Dois Óscares, quatro Emmys, três Globos de Ouro, um Tony, sete Baftas... Maggie Smith, falecida esta sexta-feira aos 89 anos, conquistou um número impressionante de prémios que destacam o seu talento dos palcos ao grande e pequeno ecrã, do drama à comédia, durante uma carreira de incrível longevidade onde a fama global chegou numa fase já avançada.
A notícia da sua morte foi dada pela família.
"É com grande tristeza que anunciamos a morte da Dama Maggie Smith. Ela faleceu pacificamente no hospital esta manhã, sexta-feira, 27 de setembro. Uma pessoa intensamente reservada, estava com amigos e familiares no final. Deixa dois filhos e cinco netos amorosos que estão devastados pela perda da sua extraordinária mãe e avó. Gostaríamos de aproveitar esta oportunidade para agradecer à maravilhosa equipa do Chelsea and Westminster Hospital pelo cuidado e gentileza incondicional durante os seus últimos dias. Agradecemos todas as suas mensagens gentis e apoio e pedimos que respeitem nossa privacidade neste momento”, diz o comunicado assinado pelos filhos, os atores Toby Stephens e Chris Larkin.
Ícone do teatro e do cinema britânicos, Maggie Smith conquistou o carinho de um vasto público internacional com o papel da rabugenta, mas terrivelmente cativante, condessa de Grantham, na série de televisão "Downton Abbey", com seis temporadas entre 2010 e 2015.
Durante a longa carreira, "Dame Maggie" assumiu papéis diversos, de madre superiora ao lado de Whoopi Goldberg em "Do Cabaré Para o Convento" (1992), de Minerva McGonagall, a professora de "transfiguração" nos filmes da saga "Harry Potter" (2001-2011), acompanhante neurótica em "Quarto com Vista Sobre a Cidade" (1986) ou idosa sem abrigo em "A Senhora da Furgoneta" (2015).
Outro grande sucesso de bilheteira na última fase da sua carreira foi "O Exótico Hotel Marigold" (2011) e a sequela quatro anos depois.
Mas foi Lady Violet, com os seus comentários ácidos e mimetismo hilariante, imortalizando frases como "O que é um fim de semana?", que a tornaram uma celebridade ainda mais global, em choque com a sua personalidade reservada e avessa a contactos com a imprensa.
"Vivia uma vida perfeitamente normal antes de 'Downton Abbey'", série vendida em mais de 150 países, reconheceu a atriz em abril de 2017 no British Film Institute (BFI).
"Ia ao teatro, galerias de arte, coisas assim, sozinha. Agora já não posso mais", lamentou na altura.
A atriz interpretou a exigente aristocrata e ganhou um Globo de Ouro e três Emmys durante as seis temporadas. Após se recusar inicialmente a participar da adaptação da série para o cinema, a atriz finalmente concordou em encarnar novamente a aristocrata inglesa em dois filmes, em 2019 e 2022.
O seu último trabalho foi "O Clube dos Milagres" (2023), que estreou nos cinemas portugueses no fim de junho.
"Intolerante com os imbecis"
Nascida em 28 de dezembro de 1934 em Ilford, Essex (sudeste da Inglaterra), Margaret Natalie Smith debutou nos palcos da Universidade de Oxford no início dos anos 1950.
Em 1959, ingressou no grupo teatral londrino de Old Vic e começou a ganhar prémios, juntando-se quatro anos depois ao Royal National Theatre, interpretando Desdémona ao lado de Laurence Olivier e teve bastante sucesso ao lado do seu marido, Robert Stephens, com "Black Comedy", "Miss Julie", "The Country Wife", "The Beaux Stratagem" e "Muito Barulho Por Nada".
A sua carreira no cinema descolou na década de 1960 e ganhou o Óscar de Melhor Atriz por "Quando a Primavera acaba" (1968). A segunda estatueta, como Atriz Secundária, foi por "Um Apartamento na Califórnia" (1978).
Como secundária, foi também nomeada para os maiores prémios do cinema por "Othello" (1965), "Quarto com Vista Sobre a Cidade" (1986) e "Gosford Park" (2001), e como a protagonista de "Viagens com a Minha Tia" (1972).
No plano pessoal, o seu casamento com Stephens, alcoólico, infiel e depressivo, afundou em 1973. Com dois filhos, Chris Larkin e Toby Stephens, divorciou-se em 1975 e casou-se pouco depois com o dramaturgo Alan Beverly Cross, com quem partiu para viver e trabalhar no Canadá. Terá sido uma relação mais feliz que durou até à morte de Cross em 1998.
Uma das artistas britânicas mais famosas e célebres, Maggie Smith era "Dame" desde 1989, Comandante da Ordem do Império Britânico desde 1990 e Companheira de Honra desde 2014, juntamente com Ian McKellen e Judi Dench, uma recompensa pelos serviços prestados ao país no campo das artes.
A atriz era conhecida pelo seu humor e a sua preocupação com a perfeição.
"É verdade que não tolero imbecis e, portanto, eles não me toleram. Por isso irrito-me. Talvez seja por isso que sou boa o suficiente para interpretar velhas tolas", confessou ao jornal The Guardian em 2014.
Assim, destacou-se ao interpretar a snobe Lady Constance no filme "Gosford Park" (2001), de Robert Altman, cujo argumento foi escrito por Julian Fellowes, que criou e escreveu todos os episódios de "Downton Abbey".
"Ela pode captar num instante mais do que muitos atores podem transmitir num filme inteiro. Pode ser ao mesmo tempo vulnerável, feroz, sombria e hilariante e traz todos os dias para o palco a energia e a curiosidade de um jovem ator que acabou de começar", disse Nicholas Hytner, que a dirigiu em "A Senhora da Furgoneta".
Maggie Smith sobreviveu ao diagnóstico de cancro da mama em 2007 e participou das filmagens de "Harry Potter e o Príncipe Misterioso" (2009) enquanto estava no meio das sessões de quimioterapia.
"Estava careca como um ovo", disse ao Times, confirmando que precisou usar peruca.
A atriz também sofreu com a doença de Graves, uma patologia autoimune da tiroide que causa o movimento do olho para fora da sua órbita.
Comentários