O artista - que prefere manter a sua identidade no anonimato - deverá pintar, em maio, algumas paredes no 10.º bairro de Paris e, a 9 e 10 de junho, vai participar no festival de arte urbana Ourcq Living Colors, organizado pela associação Cultures Pas Sages e cujo diretor artístico é o artista urbano lusodescendente dAcRuZ.
No final de março, o artista do Porto vai lançar uma publicação sobre a "residência completa na rua" que fez em Paris, entre 12 de janeiro e 09 de fevereiro, e durante a qual deixou mais de 70 obras na cidade, entre murais de grande dimensão e intervenções mais pequenas.
"O meu trabalho centra-se maioritariamente no Porto e eu queria escolher uma cidade, fora do Porto, em que eu fosse com alguma regularidade mostrar o meu trabalho de forma a que o meu trabalho passe também a fazer parte da arte urbana dessa cidade. Escolhi Paris porque é uma cidade que eu gosto pela vida cultural e pela quantidade de interessados que existe neste tipo de arte", disse à Lusa o artista de 36 anos.
Esta foi a primeira vez que Hazul passou um mês inteiro a trabalhar em Paris, uma cidade onde já pintou várias vezes, inclusivamente no conhecido espaço de arte urbana Le Mur, em 2015.
Desta vez, o artista deixou mais de 70 obras na cidade: pinturas murais realizadas junto ao Canal de l'Ourcq, nos bairros de Butte-aux-Cailles, Bonne Nouvelle e na rua Notre-Dame-de-Nazareth; cerca de dez caixas de eletricidade pintadas no 13.º bairro, um dos quarteirões mais populares de arte urbana de Paris; e várias colagens que trouxe do Porto e que espalhou junto ao Canal Saint-Martin, perto do Centro Pompidou, no Marais e em Montmartre.
"O que eu queria era ter uma pegada maior, mostrar o meu trabalho de uma forma mais intensa. A ideia era ter este impacto de, num curto espaço de tempo, espalhar o meu trabalho por Paris", explicou, sublinhando que programou os espaços das pinturas com a ajuda de associações e amigos artistas.
Hazul ainda teve tempo para fazer alguns trabalhos em papel que levou para o Porto e que foram influenciados pelo que "estava lá a viver" e pelos museus e galerias de arte urbana que visitou em Paris.
Entre os favoritos estão o Museu do Louvre, pelas coleções de arte egípcia, helénica e islâmica, o Museu de Arte Moderna da Cidade de Paris, pelas pinturas dos modernistas do início do século XX, e o Centro Pompidou, pela coleção permanente de arte moderna, sem esquecer as galerias de arte urbana de Paris "que são muitas e que têm inaugurações quase semanalmente".
Todos os dias, Hazul publicava na sua conta de Instagram a fotografia de uma das obras que tinha pintado, nas quais estavam as suas habituais figuras femininas sem rosto, cristais, aves, vasos e menires, com formas ondulantes e arabescos e com a cor azul sempre bastante presente.
Pintar nas ruas de Paris tem "uma lógica completamente diferente” de pintar no Porto, onde Hazul costuma intervir "em prédios devolutos, em prédios abandonados, em locais que não estavam a ser utilizados", enquanto na capital francesa "não há tantos locais abandonados ou quase nenhuns".
"Paris tem uma arquitetura que permite intervir na rua não estando propriamente a pintar nos prédios e nas casas porque, basicamente, Paris tem muitas esquinas e muitas reentrâncias e muitas empenas dos prédios que, por norma, não são utilizadas para nada, são quase lapsos arquitetónicos", descreveu.
O artista aproveitou, ainda, para ir a Toulouse, no sul de França, onde participou numa exposição coletiva de ‘street art', intitulada "Miroirs Urbains" ["Espelhos Urbanos"], na Galeria Concha de Nazelle, e que esteve patente de 18 de janeiro a 03 de fevereiro.
A experiência de Paris é para repetir - e com mais regularidade - para que o seu trabalho "fique a fazer parte do que se vê aí nas ruas" porque "isto da arte urbana é um pouco efémero" e "a forma das coisas continuarem visíveis é continuar a fazer".
De 12 a 16 de abril, Hazul é um dos cerca de 30 artistas convidados para pintar murais em várias casas de uma vila à beira-mar, Hauteville-sur-Mer, na Normandia, no noroeste de França, num projeto das associações Le Mur e Azureva, no qual também foram convidados os artistas portugueses Mr. Dheo, Godmess e Parizone.
Hazul começou a pintar na rua em 1997, com 16 anos, em 2015, publicou o "Mapa Hazul", um roteiro com dezenas de murais que realizou na cidade do Porto e as suas obras podem ser vistas no âmbito do projeto StreetArtCEI, que apresenta, ‘online', cinco rotas de percursos culturais alternativos no Porto e Vila do Conde.
Em 2013, o artista viu apagado um dos seus murais pela brigada anti-graffiti criada pelo então presidente da Câmara, Rui Rio, algo que o jornal francês Libération classificou como "censura" num artigo intitulado "O sorriso amarelo do Porto face à arte urbana".
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