O cinema de terror volta a invadir Lisboa naquele que é o único evento do género na cidade.

O MOTELx decorre entre 6 e 11 de setembro no tradicional cinema São Jorge – com a programação a estender-se ainda a espaços como o Teatro Tivoli e a Cinemateca Júnior. Muitas sessões à meia-noite, à tarde e até pela manhã (obras da secção Lobo Mau, visando o público infantil) conjugam-se com uma multiplicidade de eventos paralelos que incluem 'masterclasses', 'workshops' e o lançamento do livro comemorativo dos dez anos de festival, entre outras atividades.

Em 2015, segundo a organização, um público recorde de 18 mil espectadores frequentou as sessões do MOTELx. Nada mau para um festival que iniciou como um pequeno cineclube entre aficionados.

“Quando começámos tínhamos três objetivos essenciais”, relembra João Monteiro, um do dos diretores. “Queríamos apresentar filmes representativos da produção mundial, trazer a Portugal mestres do terror e estimular a produção nacional. Passados dez anos, acho que cumprimos este objetivo”, diz.

Uma das novidades este ano é a competição internacional, iniciativa surgida no âmbito da ligação do festival com a European Fantastic Film Federation.

Conforme acredita Monteiro, a mostra de projetos de qualidade de países sem tradição no terror, como Turquia, República Checa, Noruega, Dinamarca e Áustria, também serve de estímulo a que os portugueses se lancem na produção de longas-metragens. Concorrem ao prémio sete projetos europeus. A competição de curtas-metragens nacionais, por seu lado, continua a existir.

Não respires!

O filme de abertura será “Não Respires”, a única obra de toda a seleção com previsão de lançamento em Portugal. Esta 'home invasion' está a fazer furor nas bilheteiras internacionais – contando a história de um grupo de jovens que invade a casa de um idoso cego para roubar, mas o assalto termina por não ser assim tão fácil. Trata-se de uma produção do consagrado Sam Raimi com realização de Fede Alvarez – justamente realizador do 'remake' do clássico de Raimi, “A Noite dos Mortos Vivos”, em 2013.

No panorama da cinematografia mundial, incluído na secção Serviço de Quarto, o destaque vai para centros reconhecidos de produção de terror, como os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul.

Entre os filmes estão “The Wailing”, uma obra sul-coreana bem-recebida na última edição do Festival de Cannes, local por onde passou também o muito pouco consensual “Personal Shopper” – onde o francês Olivier Assayas, depois de “As Nuvens de Sils Maria”, novamente reuniu uma Kristen Stewart a distanciar-se da saga “Crepúsculo”.

Outro aspeto é a cada vez mais notória associação entre cinema de terror e festivais de arte – com o MOTELx a exibir uma série de títulos passados por Sundance, Berlim e Cannes, entre outros. Em Portugal, o próprio IndieLisboa, com a secção Boca do Inferno, já tinha assinalado a tendência.

“Acho que parte de uma tentativa destes eventos em injetar visceralidade ou correm o risco de perder o público”, analisa o diretor do festival.

Quarto Perdido: a história não contada do cinema português

“A historiografia do cinema português é muito tendenciosa. Fala-se que até os anos 50 os filmes eram maus e que o Cinema Novo veio combatê-los. O problema é que nunca vais saber que cinema ‘horrível’ era esse e porque era considerado assim”, diz Monteiro – justificando a existência de um trabalho de pesquisa que acompanha as edições anuais do certame. Em 2016 serão exibidos dois filmes da realizadora Noémia Delgado, “Tiaga” e “A Princesinha das Rosas”, e outro de um velho conhecido do festival, António de Macedo.

No caso deste último, trata-se de uma antestreia mundial de uma obra totalmente reeditada a partir de um original feito para RTP no início dos anos 90 – a série “Altar dos Holocaustos”. Rebatizada de “O Segredo das Pedras Vivas”, é um novo projeto que, desde o início, foi sempre pensado para cinema. “Temos a ironia de, numa seção retrospetiva, termos uma antestreia mundial de uma obra inédita”, assinala.

Emoções extra-fortes: a Retrospetiva

Pelo menos três dos quatro títulos presentes não vão deixar ninguém indiferente. Um deles pelo erotismo associado à bizarrice: “La Bête” é um clássico escandaloso de Walerian Borowczyk que causou furor nos anos 70 - particularmente por associar a sexualidade humana com a bestialidade animal.

Já “Holocausto Canibal”, cuja sessão contará com a presença do realizador, Ruggero Deodato, é outro marco do género – não só por ser dos primeiros a introduzir o 'found footage' como por toda a polémica que envolveu, em 1980, o lançamento de um filme que trazia doses pouco habituais de violência explícita.

Já no caso do espanhol “In a Glass Cage”, de Agustí Villaronga o terror é psicológico – abordando uma das obsessões do cinema do país vizinho – as crianças. Desta vez elas surgem inseridas num pérfido cenário de abusos nos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial. E, quando a vingança chega, o sadismo vem com ela...

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