Palco Principal - Antes de mais, como está a correr a promoção do novo álbum?
Grégory Mavridoraki - Na verdade, não estamos muito preocupados se vendemos muitos exemplares ou não. Interessa-nos, isso sim, como o álbum está a ser recebido em concerto. E o mais engraçado é que grande parte do público nos espetáculos quer ouvir as novas músicas. Normalmente, preferem as músicas antigas, os clássicos. Mas nesta digressão, não. As pessoas querem tanto ouvir as novas como as antigas.
PP - E têm tido concertos apenas na Europa, ou já foram a outros países?
GM - Estamos em digressão desde novembro passado, faz agora um ano que estamos na estrada. Estivemos um pouco por todo o lado: Brasil, Argentina, Nova Zelândia, Austrália, África, andámos por todo o mundo com este álbum. Portugal será a nossa última data.
PP - Sentem o vosso público a crescer de concerto para concerto?
GM - Eu penso que estamos bem posicionados a nível nacional, não me parece que venhamos a crescer mais em França. Mas no resto do mundo, sim. Chegámos à conclusão que a nossa popularidade está a crescer bastante no estrangeiro.
PP - Apesar de terem muitas músicas cantadas em inglês, grande parte do vosso repertório é cantado em francês. Têm sentido que a língua é um obstáculo quando atuam fora do vosso país, ou é tudo uma questão de sentimento?
GM - Tem muito a ver com o que transmitimos em palco. E, por acaso, a primeira vez que demos conta disso foi no início da nossa carreira, aquando do nosso primeiro concerto em Portugal. Concluímos que muitas pessoas já sabiam as nossas músicas, apesar de não as compreenderem na sua totalidade. Foi aí que percebemos que o público não precisa de entender todas as palavras para apanhar o sentimento da música. Basta perceber uma ou duas palavras para conseguir perceber do que se trata. Em França, por exemplo, são poucos os que conseguem falar e entender o inglês, mas quando o Jay-Z atuou em França, toda a gente estava lá, apesar de, estou certo, 90% das pessoas não perceberem o que ele estava a dizer.
PP - Isso prova que a música é uma linguagem universal…
GM - Definitivamente. Olha o nosso caso: cantamos em inglês, francês e em kabyle, um idioma argelino. Sabíamos, desde o início, que era importante misturarmos todos estes tipos de cultura, pois enriquece a nossa música. É como cozinhar um prato e adicionar diferentes sabores...
PP - O vosso primeiro álbum, “Diversité”, foi lançado há coisa de dez anos, se as nossas contas estão certas… Que retrospetiva fazem em torno deste número redondo?
GM - O engraçado disto tudo é que não me dou conta de que já passaram dez anos. Para mim, parece que foi ontem (risos). Eu tenho por hábito tirar fotos em todos os países que visito. Na semana passada, passei os olhos por alguns desses álbuns e foi aí que constatei que já percorremos uma longa caminhada. Estes dez anos foram uma correria, fartámo-nos de viajar e dar concertos - assim por alto, já lá vão mais de mil. É nestas alturas que chego à conclusão que sou um gajo com muita sorte, sabes? É uma bênção estar aqui. E só desejo que isto continue assim por mais dez ou 15 anos, no mínimo.
PP - Foi, sem dúvida, uma escolha acertada..
GM - Sim. Na verdade, não se pode dizer que façamos ou que tenhamos feito muito dinheiro. Conseguimos sustentar as nossas famílias e é suficiente. Não peço mais. Para mim não é uma questão de enriquecer ou ser famoso. Prefiro viajar, conhecer pessoas de bem e dar bons concertos. Onde quer que vamos, o nosso público é sempre bom, cheio de boas vibrações, o que posso pedir mais?
PP - O dinheiro não é tudo, de facto…
GM - Claro! Se eu vier a ganhar mais, ótimo; mas se tal não acontecer, pouco importa…
PP - Visto a vossa música fugir aos contornos mais tradicionais do reggae, já alguma vez sentiram algum tipo de marginalização nesse aspeto?
GM - Na verdade, às vezes sentimos que o verdadeiro fã de reggae não gosta de nós, mas, no entanto, já há alguns anos que encabeçamos alguns dos maiores festivais de reggae, vistos como os verdadeiros eventos do estilo, com bandas jamaicanas no cartaz. No princípio, ficámos algo amedrontados, com medo de sermos mal recebidos pelo público. No entanto, de todas as vezes, acabámos por experienciar exatamente o oposto. Tem tudo a ver com o que dás em palco. Lembro-me de termos entrado uma vez em palco, num concerto na Jamaica, e dos teclados não terem funcionado à primeira. Ficámos muito nervosos, com receio de sermos assobiados pelo público, mas, finalmente, quando conseguimos resolver o problema, foi a loucura. Chegámos à conclusão que até o público mais purista gosta de ouvir a nossa mistura musical. E isso acontece tanto em concertos de reggae, como em concertos de rock. É claro que há sempre alguém que faz questão de criticar aquilo que fazes, no entanto, não se compara com todo o amor que recebes, no geral.
PP - Li numa entrevista recente que atuaram ao vivo com o lendário Carlos Santana. Como foi partilhar palco com tamanho ícone da música?
GM - Foi, talvez, um dos melhores dias da minha vida. Fui um grande fã de Carlos Santana na minha adolescência, muito devido ao meu pai. Há cerca de dois anos atrás, estivemos num festival na Suíça e atuámos antes de Santana. Na segunda música do nosso alinhamento, vi-o a subir à lateral do palco com os seus músicos e a assistir a quase metade do espetáculo. No final, veio dar-nos os parabéns e convidar os nossos vocalistas para cantar com ele...
PP - Calculo que tenha sido um momento inesquecível...
GM - Foi, claro. Muitas vezes os artistas mais conceituados acabam por ser os mais acessíveis. Há três / quatro anos atrás partilhámos palco com o Pharrell Williams e a sua atitude foi exatamente a mesma: assistiu ao concerto e, no final, veio falar connosco para nos dar os parabéns pela nosso espetáculo. São estas atitudes que acabam por servir de combustível à nossa caminhada.
PP - Sou grande fã dos Dub Inc, já perdi a conta da quantidade de concertos vossos a que já assisti. Vocês lembram-se do primeiro espetáculo que deram em Portugal?
GM - Sim, claro! Foi em Cascais, em 2006, a abrir para Natiruts. Lembro-me de termos atuado no dia antes – ou no dia a seguir, não sei precisar ao certo – no Porto. Foi um dos primeiros concertos que demos fora de França. Fomos muito bem recebidos. De tal forma que nos apaixonámos imediatamente por Portugal e pelos portugueses. Desde então, para além de ser um local de passagem obrigatória nas nossas digressões, Portugal tem sido um dos países escolhidos para passarmos férias. Eu diria que, se tivéssemos que trocar de país, a probabilidade de escolhermos Portugal seria enorme, e não tem a ver com o facto de seres português ou não. É mesmo verdade. Sempre que vamos para fora deixamos isso claro. Portugal e Grécia são os países que guardamos com mais carinho. As pessoas são simpáticas, a comida é boa e a arquitetura lindíssima. Lisboa é das cidades mais bonitas que já visitei.
PP - Imagino que aproveitem os dias a seguir aos concertos para visitar a cidade...
GM - Sempre. Nesta digressão, por exemplo, deram-nos a escolher se queríamos dar os dois concertos em dias seguidos e, no terceiro dia, regressar a França. Mas não. Escolhemos ficar com um dia de intervalo entre as duas datas para dar uma volta por Lisboa e ver os nossos amigos. E mais: a nossa digressão chega agora ao fim, com os dois concertos em Lisboa e no Porto, mas, em janeiro, há dois elementos da banda com férias marcadas em Portugal. É sempre um prazer para nós.
PP - Há algum prato ou algum restaurante que seja obrigatório quando nos visitam?
GM - Eu adoro bitoque, picanha… Há um restaurante em Lisboa, chamado Naco na Pedra, que é um local obrigatório nas nossas passagens por Portugal. Também gostamos muito do frango assado da Casa da Índia. São tantos os sítios, tantas as escolhas…
PP - E praia?
GM - Eu, pessoalmente, adoro Sagres, no sul de Portugal. Já lá estive de férias com a minha mulher e com os meus filhos. Houve, inclusive, pessoal que descobriu que eu era dos Dub Inc e que me pediu para tirar fotografias com eles… Foi muito bom!
PP - O que podemos esperar dos concertos em Lisboa e no Porto, em dezembro?
GM - Vamos tentar fazer uma mistura de todos os álbuns, e tocar umas cinco ou seis músicas do mais recente. Vamos estar num ambiente familiar e, como sempre, vamos dar o nosso melhor! É um país muito especial para nós… Por mais únicos que os nossos concertos possam ser em Saint-Étienne, a nossa terra natal, Portugal consegue sempre ser um país muito especial.
PP - Era suposto acabar esta entrevista a perguntar-te qual o concerto que mais te marcou em Portugal, mas vou fazer o contrário e dizer-te qual o vosso concerto que mais me marcou. Foi um no Casino de Lisboa, em 2010. Tens memória dessa atuação?
GM - Claro! É uma das minha passagens por Portugal que guardo com mais carinho. Foi de loucos (risos)! Muitas vezes, em entrevistas, perguntam-nos quais as memórias mais surreais que temos e, normalmente, lembramo-nos desta data. De como o palco estava montado, do quão cheio estava… A pessoa que estava connosco da parte do Casino chegou a dizer-nos que foi um recorde, que nunca tinha vista nada assim. Nem nós estávamos à espera de tamanha adesão ao nosso concerto. Quando entrámos no Casino, horas antes da atuação, não vimos ninguém - nem dentro do espaço nem nas imediações -, pensámos que ia ser um fracasso… Quando subimos ao palco, foi a loucura. Começaram a aparecer pessoas de todo o lado, o espaço começou a preencher de tal forma que as pessoas quase invadiram o palco. Olhámos pelo vidro do Casino e havia pessoa na rua à espera para entrar, que os seguranças não deixaram passar por razões de segurança. Foi de loucos!!
Manuel Rodrigues
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