"Seasons: Rising" e "Seasons: Falling" integram uma ideia curiosa, embora dificilmente nos apercebêssemos dela caso ouvíssemos a primeira parte deste díptico sem pré-aviso. No seu quinto álbum, David Fonseca dá eco musical a seis meses de experiências quotidianas - mais especificamente as da primavera e verão de 2011 - e promete uma continuação para setembro, na outra metade de um diário anual que, pelo menos conceptualmente, é o projeto mais ambicioso da sua discografia.

Num álbum cujos alicerces são sobretudo a noção de continuidade e de sequência, como David nos contou, as canções estão ordenadas de acordo com a data em que foram surgindo, mantendo-se fiéis ao ponto de partida temporal. O músico disse-nos também que trabalhou cada tema do ponto de vista do fragmento, mas o disco, mais do que a uma colagem de apontamentos, soa a um todo seguro e uniforme.

"Seasons: Rising" não soa, contudo, a um álbum assim tão distante dos anteriores, apesar da novidade do conceito: entre territórios próximos das baladas e momentos upbeat, a sensação é mais de reconhecimento do que propriamente de surpresa, tanto nas letras como na sonoridade. Sem grandes viragens, o alinhamento não deixa de oferecer um conjunto de canções pop bem escritas, com o habitual apuro nos arranjos e uma camada eletroacústica mais constante do que esperaríamos (esse sim, talvez o pormenor mais surpreendente do disco).

Videoclip de "What is life for":

Em "What life is for", relato de um amor maior do que a vida, há laivos da pompa de uns The Killers, The Cars ou A-Ha e o resultado é um single que não tem medo de ser grandioso. A piscadela de olho aos anos 80 passa por outros momentos do disco - afinal, estamos a falar do autor de "The 80's" - e dá a canções como "*Go*dance all*night" ("Dance like you were sixteen?"), "We're so much better than this" ou "It feels like something" doses generosas de teclados e/ou sintetizadores.
Em regime midtempo, "Under the willow" e "Every time we kiss" não são menos radiofriendly mas soam-nos melhor do que muitas baladas feitas a régua e esquadro para passarem nas rádios. "Heavy heart", canção onde David convida Catarina Salinas (vocalista dos Best Youth), volta a associar amores desencontrados a pistas de dança.

Já na crueza de "Whatever the heart desires", na descontração de "The beating of the drums" ou na urgência de "Armageddon" (talvez o momento de eleição do disco) o rock sai ligeiramente a ganhar à pop, sem que isso implique que as canções sejam mais difíceis de digerir. A facilidade com que se ouve é, aliás, uma das constantes do alinhamento e, passe a redundância, não é fácil fazer um disco assim sem que o resultado seja descartável. Felizmente, não é esse o caso de "Seasons: Rising" - embora tenha a primavera como ponto de partida, é dos que ainda contamos ouvir quando as folhas começarem a cair.

@Gonçalo Sá