lotus" se poderia encerrar na primeira temporada, mas 20 nomeações aos Emmys e 10 estatuetas arrecadadas depois, chega uma segunda temporada à HBO Max.

A premissa é semelhante: gente rica e com defeitos de vária ordem vai passar uma semana num resort e há uma morte como pano de fundo que só no final vamos descobrir de quem é. O cenário e o elenco são renovados: do Havai passamos para a Sicília e do elenco da primeira temporada apenas regressam Jennifer Coolidge e Jon Gries e juntam-se à equipa atores como Theo James, Michael Imperioli, F. Murray Abraham ou Aubrey Plaza.

O SAPO Mag esteve à conversa com parte do extenso elenco da série sobre o que nos traz esta nova semana de férias num resort, agora com sete episódios (mais um do que a primeira temporada).

"Esta temporada é ainda mais épica do que a primeira. Há mais personagens, é mais sombria, mas também é igualmente divertida. E temos muito mais tempo para contar a história, com sete episódios em vez de seis, o que é bastante importante", explica Adam DiMarco, que interpreta Albie, o membro mais jovem da família Di Grasso, que decide levar três gerações de homens na viagem: o pai de Albie, interpretado por Michael Imperioli, e o avô, a quem dá corpo F. Murray Abraham.

Os temas recorrentes e os novos debates em "The White Lotus"

The White Lotus
créditos: HBO

Se o tema do privilégio de classe continua a ser central, há outros temas a emergir de forma mais aprofundada na segunda temporada. "Há um grande tema de sexualidade, género e política sexual, mas também toxicidade masculina. É um grande tema abordado em cada enredo, na verdade, assim como a forma como reagimos a isso", explica Theo James, que interpreta Cameron Sullivan, um marido que parece formar o casal perfeito com Daphne (Meghann Fahy), e que viaja na companhia de outro casal de amigos, interpretado por Aubrey Plaza e Will Sharpe.

"Começamos como o casal perfeito. Parecemos ricos e apaixonados e temos uma família, temos tudo isso, mas a evolução da série leva-nos para o buraco negro onde todas as personagens caem. As nossas personagens começam a desvendar as complexidades das relações, a escuridão por detrás delas. Embora haja amor, há também um elevado nível de toxicidade", descreve Theo James.

"O que o Mike [White] faz realmente bem é começar um debate. As pessoas não aprendem necessariamente com o seu comportamento tóxico. Elas não surgem necessariamente de uma forma tradicional. Trata-se de se iniciar uma conversa. Mas claro que a minha personagem representa um nível bastante elevado de toxicidade masculina", completa o ator.

"Ainda existem os temas de classe e privilégio, mas muito disso está agora implícito no próprio facto de que eles estão hospedados num incrível hotel de cinco estrelas. Penso que o Mike também se debruçou sobre estes outros temas como sexo. Tudo tem a ver com sexo", diz ao SAPO Mag o ator Adam DiMarco.

"Também penso que a percepção é um grande tema nesta temporada. Também temos muita paranóia. Todas estas pessoas podem estar na mesma situação ou numa situação semelhante, mas vê-la de forma diferente. Há muita reflexão sobre o que as outras pessoas pensam sobre nós", acrescenta.

A atriz Haley Lu Richardson é mais um dos novos nomes do elenco, no papel de Portia, a assistente de Tanya (a personagem de Jennifer Coolidge), que a leva consigo na viagem mas não quer que o marido note a sua presença.

"A Portia estava num momento muito perdido na sua vida, tem uma profunda angústia e um anseio por algo que a faça sentir realizada. E ela conhece um tipo, o Albie, que é tão seguro e que lhe daria bondade e estabilidade, mas isso não é suficiente para ela e para o lugar onde ela está na sua vida", conta Haley Lu Richardson sobre a sua personagem.

Três mulheres italianas e a responsabilidade de representar Itália

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créditos: HBO

Sabrina Impacciatore, Beatrice Granno e Simona Tabasco foram as três atrizes italianas escolhidas para interpretar as "locais" no elenco.

O cenário é o de uma Sicília postal, mas as três personagens fogem ao lugar comum e representam três mulheres italianas muito diferentes.

"Sinto a responsabilidade e a pressão de representar a Itália na série, a Itália neste preciso momento. Às vezes há coisas que são a ideia do postal de Itália mas, ao mesmo tempo, o Mike é tão brilhante que pintou o retrato de três mulheres italianas que estão tão distantes do cliché. São tão poderosas, tão originais. Para mim, enquanto atriz italiana, li o meu papel e fiquei tão entusiasmada", explica Sabrina Impacciatore, que interpreta Valentina, a gestora do resort.

Beatrice Granno é Mia e Simona Tabasco interpreta Lucia, duas mulheres que entram no resort para se aproveitarem do dinheiro e do estatuto dos hóspedes. A personagem de Michael Imperioli, Dominic, tem um caso com Lucia e há várias cenas íntimas durante a temporada.

"Vemos, ao longo da temporada, que a Lucia e a sua personagem dá muitas voltas e nunca acabamos por ter a certeza de onde ela está a ir. Tive também a ajuda do coordenador de cenas íntimas para ajudar a construir as cenas. Fiquei feliz por ver o resultado, por ter sido um processo simples", explica Simona Tabasco.

"Estou muito curiosa para ver como a Itália vai receber estas personagens", acrescenta Sabrina Impacciatore, cuja personagem Valentina é uma espécie de equivalente à de Murray Bartlett na primeira temporada, embora com traços de personalidade muito diferentes.

"Fiquei aterrorizada quando fiquei com o papel. O Murray Bartlett é um génio. Ele tornou-se um ícone da série. Estava tão aterrorizada, que não consegui dormir bem durante semanas. Estava obcecada pelo papel dele. E depois apercebi-me de que tinha de me acalmar. Era uma personagem diferente. Na primeira temporada, a personagem tinha sido escrita de uma forma explosiva. A Valentina é uma personagem mais implosiva. Depois de semanas sem dormir, comecei a criar as suas camadas, de como ela é implosiva, de como ela esconde as coisas, do seu lado interior inocente. No final adorei a Valentina e agora sinto a falta dela", conta a atriz italiana.

Nas primeiras críticas publicadas, a segunda temporada de "The White Lotus" parece seguir o mesmo nível de elogios da primeira. Para a atriz Meghann Fahy (Daphne Sullivan na série) é fácil de perceber o que a série tem de único: "Algo que realmente distingue a série é a forma como Mike não cria necessariamente nenhuma das suas personagens para terem um arco que as mude. Penso que, em muitas séries, vemos as personagens passarem por uma coisa e depois evoluírem. E isso é verdade, de alguma forma, nesta temporada, mas penso que o que é tão refrescante e único em 'The White Lotus' é que o Mike não segue esse caminho. Ele cria personagens e liberta-as, ele não está preocupado em atar pontas soltas".

A segunda temporada de "The White Lotus" chega esta segunda-feira à HBO Max.