Se há pouco mais de um par de anos, a new rave se impôs repentinamente como a nova coqueluche musical oriunda de terras de sua majestade, também não demorou muito a perder o impacto. E essa recuperação da vertente mais dançável, hedonista e explosiva de alguma música electrónica de inícios dos anos 90 teve como principais timoneiros os Klaxons, cujo disco de estreia, "Myths of a Near Future" (2007), foi para muitos uma das bíblias do (sub)género.

"Surfing the Void", o novo álbum do quarteto, editado em Agosto, esteve longe de manter um impacto semelhante, gerando mesmo algumas críticas pouco simpáticas - e algo injustas, pois este regresso está tão longe da mediocridade como a estreia estava de uma obra-prima.

Na noite de ontem, contudo, o entusiasmo foi geral. Numa sala a rebentar pelas costuras, as canções enérgicas dosKlaxons tiveram reflexo num público imparável, que não perdeu tempo e tentou aproveitar cada segundo - talvez para compensar as horas perdidas à espera, já que o concerto era gratuito, uma vez que estava integrado nos Optimus Secret Shows, e por isso convocou uma longa fila na entrada.

Os espectadores, maioritariamente adolescentes - quem ali chegasse de repente diria estar num episódio da série britânica "Skins" -, acolheram a ansiada entrada da banda da melhor forma que conseguiram, numa impressionante disseminação de gritos e saltos.
Nos dois primeiros temas, "Atlantis to Interzone" e "Flashover", a euforia foi tanta que só mesmo a muitos metros do palco - no fundo da sala, praticamente - é que alguém conseguiria não sentir no corpo os efeitos da adesão generalizada. O cenário foi sem dúvida estonteante para quem quis entregar-se aos encantos do mosh, mas quem preferia acompanhar o concerto com alguma calma não terá dito o mesmo - sobretudo os repórteres fotográficos, quase atirados para um cenário de guerra na primeira fila.

Quando o público já parece estar conquistado à partida, a banda nem precisa de tentar surpreendê-lo, e por isso os Klaxons não foram além de breves agradecimentos, muita simpatia (o entusiasmo dos espectadores foi retribuído) e disparos fulminantes - e já esparados - como "Magick", "Gravity's Rainbow" ou "It's Not Over Yet".
Mas além dos "clássicos", também os temas do novo disco funcionaram bem, depois de terem sido acolhidos de forma algo indiferente há poucos meses, em Paredes de Coura. O single "Echoes", cantado em uníssono e com muitos braços no ar, é sério candidato a hino de uma geração, e "Venusia" ou "Twin Flames" mostraram que há outras canções a reter em "Surfing the Void". E assim, ao fim de uma hora que passou a correr, a estreia dos Klaxons em nome próprio por cá (depois de três actuações em festivais) foi claramente triunfante - e não faltará quem tenha já todas as antenas sintonizadas em busca de notícias de um eventual regresso.

Dusk at the Mansion:Há boaelectrónica nesta casa

Na primeira parte, os lisboetas Dusk at the Mansion não tiveram propriamente uma estreia, uma vez que já deram alguns concertos, mas registaram aquela que foi a sua actuação mais concorrida até agora.
Embora a dupla de Ricardo Mestre e David Costa ainda não tenha nenhum registo editado, conta já com várias canções no seu myspace e apresentou cinco na meia-hora que antecedeu a chegada dos Klaxons. Também adeptos de electrónica, mas numa vertente mais sombria e espacial, arrancaram com tons de melodismo melancólico (tendo como convidada a violoncelista Leihla Pinho) e, pouco a pouco, foram conquistando adeptos - de forma quase proporcional à medida que iam aumentando as batidas por minuto.
Vozes robóticas e uma percussão bem vincada andaram de mãos dadas num intrigante passeio pelos caminhos mais sinuosos do disco, com auge no êxtase dançável de "Untitled", num final onde choveram aplausos. E se mesmo assim alguns espectadores teriam preferido evitar mais um compasso de espera antes da banda da noite, outros aproveitaram para descobrir um projecto com potencial para agradar tanto a admiradores da escola Kraftwerk como a seguidores das tendências mais recentes de uns Parallels ou Chromatics - ou ainda, como se atestou, a boa parte dos fãs dos Klaxons.

Texto @Gonçalo Sá/ Fotos @Graziela Costa

Videoclip de "Echoes":