Num dia em que o Coliseu dos Recreios estava na iminência de atingir o máximo da sua capacidade, e onde o ruído e a diversidade reinaram nesta noite de 30 de janeiro em Lisboa, o momento musical surpreendeu num ritmo frenético e algo feirante, superando as nossas expectativas que, sejamos sinceras, eram baixas.
Após uma primeira parte com um DJ na assistência, o Coliseu rebentou em aplausos e gritos por Dengaz quando este invadiu o palco. Num cenário bastante composto, foi com alguma admiração que se pôde contemplar todos os elementos ali reunidos. Bateria, guitarras, instrumentos de sopro e até violinos estavam ao serviço do artista português, criando uma nova dimensão artística que maximizou o espetáculo desde o primeiro momento.
"Acho que é hoje que eu vou chorar", foram as primeiras palavras de Dengaz perante a reação entusiástica do público à sua chegada ao palco. E ao longo da noite, nunca o ambiente se alterou, pelo menos para pior. De faixa em faixa, os fãs deliravam, sendo curioso assistir à diferença das faixas etárias representadas no público, desde os mais pequenos aos mais velhos, não se fazendo distinção sobre quem gritava mais alto.
"Vocês podiam estar em qualquer lado, mas estão aqui comigo! E isto pode parecer banal, mas eu nunca vos vou esquecer! Este é um grande momento para mim, Coliseu", agradecia o artista dando entrada a Dino para a faixa "Obrigado", que despoletou a primeira descarga emocional da noite num coro perfeito e sentido.
$$gallery$$E de faixa para faixa, as palavras nunca faltavam ao cantor português que parecia ter sempre algo a dizer ao seu público entusiasta, desde dedicar "Rainha" a todas as mulheres presentes, ou mesmo a discursos mais profundos e sentidos: "A próxima música foi escrita numa das piores fases da minha vida. Nunca a tocámos antes e não sei se vamos voltar a tocar. Quem conhece o 'Homem Sem Alma'?".
Mas os convidados não paravam de chegar, e as camisolas do público rapidamente passaram a girar nas mãos do mesmo numa outra mudança de direção emocional, tal como se estivéssemos num festival que, numa visão mais panorâmica, nos fazia lembrar um cenário feirante.
Como não poderia deixar de ser, Agir e Richie Campbell foram outros dois convidados presentes nesta noite no Coliseu de Lisboa, tendo ambos partilhado o palco com Dengaz para se fazerem ouvir com "Encontrar" e "From The Heart", respetivamente, sem se terem poupado a elogios ao artista. "Já viste como gostam de ti? E isto é só o começo, porque daqui a dois anos estamos aqui de novo!", felicitava Agir, sendo posteriormente apoiado por Richie Campbell: "Não há ninguém no mundo que mereça mais isto do que o Dengaz". E aparte das suas dedicatórias, os dois cantores elevaram ainda mais a fasquia nesta noite de hip hop e reggae, trazendo ainda mais gritos e aplausos para esta festa musical.
Ao longo da noite houve ainda direito para duas versões, com "Young Wild And Free", de Snoop Dogg e Wiz Khalifa, bem como "Can't Hold Us", de Macklemore & Ryan Lewis com Ray Dalton, onde uma vez mais Dengaz demonstrou a sua versatilidade, seguida de uma bela foto de grupo com todo o Coliseu.
Por fim, podemos ainda ressalvar o facto de o empenho de o público ter sido tão grande ao ponto de ficarem espectadores sentados no chão para o efeito surpresa numa das faixas do cantor, fechando com "Tamojuntos", onde as palavras começaram a escassear: "Chegámos mesmo ao fim e eu não tenho palavras para vos agradecer", confessava Dengaz com toda a sua humildade, demonstrando o estado emocional que o consumia numa noite cheia de emoções fortes e dedicatórias a toda a sua família e amigos.
Quanto a nós, falta apenas chamar a atenção para que o título deste artigo não seja recebido negativamente, antes pelo contrário. Não há melhor ambiente do que aquele que nos preenche e anima, e foi isso que existiu nesta noite. Em suma, um cantor humilde, de origens humildes (não fossemos nós encontrar o pai do cantor no final da fila da bilheteira, sem nunca ter aproveitado a sua posição para qualquer fim), mas com um talento e coração nada minimalistas. Convertidas ao hip hop? Não. Convertidas ao respeito pelo artista? Definitivamente.
Fotografia: Ana Castro
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