O hip hop portuense reinou, no passado fim-de-semana, na cidade de Lisboa. Sexta-feira foi dia dos Mind da Gap revisitarem vinte anos de carreira no Musicbox; no sábado os Dealema subiram ao palco do TMN ao Vivo para o último concerto do festival Misty Fest 2013.

Curiosamente, e sem ter nada de acaso, estas duas bandas já têm um historial longo ao serviço da música (sendo que os Mind da Gap se iniciaram em primeiro lugar) e, consequentemente, já têm um longo historial de participações em conjunto. Para muitos o álbum “Sem Cerimónias” e os temas “O Que Seria De Mim” e “Coalizão - Cavaleiros do Apocalipse” terão sido a principal via para conhecerem os Dealema e o EP de estreia, “Expresso do Submundo”, é considerado ainda uma verdadeira obra prima do hip hop nacional.

Os Dealema encontram-se de momento a ultimar os detalhes do novo álbum, intitulado “Alvorada da Alma”. Assim sendo, o concerto de sábado fazia prever uma ou outra visita às páginas frescas desse novo trabalho. E assim aconteceu. “Bom Dia” foi a primeira de duas amostras. O tema contou com a participação de Ace no refrão (como os Dealema participaram no concerto de sexta-feira dos Mind da Gap, seria de adivinhar tal colaboração) e obteve uma resposta muito positiva por parte do público do TMN ao Vivo, mais do que seria de esperar, visto ser uma música que foge bastante ao registo que conhecemos da banda (à primeira estranha-se, à segunda entranha-se, à terceira damos por nós a cantar o refrão orelhudo e radiofónico da canção). A segunda amostra, tornada pública horas antes do concerto, no facebook do projeto Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, chama-se “Vive” e contou, sábado passado, com a participação do rapper de Torres Vedras, NBC.

Apesar de terem um álbum novo na calha, os Dealema não se privaram de resgatar canções ao mais recente “A Grande Tribulação” e à restante discografia, numa viagem que começou ao som de “Entra na Cripta” (as palavras “quinta essência mítica, avassaladora escrita / entra na cripta, sê bem-vindo à sessão espírita” são o melhor convite para tal assembleia musical), e seguiu com “Arte de Viver” (descodificador da génese do coletivo, onde são evocados os principais mandamentos desta “religião”) e “Infiéis (Ninguém Teme)”, primeira abordagem ao aclamado sucessor de “Expresso do Submundo”.

Depois de “Escola dos 90” aterrar em 2008 e no álbum “V Império”, houve tempo para uma trilogia retirada de “Regresso do Expresso”. Primeiro, “Bófiafobia”, que colocou toda a gente a acompanhar Fuse no mordaz e incisivo refrão, depois “A Cena Toda”, canção que coloca em exposição e em resumo toda a missão dos Dealema, servindo igualmente de agradecimento a todos o que os acompanharam nesta longa caminhada (“esta é para todos o que acreditaram em nós, para todos os que nunca nos deixaram sós”, versa a letra de Maze), e, por fim, o incontornável hino “Talento Clandestino”.

Aproveitando o facto de Ace se encontrar presente no TMN ao Vivo, Maze interpretou “Brilhantes Diamantes”, sucedendo-o, em jeito de medley, “B.D.A.P.” e “Bairro”, retirado de “Máscara”, primeiro disco a solo do rapper Expeão.

Não faltou ainda ao alinhamento do coletivo canções como “Família Malícia”, “A Última Criança”, “Léxico Disléxico” e “Nada Dura para Sempre” (uma das letras mais profundas e envolventes de sempre dos Dealema, apenas comparável a canções como “Chave da Saída”, “Fado Vadio” ou “Quando o Amor Se Torna Veneno”), que contou com a participação de Ana Lu, colocando, a pedido de Mundo, o público do TMN ao Vivo a acompanhar o refrão da música.

De facto, nada dura para sempre e, por vontade de muitos, o concerto de sábado poderia ter-se alongado durante horas e horas a fio. Soube a pouco. Sabe sempre. Mas ficou no ar uma promessa de um regresso rápido a Lisboa, aquando da apresentação ao vivo de “Alvorada da Alma”. Resta-nos aguardar.

Manuel Rodrigues