A Disney despediu o realizador James Gunn da saga "Guardiões da Galáxia".

A decisão foi avançada pelo Deadline e confirmada em comunicado pelo estúdio. Surge após terem recebido destaque nas últimas horas mensagens antigas suas do Twitter sobre temas como a violação e pedofilia, mas também sobre o 11 de setembro, a Sida e o Holocausto, que o próprio descreveu como "piadas chocantes" e deixaram o estúdio que faz filmes para as famílias sem margem de manobra.

"Os comportamentos ofensivos e declarações descobertos no feed do Twitter do James são imperdoáveis e inconsistentes com os valores do nosso estúdio, e rompemos a nossa relação profissional com ele", revelou Alan Horn, presidente do conselho de administração da Walt Disney Studios.

James Gunn era visto há muitos anos como um provocador de sentido de humor retorcido que acabou por o tornar a escolha ideal para o primeiro "Guardiões da Galáxia" em 2014. A sequela foi lançada em maio de 2017 e ele tinha entregue há poucas semanas o argumento para o terceiro filme, cuja rodagem estava prevista para o ano que vem e a estreia no verão de 2020.

Além disso, em abril ele tinha também revelado que iria trabalhar com a Marvel (detida pela Disney) para ajudar definir as histórias dos filmes da quarta fase do universo cinematográfico, posteriores a "Avengers 4", que estreia em abril de 2019 e concluirá não só "Vingadores: Guerra do Infinito" mas também a história que começou com "Homem de Ferro" (2008).

A implosão da carreira ocorreu em poucas horas a partir de quinta-feira ao fim da tarde.

James Gunn é um liberal que costuma publicar mensagens sobre a sua oposição a Donald Trump, o que tem deixado em fúria vários apoiantes do presidente dos EUA. Um deles, Mike Cernovich, conhecida personalidade da extrema-direita que divulga habitualmente teorias da compiração ao seus milhares de seguidores, começou a recuperar mensagens antigas do realizador, que descreveu como tendo "conteúdo pedófilo".

Mais de 10 mil, foi também notado, terão sido apagadas num curto espaço de tempo quando começou a polémica.

Segundo este declarado opositor, o realizador também desativou o seu "site" pessoal, www.jamesgunn.com, onde estavam conteúdos semelhantes.

O filme "Os Mercenários" ser tão viril que o tinham levado a fazer sexo com um miúdo que era seu vizinho ou qual dos concorrentes do concurso "American Idol" estava a liderar a votação para ser violado por ele são alguns dos textos de James Gunn publicados entre 2008 e 2011 e "preservados" agora pelos seus críticos.

Mike Cernovic também colocara pressão sobre a Disney.

Numa série de mensagens publicadas ao fim da noite, madrugada de sexta-feira em Portugal, o realizador pediu desculpa pelo teor dos seus textos.

"Muitas pessoas que têm seguido a minha carreira sabem que, quando comecei, me via a mim próprio como um provocador, a fazer filmes e a dizer piadas que eram ultrajantes e tabu. Como comentei publicamente muitas vezes, tal como evoluí como pessoa, também aconteceu o mesmo com o meu trabalho e humor."

"Não quer dizer que estou melhor, mas sou muito, muito diferente do que era há alguns anos; hoje tento enraizar o meu trabalho em amor e afetividade e menos em raiva. Acabaram os meus dias a dizer algo só porque é chocante e tentar conseguir uma reação."

"No passado pedi desculpa por humor que fiz que magoou as pessoas. Estava verdadeiramente arrependido e a ser sincero."

"Para que conste, quando fiz essas piadas chocantes não as estava a viver. Sei que é estranho fazer esta afirmação, e parece óbvio, mas, ainda assim, aqui estou eu, a dizê-la. "

"De qualquer forma, esta é a verdade completamente honesta: costumava fazer muitas piadas ofensivas. Já não as faço. Não culpo o meu passado por isso, mas hoje gosto mais de mim mesmo e sinto-me como um ser humano e criador mais completo. Adoro-vos a todos."