A sexta edição arrancou na terça-feira com um espetáculo que juntou em palco alunos e professores da Escola de Música de Rabo de Peixe, utentes da Associação de Surdos da Ilha de São Miguel e músicos locais, com a coordenação e participação do projeto de intervenção artística Ondamarela.

O espetáculo, de entrada livre, encheu o Teatro Micaelense para uma performance que pedia ao público para tirar “a mensagem da garrafa” e mostrou que “nenhum homem é uma ilha”, o lema que foi gritado e sussurrado por todos.

Em declarações à agência Lusa, Ricardo Baptista, cofundador do projeto Ondamarela, já tinha explicado que a música foi “o ponto de partida” para o “imaginário” criado para a abertura do festival, “porque a música é universal, mesmo para surdos”, mas também a linguagem gestual e a poesia assumiram um papel fundamental no espetáculo.

A ideia era que este espetáculo deixasse “uma mensagem forte” e que tentasse “passar a ideia de que o Tremor é um grito, uma mensagem, que a ilha deixa numa garrafa e atira ao Atlântico”.

Já antes do concerto, o codiretor do festival, António Pedro Lopes, tinha passado algumas máximas do festival, sendo a primeira delas todas “dar espaço ao outro”. A ideia concretiza-se de uma forma prática, “dando boleia ou deixando os mais pequenos irem para a frente nos concertos”, mas também através de um tema que rege o festival já há quatro anos e que promove a inclusão.

“The future is female” (“o futuro é feminino”, em tradução livre do inglês) é o título escolhido este ano para um lema que já é seguido há quatro anos e que se materializa em colaboração com a Embaixada dos Estados Unidos em Lisboa e a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.

À Lusa, António Pedro Lopes explicou que, para o festival, a diversidade “é um traço fundamental, não só nas escolhas artísticas, como nas escolhas identitárias, como no que interessa mostrar, partilhar, dar a ver e celebrar, que é a diversidade”.

“Seja ela geográfica, seja ela identitária, sejam homens, sejam mulheres, sejam surdos, sejam ouvintes, sejam saxofonistas que fazem música transcendental ou sejam surdos que ouvem com o corpo todo e ouvem a música que fazem a partir do chão”, acrescentou.

Sobre o tema “The future is female”, esclareceu que “a ideia é celebrar a igualdade de género, além dos esquemas binários, de ser homem ou mulher, até mesmo da forma como as mulheres ou artistas que se pensam ou se tomam no feminino utilizam o seu trabalho para veicular outra ideia de corpo, outra ideia de organização do mundo que não seja cingida a isso”.

“É também bonito ver como é que ao longo de quatro anos a colocar o foco aí, a meter o dedo na ferida, a coisa tem também estabilizado e o nosso cartaz já é um cartaz equilibrado, porque se quis lançar esta conversa, porque se achou importante, que de facto havia mais homens privilegiados no espaço destes cartazes e isso não faz sentido nenhum”, prosseguiu.

O músico Colin Stetson encheu o auditório Luís de Camões, em Ponta Delgada, perante um público que procurava visibilidade da forma que podia, subindo degraus ou empoleirando-se em pequenas plataformas de madeira na base das colunas que rodeiam o claustro da Igreja da Graça, onde fica o auditório que é agora utilizado pelo Conservatório Regional de Ponta Delgada.

O festival prossegue, até sábado, espalhando-se pela ilha de São Miguel durante os próximos dias, e dando também um salto a Santa Maria, na sexta-feira.

Ao todo, serão mais de 50 os artistas que ocuparão "as principais salas de Ponta Delgada e Ribeira Grande, assim como espaços informais, comércio local e pontos de interesse cultural", com nomes como Jacco Gardner, Bulimundo, Grails, Haley Heynderickx, Lafawndah, Hailu Mergia, Lula Pena e Pop Dell'Arte.