Eles sabiam que era difícil passarem despercebidos. Afinal, dentro do grupo Derya Yıldırım & Grup Şimşek cabem cinco países: Graham Mushnik (Alemanha), Antonin Voyant (França), Andrea Piro (Itália), Greta Eacott (Reino Unido) e Derya Yıldırım (Turquia). Três homens, duas mulheres. A Europa numa banda, unida no fascínio pela música da sempiterno excluída Turquia.

Começámos a conversa pela União Europeia e o silêncio inicial fez temer o pior. Afinal, por onde começar? Mas só era preciso isso mesmo, começar. E a conversa acabaria por se estender durante 45 minutos.

Bacalhau e vinho sobre a mesa, portuguesa com certeza, e foi ouvi-los a discorrer sobre a Europa. Afinal, a banda teria dificuldade em existir sem a liberdade de movimentos que a União Europeia proporciona.

“A nossa geração cresceu com liberdade de movimentos. De facto, usamo-la, podemos ir para todo o lado na Europa, sem sequer pensar nisso”, reconhece Graham.

“Mas há tantos outros aspetos sobre a União Europeia mais ou menos criticáveis. As nossas fronteiras são muito abertas, mas então e as fronteiras com o resto do mundo, que fazemos mais e mais complicadas e difíceis?”, questiona.

Quatro deles conheceram-se em Londres, embora atualmente só Andrea ainda lá viva. Para eles, a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) é uma incógnita. “Ninguém sabe [o que vai acontecer]”, resume Greta. “Nem eles [os britânicos] sabem. A transição está a ser uma trapalhada”, diz Antonin. “Quem é pelo Brexit nesta mesa?”, provoca Graham. “É um tema complexo, queremos que o mundo seja um espaço livre”, vinca.

Derya introduz o tema da Turquia, país que os une na música que tocam. Andrea conta como, no bairro londrino com uma grande comunidade turca onde vive, muitos saíram para a rua com bandeiras, “felizes porque Erdogan ganhou” as eleições gerais de junho.

“Vivemos noutro país e votamos para as eleições na Turquia, a nossa antiga casa. Mas não vivemos lá e tornamos tudo pior nesse país, enquanto continuamos com a nossa vida feliz na Alemanha. Isso deixa-me doida”, desabafa a vocalista, com dupla nacionalidade.

É uma boa deixa para falar do caso Mesut Özil, o jogador de futebol de origem turca que abandonou a seleção alemã, dizendo-se vítima de racismo.

“Quando ganhamos, se ganhamos, é alemão; se perdemos, é o imigrante. Ele nasceu e cresceu na Alemanha”, recorda Derya. “Ele é turco. Eu sou turca também. Vivo a mesma situação. Tenho algum orgulho nele, na sua postura. Tive muito do mesmo na minha vida”, diz.

A tudo isto junta-se o crescimento do populismo e da extrema-direita, a que não é alheia a desinformação que hoje existe.

“As pessoas estão receosas e confusas, porque não percebem o que se passa à volta delas. Não têm informação sobre o que se passa, apenas jornais péssimos, que não explicam nada, (…) são lixo e inventam histórias (…) e acabam por provocar sentimentos como o nacionalismo e a necessidade de que é preciso proteger e controlar. E isso nem sequer está a acontecer. Não está a acontecer o que as pessoas pensam que está a acontecer, é só mentiras”, critica Greta, explicando que se tem distanciado “dessa cena das notícias”.

“É propaganda eficaz”, acrescenta Graham, adiantando que escolhe jornais que refletem sobre os acontecimentos. “Não leio logo sobre o que se passa. É preciso dar tempo, é uma forma de filtrar a informação. Não ficar em stress por não saber o que se passa no mundo logo quando se passa”, reflete. “Ler muito, mas não acreditar demasiado”, resume.

Como juntam vários países numa banda e ainda por cima com uma cantora alemã-turca, é frequente que lhes perguntem se têm motivações políticas na música que fazem.

“Não estamos a tentar [provar nada]. Só estamos a fazê-lo porque gostamos da música [turca]”, desvaloriza Antonin.

Mas Derya acha que faz política em palco: “Sou uma alemã-turca. E estou a cantar música turca. Mas sou da Alemanha. É uma afirmação. (…) Fazemos política em palco.”

Mesmo que não seja planeado, “não se pode ignorar” que a política acaba por se juntar à música.

“A forma como fazemos música e organizamos projetos musicais é indiretamente política e a favor de mudanças sociais”, reflete Graham.