O realizador e argumentista José Miguel Moreira estreia hoje em Ovar a curta-metragem de ficção "Carnaval Sujo", um ‘thriller’ com cenário na ria de Ovar inspirado pelas tradições locais do Entrudo dos anos 1950.
A produção financiada por Vasco Josué, Cineclube de Avanca e Município de Ovar apresenta-se com música de Rui Massena e é protagonizada por Pedro Rodil, Inês Costa, Rui Spranger e Beatriz Bastos.
A comunidade de Ovar com ligação à principal festa do concelho também foi envolvida nas filmagens, já que cerca de 30 elementos do grupo carnavalesco "Xáxas" fizeram figuração no filme, envergando trajes tradicionais de dominó e de gigantones.
Em declarações à Lusa, José Miguel Moreira revela que, sendo natural de Ovar, sempre desejou realizar um filme em que pudesse "dar a conhecer o ‘Carnaval Sujo' dos anos 50, quando as pessoas saíam para a rua numa espécie de batalha campal em que atiravam farinha e lama umas às outras - a maioria das vezes divertindo-se muito com isso, mas outras também se chateando a sério".
É nesse "carnaval ancestral", aliás, que tem origem o traje de dominó, constituído por uma capa preta comprida com capuz, que pode ser decorada por algumas aplicações têxteis coloridas e é tendencialmente rematada com uma máscara inexpressiva que dificulte a identificação do utilizador.
"O Carnaval dessa época tinha um espírito mais transgressivo, mais misterioso e primário, e foi essa vertente mais genuína e pura que eu quis retratar", explica José Miguel Moreira.
O enredo da curta de 16 minutos aposta, por isso, num ambiente de mistério e perseguição em torno de um jovem casal de visita à ria. As filmagens realizaram-se em outubro, para garantia de cenários mais sombrios, e o realizador admite que foram muitos os imprevistos relacionados com chuvas, vento forte e amplitude das marés.
"Gravámos na Moita, que é uma zona muito pantanosa, e nunca senti tanto frio na vida", confessa José Miguel Moreira. "As condições do local também tornaram muito mais exigente toda a logística da produção, como aconteceu com a iluminação, o ‘catering' e as dormidas, mas a verdade é que toda a gente de Ovar nos ajudou muito, inclusive com descontos nos serviços", realça.
Carlos Ramos integra o grupo "Xáxas", fundado em 1970, e reconhece ao novo filme particular "valor pedagógico" pela oportunidade que proporciona às gerações mais novas de conhecerem as origens do Carnaval de Ovar.
"No nosso grupo ainda temos três ou quatro pessoas com memórias próprias do Carnaval Sujo, mas a maioria de nós só tem verdadeira noção do que isso era pelas fotografias que resistiram até hoje e pelo relato dos nossos pais, que ainda viveram esse tempo", declara.
O Carnaval de Ovar, na atualidade, "já não preserva nada da festa antiga, está totalmente diferente e é agora um evento extremamente organizado", pelo que Carlos Ramos vê no filme de José Miguel Moreira "uma espécie de lição de História sobre como tudo começou".
Após o seu lançamento hoje à noite no Centro de Artes de Ovar, a curta-metragem "Carnaval Sujo" vai integrar o circuito competitivo de "dezenas de festivais de cinema por todo o mundo".
A distribuição será da Filmógrafo, que procurará levar o filme ao circuito comercial como apêndice de longas-metragens e que também já tem prevista a sua exibição televisiva na RTP.
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