"Depois da distinção houve um 'boom' maior pelo fado, um despertar maior do público português", conta o jovem fadista Marco Rodrigues, que viu a plateia dos seus concertos passar a estar mais preenchida. Sete meses após a eleição do Fado como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO (27 de novembro de 2011), o cantor sente que o maior reconhecimento não vem dos turistas, e que o novo estatuto do fado foi reconhecido por cá, pelos portugueses.

O reconhecimento é fruto de um trabalho de "cinco anos e meio" que "não se esgotou na candidatura", refere, por sua vez, o fadista Carlos do Carmo.

O embaixador da candidatura portuguesa à distinção pela UNESCO contou ao SAPO alguns dos projetos que têm sido desenvolvidos desde então."Continuam a sair livros, vai haver uma exposição sobre o fado no cinema em breve, continuamos a recolha do espólio e dos arquivos e vamos ter um projeto com as escolas".

No mesmo sentido, João Miguel Tavares, diretor-adjunto da revista Time Out Lisboa e aficionado do fado, elogia o trabalho do Museu do Fado e dos investigadores do género musical nos últimos meses. "O estudo académico foi muito importante para a candidatura. O que se mudou foi gigante desde que se começou a estudar o fado", salienta.

E daqui para a frente?

Os últimos anos, mesmo antes da candidatura, revelaram-se frutuosos para o género musical. O aparecimento de uma nova geração que trouxe novas abordagens ao fado abriu o património a novos públicos. "O fado foi sendo influenciado pelas músicas do mundo, é um caminho natural", mas "deve respeitar-se o fado tradicional", refere Marco Rodrigues.

Será esta abordagem inovadora o caminho a seguir pelo fado? "As coisas têm de acontecer com naturalidade", diz Carlos do Carmo. "A geração a que eu pertenço fez a ponte, fazemos o transporte para a nova geração. Todos os contributos são bons, há uma geração com grande respeito pela tradição, há uma outra que tem grande ansiedade de frescura e modernidade. Tem de haver uma conjugação das duas", explica.

João Miguel Tavares considera que, apesar de tudo, ainda "é o talento individual que faz o fado avançar". "Um bom fadista é alguém que tem capacidade para estilar, para o improviso, por cima de um colchão melódico que são os fados tradicionais", explica. A tarefa continua a ser mais difícil para as mulheres hoje em dia, pelo fator Amália Rodrigues. "A Amália é uma pessoa que aparece uma vez num século. As mulheres fadistas estão muito presas ao seu legado", refere.

Nos próximos anos os esforços serão determinantes para o fado não perder a distinção da UNESCO. Carlos do Carmo vai viajar para o Brasil onde vai "tentar reunir elementos sobre a história do fado no país", Marco Rodrigues vai lançar o segundo disco ainda este ano, e João Miguel Tavares sonha com um livro que escreva a história do fado de uma forma diferente, tal como o "Chega de Saudade", do escritor brasileiro Ruy Castro sobre a história da bossa nova. "Falta um 'Chega de Saudade' aplicado ao fado"… e mais documentários", conclui.

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Catarina Osório