Sylvester Stallone deu uma longa entrevista à revista The Hollywood Reporter onde falou abertamente sobre a sua carreira e arrependimentos, tantos pessoais como profissionais... e no caso dos segundos, um deles até mereceu chamar-se a si mesmo de "idiota".
O pretexto para o balanço foi a primeira experiência numa série televisiva: a estreia a 13 de novembro de "Tulsa King", criada por Taylor Sheridan (o mesmo de "Yellowstone"), mas também um "reality show" para 2023 sobre a sua vida familiar, ao estilo de "Keeping Up With the Kardashians".
Além do orgulho pela forma como saíram "Rocky Balboa" (2006) ou "John Rambo (2008) e destacar como filmes que mereciam ser revalorizados a nova versão de "Get Carter" ("Carter - A Vida é Dura", de 2000) e "Copland - Zona Exclusiva" (1997), falou-se inevitavelmente dos projetos recusados: Stallone indicou como a maior mágoa "Witness" ("A Testemunha" em Portugal, de 1985), que viria a ser feito com Harrison Ford.
A resposta mais inesperada foi à pergunta de qual foi o maior salário que recebeu: "recusei 34".
E conta a história: quando ainda estava a fazer "Rambo III" (1988), na fase em que todos pensavam que iria ser um sucesso gigantesco (não foi), em que "me pagaram uma fortuna", o estúdio quis avançar com o quarto filme e colocou-lhe à frente um contrato "pay-or-play" de 34 milhões de dólares.
Ou seja, o compromisso de que receberia o salário [pay] mesmo que o estúdio acabasse por não fazer o filme [play].
Stallone diz que achou que era precipitado e não quis, altura em que o jornalista recorda que estão a falar de dólares da década de 1980: com a inflação, seriam agora aproximadamente 85 milhões.
A resposta foi esclarecedora: "A sério. Isso não é uma piada. Mas que idiota. Agora, penso nisso e... uau".
Entre os temas abordados na longa entrevista estiveram o peso da idade (76 anos); a falta de humildade no início da carreira, quando se tornou estrela após "Rocky"; o "erro trágico" de colocar o trabalho à frente da família e que admite quase lhe ter custado o casamento de 25 anos com Jennifer Flavin no último verão (e que será abordado no "reality show"); os abusos de poder quando se tornou estrela de cinema (mas desmente ter maltratado qualquer mulher); o de ter cometido todos os erros possíveis em Hollywood, com exceção de consumir drogas; noções de masculinidade, a cultura de cancelamento e o #MeToo; a amizade com Arnold Schwarzenegger depois de décadas de rivalidade; e a tristeza com a situação de saúde de Bruce Willis.
Houve outros temas mais profissionais: o tempo que desperdiçou a fazer maus filmes no final da década de 1980 e início da de 1990, como "Pára ou a Mamã Dispara"; o perigo de disparar armas nas rodagens, defendendo o uso de efeitos especiais; a mágoa por não ter direitos da saga "Rocky" e a ausência de Rocky Balboa de "Creed III" ("uma situação lamentável"), que vai numa direção "bastante diferente" da que ele teria seguido; o recorde de 13 nomeações consecutivas para os prémios Razzie (os "Óscares dos piores"); ou a sensação "horrível" de perceber durante as entrevistas à imprensa, ainda antes da estreia, que um filme não vai funcionar nas bilheteiras.
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