Sérgio Figueiredo falava em entrevista à Lusa no dia em que foi anunciado um novo acordo entre a TVI e a Eleven Sports para transmitir a Liga dos Campeões de Futebol nas próximas duas temporadas.

Apesar da TVI ter perdido a liderança este ano, após 12 anos no topo, para a concorrente SIC, Sérgio Figueiredo não baixa os braços: "A vida é feita de ciclos, mas a nossa convicção é que este novo ciclo não vai durar tanto tempo como o anterior".

E para isso conta com a "total solidariedade e entreajuda das equipas da TVI" porque estão "todos no mesmo barco", prosseguiu.

"Evidentemente que a informação tem hoje audiências no acesso aos dois principais jornais que não tinha, claro que preferíamos todos nós que esse contexto fosse o que já foi. Em 2017, o 'Jornal das 8' ganhou 322 dos 365 dias e não andámos a dar entrevista" sobre isso, comentou.

"Mesmo à data de hoje, o 'Jornal das 8' ainda lidera em todos os critérios do ano", mas agora "estamos mais cercados pela concorrência", considerou, apontando que houve um conjunto de medidas que a TVI tomou "antes da SIC mostrar todos os seus trunfos e a RTP despertar de uma longa calma".

Em suma, "a concorrência está mais competente e ativa", resumiu o diretor de informação.

Perante o atual cenário, "está na hora de nos reinventarmos outra vez", considerou, apontando que a TVI já está a trabalhar numa perspetiva de "médio prazo".

Aliás, em outubro realizam-se as eleições legislativas e a TVI vai fazer "abordar com a competência de sempre" a campanha eleitoral, que conta com um reforço de 'peso', o humorista Ricardo Araújo Pereira.

"À imagem daquilo que fez há quatro anos, nas legislativas anteriores, vai passar a fazer diariamente aquilo que tem feito aos domingos: um suplemento humorístico no Jornal de segunda a sexta", disse.

O projeto arranca antes da campanha eleitoral e termina uma semana depois das eleições, mas será "um produto diferente" daquele que existe atualmente ao domingo, explicou.

Ou seja, "vamos recuperar o conceito das entrevistas aos protagonistas políticos e outros que se destaquem nesse período", disse, adiantando que tal estava "desenhado já há algum tempo".

Mas há novidades para serem anunciadas "em breve" e que "vão até 2022", avançou Sérgio Figueiredo, porque "o presente tem de se preparar com alguma antecedência", sem revelar detalhes.

Questionado sobre se a perda de audiências o deixa sem dormir, Sérgio Figueiredo admitiu que, apesar de dormir bem, é sempre um tema que "tira o sono", até mesmo quando a TVI liderava as audiências.

"São motivo de grande interesse de todos os diretores de televisão, mesmo quando estávamos à frente de todos os outros", comentou.

Sérgio Figueiredo apontou que na televisão assiste-se a uma mudança de hábitos de consumo, o que se reflete nas audiências.

"Hoje não somos líderes, mas o líder tem uma quota de mercado atualmente inferior àquela que a TVI tinha quando fechou o ano 2018 na liderança. Isso significa que estamos todos a perder: os canais generalistas estão, este ano, com uma queda de 4%, 5%", destacou.

"É preciso fazer uma abordagem completa, em que a soma é que conta", ou seja, "se perdermos audiência do nosso canal generalista para as nossas plataformas digitais estamos a perder para nós próprios. Então, não é uma perda", sublinhou, apontando que o digital tem "crescido bastante" na TVI.

"O digital é outra forma de conceber a televisão, não é só acrescentar mais um canal distribuição dos mesmos conteúdos", é "um caminho que começou há anos", de "colocar o digital no centro da operação", explicou o jornalista.

E agora "estamos a retirar frutos disso porque a TVI conquistou a liderança da Internet em Portugal em abril, consolidou em maio, ampliando a vantagem para o segundo classificado. Isto é inédito em Portugal", porque tipicamente quem tinha uma posição dominante no digital era a imprensa ou os portais.

"Nunca nenhuma televisão tinha chegado a essa posição, isso significa uma reconversão do modelo de televisão que prepara o futuro da própria televisão", considerou.

O mesmo, disse, acontece nas redes sociais: "Estamos claramente a ganhar posições de vanguarda em relação a outras televisões, se somar a TVI à TVI24 lideramos em todas redes sociais. Isto é algo que não dá grandes manchetes de jornais, mas é absolutamente crucial para o futuro da TVI".

"Se no 'free to air' [sinal aberto] perdemos a posição que tínhamos conquistado há mais de 12 anos, estamos claramente a ganhar no futuro", afirmou.

A TVI tem já garantida, nas próximas duas temporadas, a transmissão da 'Champions', que é "de longe o melhor produto que existe no mundo do futebol, é um grande trunfo que a TVI tem para encarar os próximos dois anos, que são de recuperação de uma posição que nos habituámos a ter", salientou Sérgio Figueiredo.

O diretor de informação acredita que os "canais generalistas não vão desaparecer", mas antes vão ter de "se reconfigurar com a realidade", passando de quotas de mercado entre 30% a 40%, para realidades nos dois dígitos, "aquém dos 20%".

Nesta entrevista à Lusa após uma paragem forçada no trabalho devido a "fadiga acumulada e cansaço extremo", Sérgio Figueiredo acredita que a TVI vai inverter a situação e voltar a liderar.

"Acho que esta aposta que fizemos em temos de reconfiguração do negócio, de colocar as plataformas digitais no centro das nossas decisões foi o caminho certo", mas o qual "não está acabado".