Apesar dos protestos da sua família, a Netflix lança na quarta-feira "As Mil Vidas de Bernard Tapie", uma série baseada na vida de quem era conhecido como "o patrão": o polémico e popular empresário milionário francês que foi preso num dos maiores escândalos de manipulação de resultados do futebol.
Tapie, que morreu em 2021 aos 78 anos, também foi um ator prolífico e político ocasional – chegou a ser ministro do governo – mas deixou a sua maior marca na vida pública francesa como proprietário do clube de futebol Marselha entre 1968 e 1993.
Ele também ganhou destaque no início da década de 1990 com a compra da empresa alemã de vestuário desportivo Adidas, recuperando-a para uma situação financeira sólida antes de avançar para uma venda que explodiu num escândalo financeiro que atingiu os escalões superiores da política francesa.
A queda do homem que subiu na vida a pulso foi tão espetacular quanto a sua vida, com várias condenações judiciais, incluindo pela manipulação do resultado de um jogo do Marselha.
A série “não atribui nem desvia a culpa”, disse à France-Presse (AFP) o argumentista e co-criador da série, Olivier Demangel, chamando-a de “pura ficção”.
Tapie é interpretado pelo ator francês Laurent Lafitte, cuja imagem mostrando uma clara semelhança com a sua personagem foi estampada em 'outdoors' franceses antes do lançamento da série de sete episódios que retrata 30 anos de vida de Tapie.
Tudo começa em 1966, com a sua primeira aparição de sucesso num programa de talentos na TV, e termina com a sua prisão por manipulação de resultados em 1997.
“Esta é a história de um vendedor na televisão que queria entrar na televisão e acabou por se tornar a televisão”, nota Demangel.
O próprio Tapie foi hostil ao projeto da Netflix quando a plataforma de streaming avançou há três anos, de acordo com o realizador Tristan Seguela, que conheceu pessoalmente o milionário.
“Ele disse-me: 'Vou pará-lo já aí, a resposta é não'”, recordou Seguela à AFP, afirmando, no entanto, que ignorou as objeções de Tapie.
Desde então, a filha de Tapie, Sophie, manifestou-se contra a série, dizendo “não há limite para o desrespeito”.
A sua viúva, Dominique, disse ao jornal Monaco-Matin que “não temo esta série, deploro-a”.
Seguela disse que foi uma escolha deliberada manter a família de Tapie à distância, para preservar a “nossa liberdade” na criação do perfil ficcional.
Demangel disse que as principais fontes do programa foram cerca de 40 livros sobre Tapie e uma grande quantidade de reportagens de imprensa, arquivos de vídeo e documentos judiciais.
“Esta é a nossa opinião sobre esta pessoa e a sua vida”, disse.
A atribuição de algumas cenas quando Tapie era ministro de assuntos urbanos do governo socialista do presidente François Mitterrand, quando na verdade envolviam o primeiro-ministro Pierre Beregovoy, estiveram entre as liberdades tomadas pelos criadores.
O ator Laurent Lafitte disse não ter certeza se a série, que notou ser "muito francesa", atrairia o público internacional.
"Os americanos dirão: então isto é sobre um tipo que começa do nada e triunfa. Grande coisa", riu.
Os programas produzidos na França que já estão na Netflix incluem a história de detetive cavalheiro "Lupin", com Omar Sy, o 'thriller' político "Marselha", protagonizado por Gerard Depardieu, e, mais recentemente, "Bardot", que narra os primeiros anos da super estrela Brigitte Bardot.
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