“Nasci em Portugal, mas sou filho de retornados, fui criado num ambiente de mescla cultural e isso refletiu-se na minha formação. Quando me descobri como músico, tudo isso estava cá”, disse à Lusa Luiz Caracol, que anteriormente teve outros projetos e apresenta-se agora a solo.
“A base deste disco é a minha voz e a guitarra. Vivi sempre à volta destes dois instrumentos e achei que isso devia ser a base de todo este meu disco, esta é a minha natureza mais orgânica e despida”, disse, referindo em seguida o trabalho de músicos com quem gravou, designadamente Miroca Paris, Ruca Rebordão, João Balão, Ivo Costa, Hernâni Almeida e Carlos Lopes, alguns dos quais vão partilhar com ele o palco do S. Jorge, em Lisboa, no dia 1 de maio, quando apresentar ao vivo o novo álbum.
No Cinema S. Jorge estarão também Sara Tavares e Fernanda Abreu, duas das vozes com quem partilha “cumplicidades musicais”, e a interpretação de duas canções. O rapper Valete é outro nome com o qual divide a interpretação e a composição de um tema.
Referindo-se a “Em marcha”, que partilha com Valete, Luiz Caracol explicou que o tema “afadistado” inspira-se na melodia “marcha de Alfredo Marceneiro”, um fado tradicional, "mas que fiacava bem um parte dita, e o Valete desempenha aí o melhor papel"
Com a brasileira Fernanda Abreu, Luiz Caracol partilha “Isto”, um poema de Fernando Pessoa que musicou. “A Fernanda [Abreu] já tinha cantado outras coisas de Pessoa. Nós conhecemo-nos num programa sobre a música lusófona a convite do músico Pierre Aderne, e decidi mandar-lhe a música, ela gostou, aceitou o convite e gravámos”, contou.
Sara Tavares é “uma amiga de há muito tempo”, com quem tem partilhado os palcos do mundo, sempre que a intérprete de “Chamar a música” o convida. Sara Tavares assina a letra de “Tava na tua”, que Luiz Caracol musicou, e ambos partilham a interpretação.
Entre músicas originais de Caracol, oito em 13 temas que constituem o CD, e um em parceria com Valete, e temas assinados por outros nomes como Mia Couto, João Dionísio e Gonçalo Pimenta, Luiz Caracol canta temas dos repertórios de Jorge Palma, “A gente vai continuar”, Zeca Baleiro, “Bandeira”, e Lenine, “Meu amanhã”.
“Fui durante muito tempo contador das histórias dos outros, e há reflexos deles no que sou hoje e, por outro lado, era altura de assumir aqueles que são as minhas referências musicais e inspiração”, disse. O uruguaio Jorge Drexler é outra referência de Caracol, de quem adaptou o tema “Tudo se transforma”, que musicou, e com o qual abre o CD.
Referindo-se à interpretação de um poema de Mia Couto, foi “um acaso”, fruto de um convite da associação Conexão Lusófona que convidou vários músicos para comporem a partir de poemas do autor moçambicano. “Eles gostaram e disseram-me para gravar, mas não surgiu a hipótese, mas continuei a cantá-lo. Certa vez, num evento no Rossio, em Lisboa, cantei-o, alguém gravou, enviou ao Mia Couto que, sem em conhecer de parte alguma, me escreveu a dizer que tinha gostado e autorizava-me a gravar, fiquei muito contente”, contou.
O álbum “Devagar” chega esta semana às discotecas com a chancela da discográfica Get Records e, entre outros temas, inclui “O mundo”, “O que vai ser”, “Moro em ti (Lisboa)” e “Samba do bairro”.
@Lusa
Antes da chegada de "Devagar", Luiz Caracol apresentou ao SAPO Música excertos de alguns temas do seu novo disco:
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