O Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI) recebe hoje e sábado, no Porto, um “minifestival” de peças curtas, “Teatro Bombón Gesell”, com quatro peças produzidas por artistas de vários países.
O projeto argentino nasceu em 2014 num casarão e ‘migrou’ para uma rua em Buenos Aires, até que a pandemia de COVID-19 obrigou a desenvolver o programa, pensado como “uma provocação cénica que reúne artistas, pensadores e curadores”, através dos meios virtuais.
Arrancou em 2021, e depois, já em 2022, a publicação de um livro digital e, este ano, de residências presenciais e estreia na Argentina, chegando a Portugal em estreia sexta-feira e sábado.
O resultado são 10 peças curtas, de 30 minutos, uma delas criada pelo ator luso-moçambicano Marco Mendonça, agregando artistas do espaço iberoamericano, nesta edição dedicada a refletir sobre violência e justiça na Iberoamérica.
Na Mala Voadora, no Porto, serão apresentadas, a partir das 15h00, quatro peças: “Suas Canções Favoritas”, “Os Titãs”, “Mutismo Seletivo” e “Está quase na hora de voltares a ser tu”.
Pelo meio, o projeto inclui palestras com investigadores e conferências dramatizadas com os artistas dos espetáculos, numa lógica informal em que o público escolhe o que quer fazer: pode ver as quatro peças, só uma, ou combinar várias das propostas entre si, no que o diretor artístico do FITEI, Gonçalo Amorim, chama “um minifestival dentro do festival”.
“Se quer falar de Iberoamérica, é preciso falar de colonialismo. É o que funda a Iberoamérica”, diz à Lusa Monina Bonelli, uma das curadoras do Teatro Bombón e encenadora de várias das obras.
Sol Salinas, a outra curadora deste projeto argentino, considera que este lado histórico “está apagado”.
“A minha filha estava a começar a aprender línguas na escola. A professora falou do castelhano, que tínhamos pedido emprestado de Espanha. Ela levanta a mão e diz ‘não pedimos emprestado, vieram cá e obrigaram-nos a falar isso. Havia outras línguas’”, exemplifica.
“No Teatro Bombón, o encontro é parte da proposta desde 2014. Pensamos tanto no processo criativo como no público. Que tenham um lugar e um motivo para esse encontro. Oitenta por cento das pessoas na Argentina que vão ao teatro, vão comer e falar da peça”, lembra.
A ideia fluida para o espectador, que pode assistir às peças que quiser, só conviver e conversar sobre os espetáculos, assistir a palestras ou até, no sábado, ver um projeto de crítica performativa de oito horas, de Ruy Filho e Pat Cividanes, é central.
Em cena estarão assuntos como a violência na infância, o racismo, o colonialismo e a violência inerente ao processo teatral. O projeto convidou Sónia Rodrigues, presidente da Associação AjudAjudar, e Sara Neves, do SOS Racismo, para dar palestras entre espetáculos.
Criada por Marco Mendonça, “Está quase na hora de voltares a ser tu” tem interpretação de Lisa Reis.
Se a peça nacional coloca uma atriz dentro de uma câmara de interrogatório enquanto escreve, dialogando com o escritor e diretor do espetáculo, “Suas canções favoritas”, do peruano Alejandro Clavier, é “um exercício de dramaturgia” que se transforma “num melodrama erótico gay repleto de canções”.
Todas as peças têm, no Porto, um elenco com atores locais.
“Mutismo seletivo”, de Bosco Cayo (Chile), apresenta a “universidade numa prisão”, com um estudante a observar o professor através do dispositivo gesell.
“Um rapaz e um cão encontram-se numa câmara Gesell e criam um vínculo de intimidade terna enquanto esperam pela chegada de uma especialista. Não veremos o rapaz nem o cão. Em cena, dois adultos constroem um relato de música e palavra, enquanto três meninos brincam com slogans que só eles ouvem”, pode ler-se na sinopse de “Os titãs”, da argentina Paola Traczuk, dedicado à infância.
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