"Tio Tomás - A Contabilidade dos Dias", de Regina Pessoa, ganhou o troféu de Melhor Curta-Metragem nos prémios Annie, considerados o equivalente aos Óscares no mundo da animação. A concurso na mesma categoria estava outro filme nacional, "Purple Boy", de Alexandre Siqueira. O português Sérgio Martins também ganhou na categoria de Melhor Animação de Personagens em Longa-Metragem, pela personagem de Alva no filme "Klaus".

A curta-metragem de 13 minutos com que a cineasta recorda e homenageia o seu tio Tomás foi produzida pela portuguesa Ciclope Filmes, pelo National Film Board of Canada e pela francesa Les Armateurs. Entre os muitos galardões que já conquistou contam-se o Prémio Especial do Júri e o Prémio para a Melhor Música no Festival Internacional de Animação de Annecy, o mais importante do mundo, e o Grande Prémio do Festival Internacional de Animação do Brasil - Anima Mundi.

"Não estava à espera disto", começou por dizer Regina Pessoa no seu discurso de agradecimento" que dedicou em grande parte ao homem que inspirou o filme. "O filme é um tributo ao meu tio Tomás, foi com ele que comecei a aprender a desenhar com carvão da lareira nas paredes da casa da minha avó, foi uma forma invulgar de começar a crescer mas, de alguma forma, agora estou a fazer filmes animados. Ele era um homem simples, não era importante para ninguém, mas era importante para mim e queria mostrar isto no meu filme, que não temos de fazer coisas extraordinárias na vida para sermos importantes na vida de alguém", disse a realizadora.

"Purple Boy", de Alexandre Siqueira (à direita de Regina Pessoa na imagem acima, partilhada pela própria no Facebook), estava também nomeado na categoria de Melhor Curta-Metragem. Coproduzido pela portuguesa Bando à Parte com a França e a Bélgica, também tem atravessado o mundo em festivais e conquistado galardões muito relevantes, incluindo o Grande Prémio do Animage - Festival Internacional de Animação de Pernambuco.

Mas a noite foi dominada pela Netflix, que conquistou 19 troféus em 37 nomeações, espalhadas pelas diversas categorias. A primeira longa-metragem produzida pela Netflix, "Klaus", foi a grande vencedora da noite e bateu outros gigantes como a Disney ou a Pixar, que tinham na corrida "Frozen II: O Reino do Gelo" e "Toy Story 4", ao conquistar o Annie em todas as sete categorias para as quais foi nomeada: Melhor Longa-Metragem de Animação, Melhor Realização (para o espanhol Sergio Pablos), Melhor Animação de Personagens (para o português Sérgio Martins), Melhor Design de Personagens, Melhor Direção Artística, Melhor Storyboard e Melhor Montagem.

Presença portuguesa nos Óscares com nomeação de
Presença portuguesa nos Óscares com nomeação de "Klaus"

A vitória esmagadora de "Klaus", produzido em Espanha e que conta uma história alternativa do Pai Natal, baralha assim as contas nas nomeações aos Óscares, que davam "Toy Story 4" como o favorito à vitória na categoria, mas que saiu da cerimónia dos Annies de mãos a abanar. É que desde que a categoria do Óscar para Melhor Longa-Metragem de Animação foi criada em 2002, 13 dos 18 vencedores arrebataram também o Annie, incluindo seis vezes nas últimas oito cerimónias.

Além de Sérgio Martins, supervisor de animação no filme, também o seu irmão Edgar Martins teve um papel relevante em "Klaus", como supervisor na área do argumento.

Mas não foi só com "Klaus" que a Netflix triunfou na cerimónia: também o filme francês "J'Ai Perdu Mon Corps", premiado na Semana da Crítica do Festival de Cannes e posteriormente adquirido para distribuição pela plataforma de streaming, ganhou os galardões de Melhor Longa-Metragem Independente, Melhor Argumento e Melhor Banda Sonora.

Também na vertente televisiva a Netflix saiu vencedora: a série "Love, Death & Robots" ganhou quatro galardões e foi o projeto mais premiado da noite a seguir a "Klaus", com os troféus para Melhores Efeitos Animados, Melhor Banda Sonora, Melhor Direção Artística e Melhor Montagem para produção televisiva.

Ainda para a Netflix e nas áreas televisivas foram os troféus de Melhor Série Televisiva Generalista, para "BoJack Horseman", Melhor Série Televisiva Pré-Escolar, para "Ask the StoryBots", Melhor Storyboard e Melhor Design de personagens para "Carmen Sandiego", e Melhor Argumento de Série Televisiva, para "Tuca & Bertie".

Para a Disney sobraram os galardões de Melhor Série de Televisão para Crianças e Melhor Realização para Televisão, pela série "Mickey Mouse",  Melhores Efeitos Animados em Longa-Metragem por "Frozen II: O Reino do Gelo", que valeu também a Josh Gad o galardão para melhor prestação vocal numa produção de longa-metragem, pela personagem de Olaf. A sequela de "Frozen" partia como um dos favoritos da noite, com oito nomeações, empatada com "Mr. Link", da Laika, que acabou por sair da cerimónia sem qualquer prémio.

A 47ª edição dos prémios Annie decorreu no Royce Hall da UCLA, em Los Angeles, na California, e é promovida pelo ramo de Hollywood da ASIFA, a Associação Internacional do Cinema de Animação.