“É uma coisa muito íntima, mais para conversar com as pessoas, para dizer quem era o Zeca, as recordações que eu tenho dele e as músicas que gravámos nos anos [19]60”, disse Rui Pato à agência Lusa.

A homenagem ao cantor José Afonso, que morreu em 1987, realiza-se às 21:30 numa sala do Centro de Artes e Espetáculos, baseando-se num espetáculo concebido pelo cantor António Ataíde e Rui Pato.

Médico de profissão, hoje reformado, Rui Pato, de 66 anos, retomou há pouco mais de um ano as atuações públicas como músico, sobretudo com o objetivo de divulgar a vida e a obra do seu amigo Zeca Afonso, no âmbito dos 25 anos da morte do autor de “Grândola Vila Morena”.

A iniciativa partiu de António Ataíde, cantor de fado de Coimbra e gerente do bar “À Capella”, em Coimbra, que acolhe sessões alusivas a este género musical. Pato aceitou o convite. Selecionou um maço de postais, dos muitos que José Afonso lhe enviava para combinar ensaios, gravações e concertos um pouco por todo o país, há cerca de meio século, material que determina o alinhamento afetivo do espetáculo.

“Um dia, quando me aposentei da minha vida hospitalar, fui à ‘Capella’ e fizemos um espetáculo com meia dúzia de coisas que ensaiámos”, afirmou Rui Pato. Depois de uma primeira “conversa intimista” com sucesso, a dupla seria convidada para idênticas realizações noutras localidades, geralmente em salas pequenas.

A leitura dos postais é intercalada pela interpretação de alguns dos temas mais emblemáticos de Zeca Afonso, suscitando a participação do público, que faz perguntas e opina sobre o percurso musical e a intervenção política do homenageado, durante a ditadura e depois do 25 de Abril. “Reparámos que havia pessoas que, por nostalgia e também por interesse relativo às coisas do Zeca, estavam a gostar daquilo”, disse Rui Pato à Lusa.

A iniciativa cultural que o CAE da Figueira da Foz vai acolher, no sábado à noite, assenta no mesmo modelo, apesar de poder ser apreciado por uma maior número de pessoas. “O Zeca da ditadura está refletido nos postais que ele me enviada”, referiu Rui Pato, indicando que “o espetáculo transporta o público aos anos 60” do século XX. As pessoas ficam a conhecer melhor “o homem que começou com as canções de protesto em Portugal”, bem como “as dificuldades que teve em levar aos palcos e aos discos as músicas que incomodavam” o regime fascista.

Há 50 anos, quando muitos jovens morriam na guerra colonial, José Afonso denunciava os vampiros que “em bandos, com pés de veludo”, chupavam “o sangue fresco da manada”.

A venda do disco "Dr. José Afonso em Baladas de Coimbra", de 1963, que incluía o tema “Os vampiros”, foi proibida, bem como a sua difusão. O jovem Pato “não fazia a mínima ideia de que estava a colaborar” com um homem que faria “a viragem completa do panorama musical” português.

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