“Não fui eu que fui à procura dessas influências, acho que foram essas influências - mais notórias as vindas de Cabo Verde e do Brasil - que vieram ter comigo, grande parte, fruto dos músicos que se cruzaram comigo durante esse tempo”, disse à Lusa Marta Rosa, de 23 anos.

Entre esses músicos cita Gabriel Codói, no violão de sete cortas, Gustavo Roriz, na viola caipira, João Nogueira, no contrabaixo, e Luís Bastos, no clarinete.
Além destes músicos participantes, a fadista é acompanhada à guitarra portuguesa por António Cardoso e, à viola, por João Penedo. “O CD acabou por ser um misto daquilo que me aconteceu, dos recursos que me apareceram para trabalhar e daquilo que eu própria já trabalhava e gostava”, acrescentou.

O álbum é constituído por 12 canções, entre as quais “Barro Divino”, de Álvaro Duarte Simões (letra e música), uma criação de Maria José da Guia, “Complicadíssima teia”, de António Botto, no Fado Britinho, de Frederico de Brito, do repertório de Camané, e “Ciúmes da Saudade”, de Manuela de Freiras, no Fado Triplicado, de José Marques.

A fadista defende que “o cruzamento de géneros musicais é uma certeza no mundo em que vivemos e é uma vantagem, já que dá acesso a coisas que noutros tempos não se conseguiam". "Há hoje uma teia de influências e um músico de fado não ouve só fado, escuta jazz, música cabo-verdiana, etc.”, disse. “Os géneros musicais beneficiam hoje, de músicos mais completos”, rematou Marta Rosa.

Este disco – que qualifica como “o disco antes do primeiro disco, pois é mais confortável” assim –, metade é constituído por fados tradicionais e a outra metade, pelo que Marta Rosa apelida como os seus “avarios”. “Entre esses 'avarios' escolhi precisamente um tema de Piazzolla, porque sinto ligações entre o tango e o fado, assim como sinto do fado com a morna”, disse.

O alinhamento do álbum abre com o Fado Suplica, de Armando Machado, para o poema “Em Busca da Beleza”, de Fernando Pessoa, e inclui “J’Oublie”, de Julien Clerc e Astor Piazzolla, “Retrato em Branco e Preto”, de Chico Buarque e Tom Jobim, “Inútil Paisagem”, de Aloysio de Oliveira e Jobim, e ainda “Lágrima sobre prelúdio em Dó Maior”, de Amália e Carlos Gonçalves, composição à qual Marta Rosa juntou uma partitura de Johann Sebastian Bach.

Referindo-se ao alinhamento do disco, a cantora afirmou: “Achei que era um equilíbrio desejável, que procuro também no meu repertório, pois acho que é importante que haja uma base sólida daquilo que faz parte da natureza do género [musical], e depois haver um espaço mais livre para experimentação, que às vezes funciona bem e outras não tão bem”.

Marta Rosa começou a cantar aos 12 anos, e considera que este projeto – a residência artística e a gravação do disco – a “ajudou a crescer de uma maneira bastante sólida e especial”.

@Lusa