“São 14 pessoas negras dentro da negritude, dessa pluralidade da negritude, pessoas mais jovens, pessoas mais velhas, homens, mulheres, pessoas não binárias, pessoa trans, pessoas com deficiência”, contou o criador, em entrevista à Lusa.
“Serei/Afrodiaspórica”, produção do Alkantara com o DDD, tem entrada livre e vai decorrer sexta-feira e sábado, pelas 18h00, na Casa da Arquitetura, em Matosinhos.
O convite, para o público, é um de “perceber as dores, as delícias, as resistências e as vitórias dessa diáspora africana, no Brasil, também em Portugal e outras”, que foram sendo descobertas pela equipa de produção ao longo da construção do espetáculo.
“Não é uma ‘performance’ sobre religião, mas é uma ‘performance’ que invoca a religiosidade e a espiritualidade, mas, sobretudo, através das raízes que eu fui descobrindo nesse processo de descoberta da minha negritude, que é o candomblé, que foi uma das principais formas de resistência contra a escravidão e a colonização no Brasil e que faz parte desse processo também de resistência na diáspora”, afirmou.
Aline Carvalho, Celise Manuel, Cláudia Henriques, Geandry Péres, Heidy Luz, Lucas Reis, Melissa Rodrigues, Mina Velicastelo, Paula Luah, Peter Odeyale, Rafael Machado, Thais Guimarães, Vinicius Armstrong e Wura Moraes dão corpo a esta “caminhada que é mais do que um desfile ‘performance’”.
“As pessoas andam descalças, é uma caminhada ‘performance’ em que as pessoas estão com pé no chão. Um enraizado, um enraizamento do que tinha ficado antes”, disse.
Estas 14 pessoas em palco abrem caminho a uma reflexão sobre diferentes diásporas do continente africano, que “se encontram aqui no Porto”, cosendo “relações afetivas” de Dori Nigro a partir da tradição de criação de roupa feita à medida, um mote importante no espetáculo.
“É um projeto sobre caminhada, sobre relações, sobre identidades, pensando em identidades aqui no mais plural possível e como algo não fixo. E, retomando a questão do candomblé, também é uma forma de transformar, ou seja, também retomar esse Portugal como um espaço nosso”, afirmou.
Dori Nigro explicou que tentou ainda “trazer essa ancestralidade também em palco, em corpo”, porque “não tem como falar do presente, não tem como almejar o futuro, sem olhar para o passado”, convidando cada membro da plateia a pensar na sua ancestralidade.
Segundo o criador e educador natural de Pernambuco, Brasil, o projeto tem vindo a ser desenvolvido “desde sempre” e o artista usa os “ensinamentos” da avó acerca das “religiões de matriz africana” como ponto de partida.
Também a influência do pai marca a construção do espetáculo, uma vez que a ligação a alfaiates o incentivou a incluir esses profissionais na sua ideia.
Partindo da temática das caminhadas, a partir da experiência como modelo, levanta a questão da falta de representatividade negra nos desfiles de moda, bem como a eleição de um padrão único de corpo, algo que desejava contrariar com a nova criação, que quer “o mais diversa possível”.
“É uma ‘performance’ sobre caminhadas, as caminhadas que fazemos, as caminhadas que não fazemos, as caminhadas que gostaríamos de fazer, mas, sobretudo, também as caminhadas que outras pessoas fizeram para que a gente estivesse aqui”, reforçou.
Dori Nigro assume ainda que a experiência no teatro amador comunitário, que diz ter começado “no quintal de casa”, o moldou enquanto artista, por considerar que a arte faz mais sentido “quando ela tem um pé também assente numa questão de uma crítica social”.
“Serei/Afrodiaspórica” estreia-se na Casa da Arquitetura, em Matosinhos, pelas 18h00 de sexta-feira, com repetição à mesma hora no sábado.
O festival DDD decorre até domingo no Porto, em Vila Nova de Gaia e Matosinhos, com um total de 28 espetáculos apresentados desde o início, muitos deles em estreia nacional, entre obras de apresentação convencional e um programa, Corpo + Cidade, pensado para o espaço público e de entrada livre.
O DDD agrega mais de seis dezenas de artistas ou companhias, de nove países diferentes, com nomes como Faye Driscoll, Emmanuel Eggermont, Tânia Carvalho, Sofia Dias e Vítor Roriz e Gaya de Medeiros no programa.
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