Marisa Monte agradeceu a presença de todas as pessoas logo no final da primeira canção. Ela, banda e toda a sua equipa estavam gratos e felizes por mais uma digressão em Portugal, terra onde afirmam ser sempre recebidos carinhosamente.
Com um repertório cheio de canções de sucesso da carreira a solo, a brasileira também cantou clássicos de Paulinho da Viola e Cartola. Fez questão de lembrar parcerias com outros tantos artistas, incluindo Tribalistas e Pretinho da Serrinha, que ao som do seu violão inconfundível, cantou e fez o povo sambar em "Elegante Amanhecer" e "Lenda das Sereias", também homenagem à escola de samba da Portela.
A certa altura do concerto, quando todos cantavam juntos ou derramavam lágrimas de emoção, Marisa avisou que cantaria uma música “das antigas”, onde muitos poderiam não se lembrar da letra. Mas, eu Marisa, "Ainda Lembro". Na verdade, todos nos lembramos da sua voz doce e segura, além da sua forte presença. E foi com essa força que a diva brasileira dividiu no palco o seu imenso talento com os outros músicos do grupo, sabendo da importância do trabalho coletivo num processo de criação. Assim, fez questão de apresentar cada um deles entre as canções.
Lembrou que o contrabaixista Dady é o que está com ela há mais tempo. Aos 17 anos, ele começou na banda Novos Baianos, acompanhou Jorge Ben, fundou a pop com A Cor do Som e, usando as suas palavras, foi o “muso inspirador” da música “Leãozinho”, de Caetano Veloso. “Além de parceiro, é meu vizinho e amigo”. Depois, foi a vez de falar de Antonio Neves, multi-instrumentista, arranjador e mestre dos trombones que dão vida às músicas de Marisa. Nascido no Recife, Pernambuco, também apresentou o baterista Pupillo. Fez questão de citar o histórico do músico com o Mangue Beat, ritmo dos Nação Zumbi, e reforçar o seu percurso como produtor e autor de bandas sonoras.
Nos teclados, dirigiu-se ao parceiro Chico Brown, neto de Chico Buarque, contando sobre o quanto desejava vê-lo crescer assim como o seu pai, Carlinhos Brown. Para falar do guitarrista David Morais, nascido no Rio de Janeiro, mas com raízes baianas, Marisa disse que ele representava os grandes guitarristas do Brasil. A respeito de Lessa, na flauta e saxofone, a cantora compartilhou a sua trajetória como músico da banda do Corpo de Bombeiros no interior do Rio de Janeiro e da importância de pertencer a uma família de artistas da música popular brasileira. Já com Eduardo Santana, de São Gonçalo, partilhou sobre o passado “mais eclético”. Foi jogador de futebol em Brasília, modelo nas passarelas do mundo até se formar Bacharel em Trompete. Segundo a cantora, é ele quem “defende e ataca quando a banda precisa".
Em “Vilarejo”, Marisa Monte cantou com muita maestria e emoção sobre como é possível ser a vida para todos nós, até para os palestinianos, povo que luta pela sobrevivência a cada primavera. Simples no agir e refinada na voz, fez com que a bela iluminação do espaço ou as lantejoulas do seu vestido parecerem meros detalhes perto do seu brilho. Em mais um gesto delicado e de coletividade, agradeceu a todos os “trabalhadores invisíveis da cultura” por proporcionarem uma noite tão bela. E para não esquecer de quem “deu voz a tantas de nós”, presenteou a plateia com “Doce Vampiro”, de Rita Lee.
“Bem que se quis” que Marisa continuasse por mais uma hora e meia, mas chegou o momento de encerrar a apresentação. Enquanto o auditório cantava à capela “já me esqueci de te esquecer….” , Marisa Monte foi desaparecendo aos poucos na penumbra, deixando a sua energia positiva e genuína em cada um de nós, “pobres mortais”.
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