Realizador de documentários com críticas corrosivas aos excessos do sistema, Michael Moore surpreendeu o público ao apresentar o seu novo filme, "Michael Moore in Trumpland", uma vibrante defesa da candidata democrata Hillary Clinton.
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2004 por "Fahrenheit 9/11" e do Óscar de Melhor Documentário em 2003 por "Bowling for Columbine", Michael Moore produziu com caráter de urgência, em apenas 12 dias, "Michael Moore in Trumpland", cuja montagem terminou na terça-feira, exatamente três semanas antes da eleição presidencial nos Estados Unidos.
Não foi tanto Donald Trump que o levou a agir, explicou, e sim o medo de ver Hillary Clinton, uma candidata sem apelo popular, não receber o apoio necessário nas urnas no dia da votação.
'Quanto mais observava os simpatizantes de Hillary na sua dança da vitória como se tudo já tivesse acabado, mais pensava: você estão a eleger Donald Trump', recorda.
O cineasta e ativista de esquerda escreveu e filmou uma iniciativa pessoal que, ao contrário do que muitos poderiam imaginar, não tenta demolir Donald Trump e sim humanizar Hillary Clinton, para tentar convencer aqueles que ainda não decidiram o seu voto.
'Ninguém precisa de um filme que mostra que Donald Trump é cheio de m**** e um ser humano horrível. Quem iria ver esse filme?', afirma o cineasta, que ganhou primeiro fama com o documentário "Roger & Eu" (1989).
'Queria fazer algo subversivo, algo inesperado', disse. E o resultado é bastante otimista.
Ele explica que tem dois alvos com a longa-metragem. E o mais evidente: os eleitores que pretendem votar no candidato republicano.
O filme mostra uma apresentação de Michael Moore num teatro de Wilmington, uma pequena cidade de Ohio que fica em um condado onde os eleitores republicanos representam uma grande maioria.
Moore deu-se ao trabalho inclusive, explicou, de ter certeza de que pelo menos de 150 a 200 pessoas, entre as 700 presentes no local, eram pessoas que pretendiam votar em Trump.
Para provocar uma reflexão, Moore utiliza o humor, mas sobretudo um elemento diferente para aqueles aos quais pede apoio para Hillary Clinton: fala sobre suas origens.
Candidato em 2020?
Michael Moore nasceu, cresceu e a ainda reside em Michigan, um estado industrial que está entre os mais afetados pela crise económica nos EUA. E que tem um republicano como governador.
Ele fala de igual para igual com os desiludidos, os frustrados e aqueles que consideram Donald Trump 'um cocktail molotov humano'.
Em vez de perder tempo com explicações sobre como Trump virou um empresário, o cineasta faz um apelo de apoio a uma sociedade mais igualitária, mais justa, com destaque especial para melhorar as condições de vida das mulheres.
Ele recorda, com sensibilidade, a longa batalha das mulheres pela emancipação e chegou a causar lágrimas em vários espectadores durante o seu espetáculo em Wilmington.
'O que garantiria mais esta evolução, depois da eleição de um presidente negro há oito anos, que a eleição de Hillary Clinton?', questiona.
Com este argumento, ele tenta chegar igualmente aos que representam o seu segundo objetivo e possivelmente o principal: os abstencionistas, especialmente os seguidores de Bernie Sanders nas eleições primárias democratas, que ainda resistem a apoiar Hillary Clinton.
'Metade do país não vai votar. A intenção é alcançar estas pessoas', recordou o cineasta, que pretende convencer mais eleitores a comparecer às urnas.
Além de falar sobre as suas origens, Moore também lembra o seu passado político: nunca votou em Hillary Clinton. Foi Bernie Sanders que teve seu apoio nas primárias deste ano e votou em Barack Obama em 2008.
'Acho que sou um mensageiro improvável', ironiza Moore sobre o seu filme.
Depois da estreia na quarta-feira numa sala de cinema de Nova Iorque e em outra de Los Angeles, o filme deve ser exibido em 30 cidades americanas e disponibilizado nas plataformas digitais, anunciou o realizador.
Longe de assinar um cheque em branco à candidata democrata, ele adverte que se Hillary Clinton for eleita e não respeitar seu programa, ele diz estar disposto a ser candidato em 2020.
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