O livro de Jan Stocklassa sobre o homicídio de Olof Palme, em 1986, na capital sueca, tem como ponto de partida os "arquivos secretos" do romancista Stieg Larsson, autor da trilogia "Millenium" que morreu em 2002, de problemas cardíacos.

Stocklassa teve acesso aos arquivos de Stieg Larssen através da companheira do escritor, Eva Gabrielsson, e investiga sobretudo a provável operação ordenada pelo regime do 'apartheid' sul-africano contra o antigo primeiro-ministro sueco.

De acordo com a teoria exposta por Stocklassa, Olof Palme preparava-se para travar o negócio de armamento entre a África do Sul e o Irão e que envolvia empresários suecos.

O movimento de armas e pólvora da África do Sul estava, segundo o livro de Stocklassa, enquadrado no esquema Irão/Contras montado pelo norte-americano William Casey, diretor da CIA durante a presidência de Ronald Reagan.

"Os sul-africanos tinham razões para censurar Palme, primeiro devido ao seu envolvimento contra o 'apartheid' e também, se se tivesse verificado, pelas suas tentativas para bloquear o negócio de armas", escreve o autor.

Neste contexto, o espião sul-africano Craig Williamson terá organizado o atentado contra Olof Palme utilizando "grupos de assistência" com base em Estocolmo, nomeadamente através de Anders Larsson e da "rede" do "intermediário" sueco Bertin Wedin que penetrava os grupos de extremistas.

"A teoria determina o grupo de planeamento, comando operacional e o grupo de assistência operacional, em que se enquadra Luís Antunes, representante na Suécia da guerrilha angolana UNITA, contacto de Anders Larsson", escreve Stocklassa.

O sul africano Craig Williamson, que entre outros coordenou o ataque contra Joe Slovo do Congresso Nacional Africano (ANC), em Maputo, Moçambique, nega em entrevista ao autor do livro a participação no assassinato de Olof Palme.

"Acusaram-me de muitas coisas. Disseram que estava por trás do homicídio de Palme, da queda do avião de Samora Machel, do atentado de Lockerbie. Nada disso faz sentido. Nunca estive envolvido no assassínio de Olof Palme", disse Crag Williamson a Jan Stocklassa.

No livro, o autor traça igualmente o perfil de Stieg Larssen, como ilustrador na agência de notícias sueca TT, e depois como fundador do jornal onde denunciava e investigava as atividades dos movimentos de extrema-direita dos países nórdicos, referindo as relações da UNITA sobretudo com Anderss Larsson figura central na "teia formada pela extrema-direita sueca".

"UNITA: Movimento de guerrilha angolano apoiado pelos Estados Unidos, tem um gabinete em Estocolmo e ligações à CIA. O seu representante, Luís Antunes, surge em várias das organizações anteriormente citadas. Anders Larsson procurou aí uma posição depois de ter abandonado o Comité do Báltico", refere a longa lista elaborada por Stieg Larsson sobre organizações e individualidades com ligações à extrema-direita.

As listas "arquivadas em duas caixas de cartão" por Stieg Larsson são acompanhadas de descrições sucintas: uma para pessoas, a segunda para organizações, a terceira com endereços de Estocolmo.

Os documentos, notas e artigos de jornal arquivados por Stieg Larsson são datados do final da Guerra Fria e da Guerra Civil em Angola, sendo que Jan Stocklassa, em concreto, sobre o antigo representante da UNITA em Estocolmo, não confronta a atual direção do partido angolano.

Em entrevista à Lusa, o autor admite contactar a UNITA no contexto de um futuro livro sobre o mesmo tema.

As barreiras de silêncio, as investigações falhadas, as negações e as metáforas são referidas no livro em que o autor ao reproduzir a entrevista ao antigo mercenário Wedin destaca também a provável relação (não provada) entre o assassinato de Olof Palme e o atentado líbio que derrubou o voo Pan Am 103 sobre a Escócia, em Lockerbie, em 1988, porque a bordo se encontrava Brent Carlsson, um colaborador do primeiro-ministro, que "sabia tudo" sobre o crime de Estocolmo.

Segundo Wedin, "o alvo do ataque terrorista teria sido Brent Carlsson e um dos motivos era o facto de ele saber quem tinha assassinado Palme e porquê", refere.

O livro "Stieg Larsson - Os Arquivos secretos e a sua aluciante caça ao assassino de Olof Palm" de Jan Stocklassa (editora Planeta, 468 páginas) encontra-se nas livrarias a partir de terça-feira.

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