A estreia desta versão do coreógrafo Rui Horta do clássico de Shakespeare "Romeu e Julieta" foi em abril deste ano, no Teatro Camões, em Lisboa, e é reposta agora em digressão, pela companhia.

A peça foi criada por Rui Horta na sequência de um convite da diretora da Companhia Nacional de Bailado (CNB), Luísa Taveira, e o coreógrafo ficou, na altura, surpreendido com a sugestão, porque não se vê como um coreógrafo de clássicos.

Numa entrevista à agência Lusa antes da estreia, Rui Horta comentou: "Sempre achei que os clássicos da dança, comparando com os do teatro e da música, são sempre menores, com todo o respeito pela dança clássica, que é a nossa matriz fundadora".

"As obras clássicas, em si, nunca me entusiasmaram", admitiu, acrescentando, no entanto, que "Romeu e Julieta" o tocou e que fez uma pesquisa aprofundada desta obra do dramaturgo inglês.

Ao aceitar o que considerou "um desafio", Rui Horta partiu, leal à história, mas através de uma visão de desconstrução da obra.

"Acho que há um grande equívoco em relação ao 'Romeu e Julieta'. Há uma visão excessivamente romântica. Não é uma história romântica, é extremamente violenta: um rapaz de 17 anos e uma rapariga de 13 apaixonam-se e, ao fim de três dias, suicidam-se. Pelo meio, morrem membros das famílias. É um choro constante", descreveu.

Na visão do coreógrafo, é no meio desta perda que se encontra a poética: "Embora esta paixão seja extremamente enaltecida no meio de um sofrimento gigantesco, aquilo que chega é o romantismo puro, que não é a ambiência da peça".

Na sua versão, Rui Horta quis transmitir ao público "uma sensação única" e a ideia de que "a paixão está muito próxima do ódio", com todos os seus excessos.

"Explorei uma relação muito marcial, um corpo de combate que se desconstrói ao longo da peça para uma emoção pura. É o triunfo das emoções, muito contraditórias", salientou nas declarações à Lusa em abril.

A coreografia, direção, espaço cénico e desenho de luz é de Rui Horta e a música de Bruno Pernadas, com figurinos de Ricardo Preto, enquanto a interpretação é de bailarinos da CNB e dos atores Pedro Gil e Carla Galvão.

Rui Horta começou a dançar aos 17 anos, nos cursos do Ballet Gulbenkian, depois foi viver para Nova Iorque, onde completou a formação e desenvolveu um percurso, como intérprete e professor.

Nos anos de 1990 viveu na Alemanha, onde dirigiu o Soap Dance Theatre Frankfurt e, em 2000, regressou a Portugal, tendo fundado O Espaço do Tempo, um centro multidisciplinar de residência e experimentação artística instalado no Convento da Saudação, em Montemor-o-Novo.