A HISTÓRIA: Ethan Hunt (Tom Cruise) e a sua equipa IMF embarcam na missão mais perigosa de sempre: localizar uma nova e terrível arma que ameaça toda a humanidade, evitando que caia nas mãos erradas. O destino do mundo está em jogo. Com o controlo do futuro em risco e forças obscuras do passado de Ethan a aproximarem-se, começa uma corrida mortal à volta do globo. Confrontado por um inimigo misterioso e todo-poderoso, Ethan é forçado a considerar que nada pode ser mais importante do que a sua missão - nem mesmo as vidas daqueles com quem ele mais se preocupa.

"Missão: Impossível – Ajuste de Contas: Parte Um": nos cinemas a partir de 12 de julho.


Crítica: Francisco Quintas

Não é invulgar que a gestão de uma marca de Hollywood contemple a entrada e saída de várias cabeças criativas. Torna-se até propício, consoante o nível de adesão do público e na necessidade de passar o testemunho a um guionista ou realizador com maior competência ou uma visão mais esclarecida sobre o material. E quantas vezes uma saga já foi prejudicada pela ausência de uma estabilidade artística?

Portanto, são de admirar os raros casos que cumprem o duplo requisito de justificar a continuidade, através das receitas de bilheteira, e garantir uma frescura narrativa e técnica aquando do regresso às salas. E “Missão: Impossível – Ajuste de Contas – Parte Um” corrobora a hipótese de uma série de títulos se superar a cada lançamento, ainda mais quando é explorada há quase trinta anos.

Apesar de “Missão: Impossível” (1996), inspirado na série televisiva da década de 1960, ter apresentado um forte protagonista, um tom revigorado para vindouras histórias de espionagem e um modelo cinematográfico da velha guarda, ao cabo do mestre americano Brian De Palma, vale a pena recordar que isto não foi suficiente para se manter o volante firme. Jogando a batata quente para diferentes realizadores, as sequelas não dispuseram da mesma artilharia e coesão, e foi apenas com “Nação Secreta” (2015), o quinto título, que a saga viu o seu molde definido por Christopher McQuarrie, vencedor do Óscar de Melhor Argumento Original por “Os Suspeitos do Costume” (1995).

Mas não haja enganos: o maior criativo de “Missão: Impossível” sempre foi Tom Cruise. Goste-se ou não, há que reconhecer que estamos perante um dos atores mais dedicados da História de Hollywood. Para alguns, Jackie Chan será a maior referência de compromisso (e loucura) com as coreografias de ação mais arriscadas. De qualquer modo, comprometido (e louco) na mesma medida, Cruise, em conluio com McQuarrie, fez do sétimo “Missão: Impossível” um dos melhores da série. E um dos melhores filmes de ação do século XXI.

Tom Cruise e Hayley Atwell em "Missão: Impossível – Ajuste de Contas: Parte Um"

A incessante fuga de Ethan Hunt e Grace (Hayley Atwell) algemados num Fiat 500 amarelo no centro de Roma e o ato final num expresso a alta velocidade são de deixar o espectador, genuinamente, preso ao ecrã. E no que diz respeito a perseguições, tiroteios, artes marciais e destruição em massa, “Ajuste de Contas – Parte Um” perde apenas para o antecessor, “Fallout” (2018).

Isto para dizer que, não muito diferente do que fizeram os filmes de “John Wick”, “Missão: Impossível” reconhece qual deve ser a sua oferta: sequências de ação de tirar o fôlego, sobrepondo efeitos práticos a digitais – assim exige Tom Cruise –, intervaladas por um guião pragmático e 'descomplicado'. Mas não tão imaginativo quanto poderia: como aconteceu com “Nação Secreta” e “Fallout”, Christopher McQuarrie aposta em fórmulas batidas, clichés e caracterizações estereotipadas, na maioria funcionais e sustentadas por um elenco carismático, mas não evita que se prevejam algumas reviravoltas ou que a lógica seja atropelada.

Dentro da natureza do filme de espionagem, é possível, ainda assim, relevar algumas incoerências. Ademais, permanece o cuidado com personagens secundárias, a entrega de informação e a dinâmica coletiva. Com um desenrolar de trama ligeiramente mais ambicioso e progressivas adições ao elenco, seria de esperar um bolo mais inchado e estafante, mas, felizmente, a experiência escapa ao cansaço pois cada segmento recebe a devida atenção.

Falando em atenção, as influências cinéfilas do realizador, saciando os fãs do filme pioneiro, levaram-no, desta vez, a revisitar o suspense clássico de Brian De Palma. Recorreu, por exemplo, ao plano holandês, um ângulo distorcido predileto para enquadramentos com tensão iminente. Entre outras cerejas no topo do bolo...

Agora sexagenário, e tendo, recentemente, afirmado vontade em fazer “Missão: Impossível” até aos 80 anos, Tom Cruise continuará, certamente, a engendrar acrobacias inéditas, em veículos da pesada ou dando o corpo ao manifesto. Venha o que vier, há muito que estampou a paixão por cinema e a estima pelo espectador. E isso é de louvar.