Palco Principal – O teu nome é João Simões. De onde surgiu o “Bota”, que usas como nome artístico?

João Bota – Apareceu há muito tempo. Eu sou de Viseu e por lá sempre me chamaram de Jota. Só que, na altura, havia alguns «Joões», logo alguns «Jotas». Então, em jeito de brincadeira, num jogo de bola, começaram a chamar-me Bota, pois eu não passava a bola, e foi colando, até que ficou.

PP – Participaste na mais recente edição doconcurso televisivo “Operação Triunfo”. Que ensinamentos retiraste da experiência?

JB – Foi uma experiência porreira. Pessoalmente, não me identifico muito com esse tipo de programas, mas concorri numa de experimentar. Como disse, sou de Viseu, estou por Aveiro e por aqui não se passa muito. Então, pensei que seria uma boa forma de me mostrar. Concorri à OT e, felizmente, tive a sorte de ficar entre o lote de finalistas. Foi porreiro: conheci muita gente, conheci melhor o meio, e tive aulas, o que foi ótimo, pois nunca tinha tido. Acima de tudo, consegui perceber que podia fazer disto vida ou, pelo menos, tentar, que é o que estou a fazer.

PP – Quando é que sentiste que estava na altura de fazeres um álbum, que tinhas o que era preciso para ires para a frente com o projeto?

JB – Quando estava na OT, já tinha material feito, só que sempre escrevi em inglês. A partir da OT, não sei se foi por convivência com muita gente da música portuguesa, achei que devia passar o meu material para português, ou, pelo menos, começar a fazer algumas coisas em português. Quando saí da OT, gravei um EP com material que já tinha e depois, passado dois anos, gravei o meu primeiro álbum.

PP – Por que escrevias em inglês?

JB – Se calhar porque as minhas principais influências sempre foram músicos estrangeiros. Não que eu não goste de música portuguesa – até gosto bastante e neste momento acho que temos muito boas bandas em Portugal -, mas realmente as minhas principais referências são pessoas – digo pessoas porque me identifico mais com artistas a solo – estrangeiras. Se calhar era um bocado por aí, tentava copiar, fazer coisas parecidas e, de alguma maneira, ia sempre dar ao inglês. Mas lá está: depois da OT, e se calhar por causa das pessoas todas que conheci, achei que fazia mais sentido cantar em português – e foi uma boa decisão. Se calhar até podia ambicionar algo mais internacional se cantasse em inglês, mas acho que faz mais sentido em português.

PP – Quais as influências a que te referes?

JB – Sou um grande fã de R&B virado para o Jazz. Gosto bastante de John Mayer, de John Legend… Enfim, tenho várias referências de géneros diferentes que às vezes também variam consoante as fases por que passo. Sempre fui, também, um grande fã de Pearl Jam, mas vou buscar referências a vários sítios, a vários artistas.

PP – Escolheste a palavra “Vícios” para o título do álbum de estreia. É um trabalho que reflete os teus?

JB – Aquilo que escrevo tem um bocado a ver com aquilo que eu vivo e com aquilo que as pessoas que estão à minha volta vivem, por isso, sim, acho que é um bocado por aí.

PP – Tens alguns nomes conhecidos do panorama musical português, como Zim, Mic, Jimmy P ou Lino Vinagre, a colaborar no teu álbum. O que é que cada um deles trouxe ao registo?

JB – Sim, por acaso tive músicos «do caraças» a tocar comigo. Além da minha banda – os Gang Band -, que toca comigo quase desde o início do projeto, participa nos processos de composição, grava comigo, etc., contei com a participação dos Homsters, que são uma secção de sopros que trabalha com artistas como os Expensive Soul, Os Azeitonas, Nu Soul Family, entre outros. Foram o primeiro recurso externo com que trabalhei, são profissionais há anos e contribuíram para o álbum dar um salto qualitativo com um trabalho espetacular. Mas também convidei outros artistas para participarem em temas que achei que precisavam de algo diferente, de uma outra abordagem.

PP – No videoclip do primeiro single, Faz por isso, tens um público que te acompanha quando cantas. É sempre assim quando tocas ao vivo: tens sempre um público empenhado, cheio de boa disposição?

JB – Por acaso, o último concerto que dei foi em Aveiro, num café da cidade. Estava a jogar em casa, mas, ainda assim, fiquei muito surpreendido com o facto das pessoas – e nem todas eram caras familiares – conhecerem as canções e saberem as letras. A recetividade tem sido muito boa.

PP – E no Youtube continuas a somar visualizações…

JB – A Faz por isso faz parte da banda sonora de uma telenovela da TVI, a “Destinos Cruzados”, logo é normal que as visualizações aumentem.

PP – Vício meu é o segundo single. Qual é o teu maior vício?

JB – Tenho vários, mas a música é o principal. Estou sempre a ouvir e a procurar coisas novas. Também adoro séries e adoro dormir. A pior coisinha que me podem fazer é não me deixarem dormir.

PP – Coincidem os singles com os temas do álbum que te são mais queridos?

JB – No início, houve a típica discussão sobre qual seria o melhor tema para primeiro single. Havia muitas pessoas, tanto da editora como da minha família, que defendiam outra música, mas eu sempre disse que queria fazer a Faz por isso. É mesmo uma das minhas favoritas, deixa um rasto, quase como que uma voz na cabeça. A Vício meu sai um bocadinho fora da caixa, é diferente. A Tarde demais, a música de apresentação do meu EP, regravada para este disso, também me diz muita coisa. A Quero mostrar-te tem, por sua vez, uma sonoridade com que me identifico mais.

PP – Nota-se que estás envolvido de uma forma muito próxima com as várias tarefas que a carreira de um músico implica… Agradam-te todas as suas vertentes?

JB – Sim, tem sido uma batalha, mesmo com uma editora… Ainda bem que tenho a ajuda de amigos! A indústria da música é um meio mesmo muito complicado para entrar e ainda mais complicado para chegar ao nível que nós queremos. O processo criativo é muito porreiro, quero estar sempre envolvido nele. Agora, a papelada é uma coisa mais complicada. Já se sabe: todos os trabalhos têm partes boas e outras menos boas.

PP – Já há meia dúzia de anos que foste viver para Aveiro. As saudades de casa ajudam-te a entrar no mood certo para compor?

JB – Escrevo um pouco por toda a parte. Em Viseu, em Aveiro ou até mesmo quando estava em Lisboa. Quando me dá para isso, quando surge a oportunidade, escrevo. Mas sim, se calhar, quando estás triste, as coisas saem mais rápido.

PP – O que gostavas que o futuro te reservasse?

JB – O meu curso universitário acabado, o ter de deixar de andar com a mala às costas… (risos). Mas, neste momento, os planos passam pela promoção do álbum e por tocá-lo ao vivo o mais possível. Mais tarde, quero dedicar-me à música a 100% e, se tudo correr bem, fazer mais um disco. Gosto muito do meu álbum, mas espero que o próximo o supere.