"Loving Vincent", a primeiro longa-metragem realizada inteiramente com pintura a óleo e que retrata em 65 mil quadros a história do famoso artista através de uma investigação sobre a sua morte, disputa o Óscar de Melhor Animação  apostando na sua originalidade.

A coprodução do Reino Unido e da Polónia tentará conquistar o prémio contra produções americanas de orçamento elevado. "A Paixão de Van Gogh", como se chamou em Portugal, custou apenas 5,5 milhões de dólares, ou seja, trinta vezes menos do que "Coco", da Disney-Pixar, um dos seus quatro concorrentes e o grande favorito na categoria.

"Claro, é tudo ou nada, quero a estatueta", declarou à AFP, sorrindo, Dorota Kobiela, a realizadora polaca do filme, sentada numa cadeira amarela como a Provence que o seu pintor favorito Van Gogh retratava nos seus quadros.

Alternativos

O seu marido, Hugh Welchman, é otimista. Dirigiu ao seu lado esta longa-metragem única e antes trabalhou em  "Peter & The Wolf", uma curta que ganhou o Óscar na respetiva categoria em 2008.

"Nós somos a alternativa! Em geral, a nossa categoria é dominada pela Disney e Pixar, mas tenho a sensação de que podemos ser uma das grandes surpresas deste ano", afirmou.

Kobiela, também pintora, queria combinar as suas duas paixões neste filme em que a ideia era dar vida às pinturas de um pintor para contar a sua história.

"O trabalho de Van Gogh prestava-se maravilhosamente para esse desafio. As suas pinturas contam a sua vida em detalhes, no dia a dia, na casa dele, no quarto dele e com os seus amigos", conta na sua casa em Gdynia (norte da Polónia).

O filme baseia-se num argumento original do escritor polaco Jacek Dehen e coloca em cena Armand Roulin, filho do carteiro de Arles [sul da França], que o mestre holandês pintou várias vezes.

O jovem duvida da hipótese do suicídio do artista e decide realizar a sua própria investigação.

125 pintores

O desafio foi imenso, especialmente para os pintores que participaram no projeto. Em alguns estúdios localizados em Gdansk, 125 artistas de todo o mundo levaram a cabo esse trabalho, pintando telas a partir de cenas filmadas por atores (Robert Gulaczyk como Vincent van Gogh, Douglas Booth como Armand Roulin, Jerome Flynn como Paul Gachet, Saoirse Ronan como Marguerite Gachet, etc.)

Assim, o filme é uma mistura de pinturas inventadas e as famosas obras de Van Gogh, como "Pontes através do Sena em Asnières" ou "Noite estrelada".

Para os 93 minutos de filme, eles tiveram que fazer 65 mil planos pintados à mão, um grande feito.

"O ritmo de trabalho foi muito lento, em média, um quarto de segundo do filme por dia", indicou a realizadora, que passou sete anos a trabalhar no projeto.

Somente para um segundo de filme eram precisos em média 12 quadros, todos pintados à mão, um após o outro.

Um artista faz seis pinturas em média por dia, ou seja, meio segundo do filme para as cenas simples.

"Muitas vezes, na animação, temos o problema de que as expressões do rosto e o mimetismo dos personagens são limitados. Enquanto que, com pintura a óleo, podemos destacá-las ainda mais se o retrato for pintado corretamente", explica Kobiela à AFP.

Mais de cinco milhões de espectadores viram "A Paixão de Van Gogh" em todo o mundo, um sucesso que incitou o casal a continuar com a mesma técnica: o próximo trabalho será um filme de terror pintado a partir das obras do grande mestre espanhol Francisco de Goya.