Neste álbum, a cantora, atriz e realizadora canta em diferentes idiomas, o que já aconteceu nos dois álbuns anteriores, mas estreia-se na interpretação de temas de sua autoria, como “Trapichana”, “The cougar song”, “Noite” e “Diz que é fado”, o que não a deixa muito confortável, como confidenciou à Lusa. “É curioso. Por vezes sinto mais à vontade a interpretar temas de outros autores que os meus. Estou desejando que outros artistas interpretem as minhas canções e fico muito comovida quando ouço os músicos improvisarem sobre os meus temas”, contou em declarações à Lusa.

Além dos temas em que assina a música e letra, Maria de Medeiros partilha a criação de “Shadow girl”, com Legendary Tigerman, e “Nasce o dia na cidade”, com Raimundo Amador.

O título do álbum surgiu do tema “Nasce o dia na cidade”, que escreveu com Raimundo Amador, que é “um artista de enorme prestígio em Espanha, um dos inventores do flamengo-rock, que trouxe o seu virtuosismo na guitarra elétrica, um pouco à maneira de Jimmy Hendrix, para o flamenco, com o seu mítico grupo Pata Negra”. “Ele mostrou-me um tema dele que tinha no computador sem usar e eu achei-o muito bonito e propus escrever uma letra”, recordou.

A letra conta a história de “uma criança [que] observa o amanhecer numa das nossas cidades europeias, açoitadas pela crise económica”. “A criança vê o fluxo cerrado de carros e as pessoas apressadas para o trabalho, enquanto a rádio vai anunciando catástrofes económicas, quedas da bolsa, desemprego, bancos na falência, angústia e depressão ambientes”.

A cantora admitiu que, neste CD, há “uma crítica social” à atual situação político-económico-social e, jogando com o título do álbum, "Pássaros eternos", questionou: "As terríveis águias ditatoriais que teimam em não morrer, mas também a pomba da paz, reflexos de uma antiquíssima luta de conceitos [serão] eternas?"

Um dos temas de atualidade referenciados são os “encontros e desencontros” que a internet proporciona, precisamente na canção de abertura, “Quem és tu?”, de que assina a música e a letra. É um tema que “quis dedicar a todos os desconhecidos que povoam os nossos computadores hoje em dia". "Temos milhares de amigos nas redes sociais, nomes que enchem as nossas agendas e calendários, mas não sabemos quem são. À falta de conseguir identificar todas essas pessoas, ofereço-lhes uma canção”, disse.

Maria de Medeiros compôs também a música para o poema “A bailarina”, de Sophia de Mello Breyner Andresen. “Tive a ocasião de recitar várias vezes em espetáculos o poema magnífico de Sophia, no qual ela cita outro poeta, Arthur Rimbaud, e sempre que o lia, ‘ouvia’ uma pequena música que surgia das próprias palavras de Sophia, da sua cadência”. “Decidi, então, cantar o poema sobre essa melodia, que se me impunha, e assim nasceu a canção, ‘Por delicadeza’, que fala dessa bailarina que dança dentro de nós”. “Será o poema de Sophia autobiográfico? Pode ser. Mas é ao mesmo tempo universal. Porque me parece que, em todos nós, há uma parte que quer dançar pelo mundo e ‘só três passos’ deu”, rematou.

À Lusa, Maria de Medeiros disse que “Pássaros Eternos” é um disco que surgiu da prática dos concertos com a sua banda, “as parcerias foram acontecendo” e também a diversidade linguística, pois canta em português, italiano, francês e inglês, o que “é natural”. “A diversidade linguística faz parte do meu quotidiano, há muitos anos. E isso reflete-se no meu trabalho. Não só na música, mas enquanto atriz e na escrita também. Além disso, gosto da música que existe nos próprios idiomas”, argumentou.

Referindo-se ao álbum, o terceiro da carreira, a intérprete afirmou: “Eu comparo muitas vezes este trabalho, em que pela primeira vez compus e escrevi a maior parte dos temas, ao momento em que nos oferecem a nossa primeira câmara de fotos e nos dedicamos a fotografar o que nos rodeia e o que nos atrai. Assim, naturalmente surgiram músicas de estilos diferentes, que correspondem aos meus gostos musicais”.

@Lusa

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